Meu bem, meus bens. Por Maria de Lourdes C. Romeiro

MEU BEM, MEUS BENS

MARIA DE LOURDES C. ROMEIRO

… Gugu era pobre e venceu por seu talento; e, como diz a canção, venceu do seu jeito. Queria filhos, teve três; queria retribuir à mãe os sacrifícios que fez para criá-lo, educá-lo, dar-lhe bons exemplos – e basta conversar com dona Maria para saber que ele teve êxito, que deu a ela só motivos de orgulho…

Um grande advogado de família, o dr. Paulo Lins e Silva, costumava dizer que os relacionamentos começavam com um “meu bem” e terminavam com a luta por “meus bens”. Por dinheiro, propriedades, luxo, muita gente difama aqueles que foram seus amigos, pisa em cima da família que dizia considerar como sua, só pensa, como as hienas, em circular em torno do corpo até que consiga chegar perto e arrancar um naco de dinheiro de outros e passe a chamá-lo de seu.

Lembrem-se de Gugu: simpático, gentil, alegre, dedicado a divertir seus telespectadores. Ia mais longe, discretamente (como se espera de uma pessoa de boa educação) e, em muitos casos, fazia o bem diretamente àqueles mais necessitados. Gugu não falava disso, seus companheiros de trabalho silenciavam. Com a trágica surpresa da morte de Gugu, muita gente grata teve a oportunidade de contar sua história, sempre com um ponto comum: em determinado momento, graças a Gugu, o destino se tornara mais benéfico.

…sua morte foi recebida com tristeza geral. Até que se soube que ele deixara fortuna substancial, algo que, conforme se diz, chega à casa do bilhão de reais. Foi o suficiente: de uma hora para outra, iniciou-se a luta pelos despojos – mesmo desafiando a expressa vontade de Gugu, redigida em testamento…

Gugu era um astro do entretenimento – e, para que se tenha uma ideia de como isso é difícil, faça uma lista de grandes apresentadores. São poucos, e ele está em todas as listas. Despertou o interesse da Rede Globo, que foi buscá-lo em sua emissora de origem, o SBT; despertou o instinto competitivo de Sílvio Santos, que foi ao Rio conversar com Roberto Marinho e trouxe Gugu de volta. Quem mais, além de Gugu, era capaz de completar o grande Sílvio Santos, e de competir com o poderio da Globo e do também grande Fausto Silva?

Gugu era pobre e venceu por seu talento; e, como diz a canção, venceu do seu jeito. Queria filhos, teve três; queria retribuir à mãe os sacrifícios que fez para criá-lo, educá-lo, dar-lhe bons exemplos – e basta conversar com dona Maria para saber que ele teve êxito, que deu a ela só motivos de orgulho.

Todos gostavam de Gugu. Montou uma boa empresa, que sempre agiu dentro da lei. Era ídolo não só de seus fãs, mas também de seus funcionários.

Todos gostavam de Gugu, tanto que a notícia de sua morte foi recebida com tristeza geral. Até que se soube que ele deixara fortuna substancial, algo que, conforme se diz, chega à casa do bilhão de reais. Foi o suficiente: de uma hora para outra, iniciou-se a luta pelos despojos – mesmo desafiando a expressa vontade de Gugu, redigida em testamento. Os vários pretendentes passaram a falar mal daquele a quem antes elogiavam, e partiram sem hesitação para enxovalhá-lo, atribuindo-lhe problemas que antes não enxergavam. Antigos acordos que beneficiaram pessoas próximas de Gugu passaram, de repente, a ser meros pedaços de papel a ser rasgados. Os filhos do grande amigo? A guerra já se estendeu para prejudicar o primogênito, um rapaz de boa índole, cujos defeitos só começaram a ser citados para tirá-lo do caminho da herança. Hienas, com presas pingando sangue, disputam entre si para ver quem era seu pior amigo.

Triste: como dizia o advogado, os bens são mais fortes e de longe superam o bem que ele representou.

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Maria de Lourdes C. Romeiro – Colaboradora

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