O ovo do Colombo e o futebol. Blog do Mário Marinho
O OVO DO COLOMBO E O FUTEBOL
BLOG DO MÁRIO MARINHO
Na manhã de 18 de fevereiro de 1894 o jovem Charles Muller retornou ao Brasil, vindo de Londres, trazendo em sua bagagem duas bolas usadas, um par de chuteiras, um livro sobre as regras daquele exótico esporte e uniformes usados.
Estava nascendo o futebol no Brasil.
De lá para cá, o esporte evoluiu muito. Tornou-se profissional, ganhou o mundo e o Brasil até se tornou o melhor do mundo, título conquistado por cinco vezes.
Passados mais de cem anos, o futebol descobre o ovo de Colombo: o torcedor.
Foi necessário todo esse tempo para que os dirigentes percebessem que o futebol é voltado para o torcedor e, em seu nome, deve ser administrado.
Durante todo esse tempo, o torcedor foi maltratado, frequentando campos de jogo sem a menor segurança, sem o menor conforto.
No princípio, eram arquibancadas de madeira que depois evoluíram para desconfortáveis arquibancadas de cimento, onde o torcedor, exposto a sol e chuva, frio e calor, ralava para acompanhar o seu time, a sua paixão.
A alimentação oferecida era de origem incerta e não sabida. E cumprindo mal e mal os mínimos preceitos de higiene.
Veio a Copa de 2014 e, com ela, a construção de arenas.
Aí, sim, o torcedor passou a ser tratado com mais carinho, com mais atenção.
Mas, ainda demorou um pouco para que os lentos dirigentes percebessem que os estádios não são apenas para ser usados em dias de jogos.
E agora, aleluia! os estádios são abertos quase que todos os dias, para que torcedores possam visitá-los, em visitas programadas, agendadas, acompanhadas e pagas – até gerando uma rendinha extra.
Demorou.
No final dos anos 1990, acompanhei a Portuguesa de Desportos, nossa amada Lusa, para um jogo contra o grande Real Madri. O jogo fez parte das negociações entre os clubes para a transferência do atacante Rodrigo Fabri.
Conheci, então, o memorial do Real Madri.
Fiquei extasiado com tudo o que vi. E, mais importante, ao sair do memorial, o visitante passava, obrigatoriamente, pela loja de produtos licenciados pelo Clube. Ninguém saía da loja sem, pelo menos, meia dúzia de lembranças.
Quase na mesma época, o Corinthians inaugurou o seu memorial. Alberto Dualibi era o presidente do Clube.
Convidado por ele, fui visitar o memorial.
E constatei a quase indescritível emoção do torcedor ao ouvir seu hino em alto e bom som, a ver imagens históricas, conquistas inesquecíveis.
Não era passagem obrigatória, como no Santiago Bernabeu do Real Madri, mas ao sair da visita, o torcedor dava de cara com uma loja de produtos licenciados.
Nesse último domingo, li reportagem no Estadão, mostrando que, enfim, nossos estádios estão abrindo seus espaços para as chamadas visitas guiadas, feitas com muito profissionalismo.
A Arena Corinthians, por exemplo, tem média mensal de 4.200 visitantes.
Ainda é pouco, se levarmos em conta o potencial da torcida corintiana. Mas é um bom começo.
Allianz Parque, a arena do Palmeiras, começou um pouco mais cedo esse tipo de trabalho e já recebe cerca de 7 mil torcedores por mês.
No Morumbi, o São Paulo juntou visita guiada com visita ao memorial onde festeja e exibe suas conquistas. Muito bom.
Na média, os Clubes estão arrecadando entre 20 e 30 mil reais mensais com as visitas.
Quantia pequena no valor, mas de imenso e imensurável valor agregado: o que interessa, não é o dinheiro, mas, sim, a fidelização do torcedor, principalmente o torcedor mirim, o garoto e a garota que estão iniciando sua vida de torcedor.
Esse é o objetivo.
Eu me tornei torcedor do América, tão mineiro quanto eu, porque meu saudoso pai me levava ao velho estádio Otacílio Negrão de Lima para assistir aos jogos.
Não havia esse negócio de visita guiadas, conhecer os vestiários, os corredores internos do estádio – nada disso. Era só o jogo de futebol.
Durante décadas foi assim.
Felizmente, as coisas começaram a mudar nos últimos anos.
E mudar para melhor.
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
Parabéns, Marinho. Belo tema, belo texto.
Luiz Carlos Ramos