O lado negro do esporte. Blog do Mário Marinho
O LADO NEGRO DO ESPORTE
BLOG DO MÁRIO MARINHO
Desde que Guga foi o número um do mundo, em 2000, o Brasil nunca mais teve um tenista entre os 20 primeiros do ranking da ATP.
Os que mais se aproximaram dessa posição foram Thomaz Bellucci, 21º colocado, em 2010. Antes, Tivemos Thomaz Koch, 24º, em 1974; Fernando Melligeni, 25º, em 1999; Luiz Mattar, 29º, em 1989 – para ficar entre os cinco primeiros.
Entre as mulheres, a mais bem colocada no ranking foi Niege dias, 32º em 1988; Teliana Pereira chegou a 43º, em 2015; Patrícia Medrado, em 44º, em 1982.
A campeoníssima Maria Esther Bueno – foram 89 títulos no total e 19 somente de Grand Slams – não está no ranking, simplesmente porque ele não existia na época da nossa maravilhosa tenista.
Nos anos 60-70, nosso tênis teve fama internacional com a dupla Thomaz Koch-Edson Mandarino.
Nos anos 80, o Brasil foi sede de uma série de torneios juvenis com jogos no Guarujá, Santos, Santos, São José dos Campos e São José do Rio Preto no Estado de São Paulo, além de Blumenau, Florianópolis, Gaspar e Itajaí, em Santa Catarina.
Nessa época, eu era presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo) e muitos desses torneios foram lançados em nossa sede, na avenida Paulista.
Lembro-me que os dirigentes diziam que o Brasil era o segundo País do mundo em número de torneios (repito: em números, não em valores).
Na maioria, competições juvenis, mas tinha um – profissional – que se sobressaía: era o ATP de Itaparica, torneio que distribuía US$ 500 mil em prêmios.
Em 1987, eu estava em Itaparica, assisti ao ATP e o vencedor, que fez a final com o brasileiro Luiz Mattar, foi um garoto de 17 anos, chamado André Agassi.
Em 2016, fui ao Esporte Clube Pinheiros-SP, assistir a alguns jogos do Open Brasil de Tênis.
Acabei participando de alguns bate-bolas com outros jornalistas e tenistas.
Em um deles, troquei bola com um tenista brasileiro chamado João Soares, e apelidado de Feijão.
Olhei para ele com respeito e admiração. Um ano antes, em 2015, Feijão propiciou incrível façanha que o levou ao Guiness, o Livro dos Recordes.
Defendendo o Brasil, contra o argentino Leonardo Mayer, pela Taça Davis, Feijão resistiu durante 6 horas e 42 minutos, no jogo mais longo da história da Davis.
Para se ter uma ideia do que é esse período de tempo, o jogo foi num sábado. Eu assisti o começo em casa e fiquei frente à tv por, mais ou menos, uma hora. Sai de casa, fui para o Continental Clube jogar tênis.
Joguei o quanto quis (claro, com vitórias).
Terminada a sessão de tênis, fui para o bar do Giba junto com amigos onde bebemos cerveja o quanto resistimos.
Voltei para casa e ainda fiquei frente à TV para assistir ao incrível jogo que não acabava. No final, Feijão perdeu por 3 sets a 2 (7-6 [7-4], 7-6 [7-5], 5-7, 5-7 e 15-13).
Lembrei-me de tudo isso e, naquele dia, no Pinheiros, senti-me ao lado de um herói.
Pois bem, na semana passada, o meu herói foi notícia na mídia, mas, não como herói.
Veja:
“O tenista brasileiro João Souza, conhecido como Feijão, que chegou a ser 69º do ranking mundial, foi “suspenso por toda a vida” e condenado a pagar uma multa de US$ 200.000 (cerca de R$ 836 mil) por fraudar partidas e outros delitos de corrupção, anunciou neste sábado a Unidade de Integridade do Tênis.”
A Unidade de Integridade de Tênis foi criada em 2009 pela a ATP (Associação dos Tenistas Profissionais, que cuida das competições masculinas), em conjunto com a WTA (Women’s Tennis Association que cuida das competições femininas) e dos organizadores dos Grand Slams para combater a corrupção no tênis que se proliferou na última década, na medida em que se proliferaram casas de apostassem sites esportivos pelo mundo a fora.
Segundo a denúncia, “João Olavo Soares de Souza foi suspenso por toda a vida e terá que pagar uma multa de US$ 200.000 depois de ser considerado culpado de manipulação de várias partidas e outros atos de corrupção”, afirmou a entidade.
A investigação concluiu que o brasileiro manipulou ou influenciou os resultados de partidas dos torneios ATP Challenger e ITF Futures no Brasil, México, Estados Unidos e República Tcheca entre 2015 e 2019, de acordo com esta unidade anticorrupção.
Ruim para o tênis brasileiro; ruim para o Brasil.
A corrupção no tênis, um esporte de alto nível social, se dá principalmente nos torneios de premiação baixa.
São torneios espalhados pelo mundo e que dão premiação total de cerca de 15 mil dólares.
O tenista jovem que está começando e ainda não tem patrocínio, sofre para conseguir seus primeiros pontos.
Se vencer um torneio de US$ 15 mil, ou seja: vencer todos os jogos, ganhará um prêmio de cerca de US$ 2 mil.
Se vence apenas um jogo, o primeiro, sua premiação ficará em torno 150 dólares, o que mal dá para pagar as despesas do dia.
No final dos anos 1980, fui assessor de imprensa da Alpargatas que patrocinava alguns tenistas. Entre eles, Cássio Motta e Niege Dias que já eram ranqueados.
Nessa época, conheci muitos tenistas que começavam a carreira na cara e na coragem. Procurei ajudar a alguns deles, dando publicidade aos seus jogos.
Eles elaboravam um calendário meticuloso para pegar esses pequenos torneios em sequência.
A coisa funcionava mais ou menos assim:
Compravam passagem para Madri, onde disputariam o primeiro torneio em uma semana. Lá, se hospedavam em casa de outros tenistas, de amigos ou de familiares.
Na semana seguinte, de ônibus ou trem, se mandavam para Barcelona onde disputavam outro torneio. Na outra semana, viagem para Monte Carlo. Dali, para Gênova, na Itália, Lausanne, Suiça, e por aí seguiam a peregrinação.
Estes jogadores ficavam mais expostos à corrupção.
É uma vida difícil.
Existem cerca de quatro mil tenistas profissionais atualmente. Porém, somente os 100 primeiros ganham uma boa grana e têm possibilidade de se tornarem milionários.
O argentino Martin Vassallo Arguello é profissional desde 1999 e jamais venceu um torneio de simples, em nível ATP. Em 10 anos de carreira, passou a maior parte do tempo no Top 200 e, desde julho de 2006, se manteve entre os 120 melhores tenistas do mundo. Apesar de só ter alcançado o Top 50 pela primeira vez no ano passado, diz que já ganhou mais de um milhão de dólares, apenas em premiação de competições.
“É muito difícil, mas é muito motivador, porque é um esporte que depende muito de cada um, da força de cada um. E é um esporte que traz satisfação, alegria, dinheiro, além dos lugares que conhecemos“, conta o tenista de 29 anos.
Aos 30 anos, o gaúcho Marcos Daniel acredita que os 100 primeiros do ranking conseguem se manter, mas que só os Top 60 estão “tranquilos”:
“Os Top 100 têm um dinheiro bom garantido nos Grand Slams e ATPs. Isso dá uma gordura para queimar, porém, sem patrocinador, você não dá conta do circuito, pois os gastos são muito maiores do que as pessoas podem imaginar. O panorama muda se você é um cara com ranking sólido abaixo de 60 do mundo“.
Mas, a verdade é que, bem ou mal, os esportistas conseguem vencer – não só no tênis. E não só no tênis existem as dificuldades e as tentações em procurar atalhos nada recomendáveis.
Foi o que aconteceu com o nosso herói feijão.
Bola
rolando
Foi bem mais ou menos o primeiro clássico do campeonato paulista.
Ou por começo de temporada, ou pelo calor ou pelo respeito em demasia do adversário, Palmeiras e São Paulo fizeram um jogo muito longe daquilo que podem produzir pelo elenco que possuem. No final, o 0 a 0 foi justo.
Deu Inter
na Copinha de São Paulo
O Grenal que decidiu a taça São Paulo de Futebol Júnior, a Copinha, foi show de bola.
Os dois times fizeram valer a tradição de muita rivalidade entre Grêmio e Internacional e procuraram a vitória o tempo todo.
Deu Internacional nos pênaltis. Resultado justo. O Colorado do jornalista Belmiro Sauthier foi melhor. Tipo Nota 9 contra Nota 8. Foi na conta.
Na transmissão da Globo, os comentaristas Casagrande e Caio Ribeiro se mostraram indignados com a expulsão de um jogador do Grêmio que, para comemorar o gol de seu time, subiu no alambrado do Pacaembu.
Isso é proibido pela legislação do futebol brasileiro. Por isso, recebeu cartão amarelo.
Ocorre que ele já tinha outro cartão no jogo. A soma de amarelo com amarelo dá vermelho.
Segundo os dois comentaristas, de quem eu gosto, foi um exagero porque se tratava de uma competição de jovens e era a final.
Ainda justificaram que a atitude do gremista não trouxe consequência alguma.
Não concordo com os dois.
A lei não diferencia se os jogadores são jovens ou se o jogo é de decisão.
Aliás, o ex-juiz Paulo César Oliveira teve opinião idêntica à minha.
A disciplina, Casão e Caio, começa lá de baixo.
Veja os gols do Fantástico
https://youtu.be/2OgDnWPmaGA
Detalhe: o estilista da Globo conseguiu deixar a Maju irreconhecível…
—————————————————————————————–
Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
MMarinho. Igual a você, também joguei tênis por uns trinta anos , no mesmo clube, e certamente juntos ou como adversários. Ganhamos ou perdemos infinitas vezes e muitas cervejas depois . Interessante e rico histórico que você produziu. Muito triste um país com mais de 200 milhões de habitantes e hoje não temos tenistas para receber nossa torcida quando já tivemos ídolos fantásticos e não houve aproveitamento do espaço criado.