O gol, a comemoração e o cartão vermelho. Blog do Mário Marinho
O GOL, A COMEMORAÇÃO E O CARTÃO VERMELHO
BLOG DO MÁRIO MARINHO
Aconteceu novamente: um jovem jogador é expulso de campo após comemoração de um gol.
No último dia 25 de janeiro, na decisão da Copa São Paulo de futebol júnior, já havia acontecido: o zagueiro gremista Alison Calegari foi expulso após comemorar o gol subindo no alambrado do Pacaembu.
Nesse domingo, foi a vez do atacante corintiano Janderson (foto ao alto), 20 anos, que após marcar seu gol contra o Santos, subiu as escadinhas que ligam o gramado à torcida, para abraçar e comemorar com os corintianos o feito.
Daí, começam as discussões. É um exagero! Gritam alguns. Um absurdo censurar a comemoração do gol, vociferam outros.
No caso do zagueiro gaúcho, eu estava assistindo à transmissão da Globo. Os comentaristas Casagrande e Caio Ribeiro se indignaram.
– É um menino que está comemorando o gol! Explodiu Casagrande. E o fato de ele subir ao alambrado não trouxe consequência alguma, insistiu o corintiano.
Caio Ribeiro, mais comedido, não chegou a se indignar, mas colocou-se totalmente contra a expulsão do garoto.
Nas duas expulsões, o roteiro foi o mesmo: ambos receberam o cartão amarelo no decorrer do jogo. Depois, por exagerarem na comemoração do gol, receberam outro cartão amarelo e os dois, somados, equivalem a um vermelho.
Não há novidade nenhuma: é a lei, é a determinação que assim deve ser.
Quem é contra, pode se insurgir contra a determinação, mas, enquanto ela estiver valendo, deve ser obedecida.
E qual o motivo da determinação? É só para atrapalhar a comemoração do gol? Só para contrariar?
Claro que não. Trata-se de segurança.
Um estádio de futebol é um perfeito receptáculo de uma bomba prestes a explodir.
As torcidas se tratam como inimigas, em estado latente de guerra, prontas para pegar em armas, armas letais, se possível.
O conforto é mínimo, o que contribui para o estresse e a segurança é relativa.
Em 1969, eu estava no Morumbi cobrindo um jogo São Paulo x Corinthians.
Ao final, quando me dirigia aos vestiários, vi um corre-corre, gritos, pânico.
O que aconteceu?
Quando os torcedores saiam da arquibancada e se encontravam no anel que leva à saída, houve um estouro (disseram mais tarde ter sido um raio) e foi o bastante para que a multidão se descontrolasse.
Essa multidão acabou por forçar e derrubar o muro externo do anel. Vários torcedores caíram de uma altura de quatro metros e se machucaram. Um deles teve mais azar: recebeu na cabeça um imenso bloco de concreto e morreu.
Em 1995, o Corinthians fazia um jogo treino contra o Taubaté, na cidade de Taubaté.
O lateral direito Vitor foi muito aplaudido pelos torcedores. Ao final do jogo, quis retribuir o carinho e se dirigiu à lateral do campo onde estavam os torcedores corintianos. Tirou a camisa e se preparou para jogá-la de presente. Os torcedores se agitaram para tentar pegar a camisa e o muro de contenção desabou, jogando dezenas de torcedores no fosso. A queda foi de uns dois metros, sem ferimentos graves. Mas, houve feridos.
Vasco e São Caetano faziam a final da Copa João Havelange (na verdade, campeonato Brasileiro), em 2000, quando uma briga entre torcedores dos dois times provocou um corre-corre e a queda do alambrado do estádio de São Januário. Não houve a chamada vítima fatal, mas 175 torcedores ficaram feridos.
Em 2002, o dérbi campineiro terminou com torcedores feridos. Antes de começar o jogo, portanto, com a torcida ainda em paz, parte do alambrado do estádio do Guarani, o Brinco de Ouro, desabou e torcedores despencaram de uma altura de quatro metros.
O Maracanã, templo do futebol brasileiro, foi palco da maior tragédia em estádios.
Era o ano de 1992, Flamengo e Botafogo disputavam a final do Brasileirão. Torcedores do Flamengo vibravam apoiados a uma grade de proteção da arquibancada, quando ela cedeu. Centenas de torcedores caíram e o saldo foi triste: cerca de 90 feridos e 3 mortos.
No dia 8 e março de 2009, o Corinthians enfrentava o Palmeiras, jogo válido pela 12ª rodada do campeonato paulista, jogo disputado na cidade de Presidente Prudente.
O timão estava invicto e Ronaldo, o Fenômeno, recentemente contratado, fazia seu segundo jogo com a camisa alvinegra.
O Palmeiras vencia por 1 a 0 quando, aos 47 minutos do segundo tempo, e Ronaldo fez o gol de empate, de cabeça, aliás, um gol pouco frequente na sua brilhante carreira.
Foi uma loucura.
O atacante correu para o alambrado para comemorar junto da torcida. Escalou o alambrado, no que foi acompanhado por alguns companheiros de um lado e torcedores alucinados do outro, veja a foto.
O alambrado veio ao chão e, por um desses insondáveis desígnios de Deus, não houve vítimas.
Esses são apenas alguns dos exemplos de acidentes que podem acontecer no futebol.
A vontade do torcedor de comemorar junto da torcida, aliada à vontade dos torcedores de abraçar e homenagear o seu ídolo, pode provocar muitos, muitos acidentes.
Por isso, não entendo quando esportistas e profissionais do esporte reclamam da determinação de coibir o exagero na comemoração dos gols.
Está certo que o gol é o grande momento do futebol, o mais esperado, o mais emocionante – mas, pode ser também o mais perigoso.
Veja os gols do Fantástico
https://youtu.be/5c-dHf0n1_o
—————————————————————————————–
Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
Sr. Mário: sensatez, acima de tudo. Parabéns pelo seu BRILHANTE comentário a respeito desse assunto!!! (alguns comentaristas se insurgem contra a expulsão depois querem cobrar lisura na política…)