O Crime e o Castigo. Blog do Mário Marinho
O CRIME E O CASTIGO
BLOG DO MÁRIO MARINHO
Peço emprestado, apenas emprestado, o título do fantástico romance de Fiódor Dostoiévski (Crime e Castigo), publicado há mais de cem anos, em que o escritor russo narra o assassinato cometido pelo jovem estudante Rodion Românovitch Raskólnikov e sua vida pós crime.
Disse que apenas peço emprestado porque o assunto aqui é real e bem próximo de todos nós.
No caso em questão, o crime foi cometido pelo jovem goleiro do São Paulo, Jean Paulo Fernandes Filho, 24 anos.
O caso aconteceu no final do ano passado, quando o goleiro Jean agrediu covardemente sua mulher, Milena Bemfica, quando o casal passava férias, em companhia de suas duas filhas, nos Estados Unidos.
Tornou-se um caso nacional porque a vítima postou dramático pedido de socorro que logo viralizou na internet. A imagem do rosto deformado pelos socos e o pedido pungente de socorro foi chocante.
Ontem, com o regresso do time às atividades normais de 2020, a Diretoria do São Paulo FC divulgou comunicado, informando que o atleta está suspenso até o final deste ano.
Ele poderá se transferir para outro Clube, mas não vestirá a camisa do São Paulo.
Aliás, em determinado momento da gravação da agredida Milena, feita em desespero e trancada no banheiro, pode-se ouvir a voz do goleiro lamentando a atitude dela (de pedir socorro) e mostrando a aflita preocupação do goleiro;
– Veja o que você está fazendo! Vai acabar com a minha carreira!
Um time de futebol é uma paixão sagrada que os jovens definem nos primeiros anos de vida e vão levá-la até o fim dos seus dias.
E o jogador de futebol é a personificação, a materialização dessa idolatria.
Imagino quantos pequenos tricolores não se espelharam em Rogério Ceni. Ou quantos alvinegros não se viram em Rivelino ou Pelé. Ou Leão e Ademir da Guia no Palmeiras.
Assim, é preciso que os clubes cuidem não apenas de sua imagem marqueteira, mas da imagem formada pelas retinas aflitas e apaixonadas dos pirralhos torcedores.
Não se trata de um apena perpétua.
O crime foi forte e o castigo também o é.
O goleiro terá tempo para refletir e se arrepender.
Talvez, até lendo Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski.
A ousadia
Dissecada
Brilhante, simplesmente brilhante o trabalho do jornalista Ferdinando Casagrande no livro “Jornal da Tarde: uma ousadia que reinventou a imprensa brasileira”, da editora Record (na foto acima, Ferdinando ao meu lado).
Essa ousadia, o Jornal da Tarde, veio a público na tarde do dia 4 de janeiro de 1966, data da circulação do primeiro número do JT.
Eu cheguei ao Jornal da Tarde dois anos depois, em janeiro de 1968. Sai 22 anos depois.
Acompanhei grande parte da vida do jornal que deixou de circular em 2013. Fiz parte da história de seu crescimento e seu apogeu.
Eu e muitos outros companheiros do JT já ensaiamos diversas vezes escrever a história desse jornal que, realmente, revolucionou a história do jornalismo brasileiro.
Todos os anos, no mês de novembro, nós, veteranos do JT, nos encontramos para um almoço e o bate-papo amigos. Relembramos casos, acontecidos ou não, histórias, engraçadas ou trágicas, momentos eternos e sempre alguém pergunta: quem vai escrever a história do Jornal da Tarde?
E sempre postergamos a tarefa.
Coube ao jovem Ferdinando Casagrande enfrentar o desafio.
E o fez com maestria.
Não se trata apenas da história de um grande jornal, mas também o perfil econômico e social de São Paulo e até mesmo do Brasil nessas quatro décadas.
Imperdível para quem teve a sorte de um dia ter em mãos um exemplar do JT.
Indispensável para quem trabalhou no JT.
Imperioso para quem gosta de jornalismo.
—————————————————————————————–
Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
MMarinho. Tudo na vida é muito rápido Quando paramos para pensar…o pensamento já seguiu o seu caminho. Isso nos ensina que, embora erremos bastante e nem sempre premeditadamente, devemos nos policiar, administrar nossos impulsos e, entre nós aqui, todos sabemos perfeitamente onde se esconde nossas fraquezas.
O esportista profissional, aquele que faz do esporte o seu trabalho, o seu ganha pão, é um indivíduo diferenciado, sem dúvida. Como você disse, modelo de boa conduta, vida disciplinada. A sua dedicação àquilo que se propôs realizar forjará o seu sucesso, sua longevidade dentro da atividade. No caso desse “garoto”, de comportamento merecedor de observações anteriores, seu futuro se mostra arranhado e vai exigir ,da parte dele, muita reflexão e uma significativa mudança de postura. Dentro e fora do campo.
Concordo com Você, Moura.
Muito obrigado pela leitura e pelo comentário.
Abração,
MMarinho
Considerado: no romance, em que Dostoievski mostra-se bem melhor do que Freud, o autor comete um crime (mata uma velha agiota) e não é descoberto. Porém, atormentado pela consciência, confessa à Polícia o que ela não sabia e vai purgar seus pecados no cárcere siberiano. A questão é que, no romance, o assassino achava que estava fazendo um bem para a humanidade, matando a mulher, uma praga social. O ex-goleiro acha que ela reagindo contra agressões prejudicaria a vida dele. Acha-se a vítima. O sem-consciência Inverte tudo. É o Bruno-II.
Perciva de Souza
Ótima análise, Percival.
Nada como ter leitores formados, bem informados, sensíveis e inteligentes.
Abração,
Marinho