O ataque das cervejas. Blog do Mário Marinho
O ATAQUE DAS CERVEJAS
BLOG DO MÁRIO MARINHO
Foram seis ou sete explosões seguidas, barulhentas, a intervalos de fração de segundos e que lançaram estilhaços por todos os lados.
Senti que pelo menos um deles me acertou, mas, como se estivesse em transe pelo barulho, permaneci estático.
Só dei por mim quando ouvi o grito desesperado de uma mulher:
– Alguém ajude aqui! O moço está ferido. Ajudem!
Então vi aquela quantidade de cacos de vidro, olhei para baixo e vi o meu tênis e meia, ambos brancos, ficarem vermelhos.
Olhei um pouco acima dos pés e vi que aquele vermelho era sangue que jorrava de minhas pernas.
Caramba!, o ferido sou eu.
A mulher pedia para alguém fazer alguma coisa e todos olhavam parados, como que petrificados.
Até que uma senhora se adiantou, agachou-se junto a mim e começou a pressionar a minha perna para estancar o sangue.
Assumindo o comando da situação, ela gritou para um funcionário:
– Depressa, eu preciso de toalha limpa, um pano limpo. Depressa! Pode ser papel toalha.
Disparou mais ordens:
– Liguem para o Samu! Ele tem que ser levado a um hospital imediatamente.
– Tragam uma cadeira para ele sentar. Ele não pode ficar em pé com essa quantidade de sangue saindo!
Alguém apareceu com um rolo de papel toalha e uma caixa foi empurrada em minha direção para eu me sentar.
Uma outra mulher se apresentou para ajudar.
– Cuide de uma perna que eu cuido da outra.
Essa cena, que mais se parece com um filme de campo de batalha, de guerra, aconteceu na antevéspera do Ano Novo, segunda-feira, 30/12, dentro do hipermercado Extra do bairro do Jaguaré, na Zona Oeste de São Paulo.
Era o simples e inofensivo ato de comprar uma caixa de cerveja Original.
A caixa é de um papelão muito frágil para dar conta do peso de 12 garrafas de 600 ml.
O fundo da caixa simplesmente se rompeu e as garrafas se espatifaram, provocando o barulho das explosões e jogando cacos de vidros para todos os lados.
Quatro deles atingiram minhas pernas: um na perna esquerda, os outros três na direita.
Não havia nenhum funcionário para prestar os primeiros socorros.
A primeira mulher que me socorreu chama-se Rose.
Ela disparava ordens para o funcionário do Extra que falava com a atendente do Samu:
– Diga que um senhor de 75 anos está ferido. Há um vazamento contínuo de sangue. Pergunte qual a previsão de atendimento. Repita que é urgente. Não dá para esperar muito.
Mais providências, dessa vez se dirigindo a funcionário do Extra.
– Você não tem um kit de primeiros socorros?
Ante a negativa do funcionário, disparou:
– Então vai aí em baixo na farmácia e providencie um!
A primeira funcionária do Extra que se dirigiu a mim foi a Bruna.
– O senhor está acompanhado?
– Não.
– Tem alguém que a gente possa avisar?
Eu havia deixado minha mulher em um salão de beleza, então não adiantaria ligar para ela que estava sem carro.
Liguei para a minha filha Verênia, que mora nas imediações, contei que havia acontecido um acidente e pedi que fosse até lá com o marido Armando.
As duas mulheres apertavam com força minhas pernas para estancar o sangramento.
A que havia iniciado o socorro, e que se chama Rose, virou-se para a outra:
– Você não é a Noemi?
– Sim.
– Olha, eu estudei enfermagem tendo você como referência.
Virou-se para mim:
– Moço, o senhor está sendo atendido por uma das melhores enfermeiras de São Paulo.
Na verdade, eu não estava sendo atendido, mas, sim, sendo salvo. Não por uma das melhores, mas pelas duas melhores enfermeiras de São Paulo.
O rapaz que falava com o Samu, avisou:
– Não tem previsão para chegar.
A Rose não teve dúvidas:
– Então, vamos levá-lo no carro dele. Não dá para esperar.
Nisso, chegaram minha filha e o meu genro.
Mais tarde, comentando o que viu ao chegar, Armando falou:
– Era tanto sangue que parecia que pelo menos umas três pessoas tinham sido baleadas ali.
Nesse momento, eu estava sentado em uma cadeira de rodas trazida por um funcionário.
Com a praticidade que o profissionalismo lhe deu e a urgência do caso exigia, Rose determinou:
– Vamos para o HU (Hospital Universitário). É o mais perto.
Fui sendo conduzido para o estacionamento e, nesse exato momento, encontramos os paramédicos do Samu que haviam chegado.
A Rose fez um relatório sucinto e objetivo do caso. Eu perguntei à moça do Samu.
– Você pode me levar para o hospital São Camilo?
– Claro.
Subi na ambulância acompanhado de minha filha (o marido foi levar o carro em casa e avisar minha mulher do acontecido).
A paramédica fez o atendimento de praxe – pressão, temperatura, preencheu um formulário – e iniciamos a viagem chacoalhando numa ambulância que ameaçava desmontar a cada curva ou freada.
Entre o telefonema e a chegada do Samu devem ter se passado uns 20-25 minutos. Mais outro tanto e chegamos ao São Camilo. Era por volta das 16 horas.
Fui levado imediatamente para a emergência. Pouco depois apareceu a doutora Maria Teresa Sodré que, com rapidez e competência, fez o procedimento adequado e deu 17 pontos.
Em um dos cortes ela ainda encontrou um caco de vidro.
– Pode ser até que ainda apareça um outro pequeno estilhaço. É normal em acidentes com vidros. Já tive pacientes que, muitos dias depois do acidente, apareceram com um minúsculo pedacinho de vidro. O próprio corpo se encarrega de expelir.
Finalzinho da tarde, eu e minha filha voltamos para casa.
Do episódio, duas importantes constatações:
1 – A Ambev precisa urgentemente mudar o material da embalagem dessas caixas de cerveja Original. O papelão é muito frágil para tanto peso.
2 – O Extra não possui profissionais treinados para primeiros socorros, nem equipamentos necessários.
Eu fui salvo por duas enfermeiras que faziam suas compras naquele momento. E se elas não estivessem lá?
E se um caco de vidro tivesse atingido alguma artéria importante da perna?
Às 18,12 horas daquele mesmo fatídico dia, enviei para a Rose e a Noemi a seguinte mensagem:
“Caríssima amiga,
Antes de tudo, muito obrigado pela assistência que Você me deu naquele acidente do Extra. Foi fundamental sua ajuda. Eu diria até que foi vital. Fui ao hospital São Camilo, onde fui bem atendido e sai de lá com 17 pontos nos quatro ferimentos. Desejo a você e sua família um ano novo cheio de paz, saúde e sorte. Continue sendo o anjo da guarda que você foi para mim. Beijos.”
Na foto ao alto, Mário Marinho, já são e salvo, em casa com a esposa.
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
Que sufoco !
Como estamos vulneráveis á fragilidade no atendimento emergencial dos lugares em que frequentamos .
Podia ter sido muito mais grave se vc tivesse sido atingido em uma veia femural ou artéria .
Que tudo isso sirva de alerta pra que todos os envolvidos se manifestem e mudem seus procedimentos e atitudes .
Agradeça a Deus pelos Anjos da Guarda que estavam no local pra te salvar.
Gratidão por tudo ter se resolvido da melhor maneira possivel .
Beijos .
À essa excelente profissional Rosangela à qual tenho o prazer de conhecer e trabalhar, deixo aqui os meus PARABÉNS!!!!
Agradeço a todos pelas manifestações, pela solidariedade.
Estou trabalhando para que Extra e Ambev dê mais valor aos seus clientes.
Nem todos terão os Anjos da Guarda que eu tive.
Abraços,
Obrigado.
Mário Marinho
Sr Mário Marinho, realmente teve um anjo na sua vida! Abraços
Rapaz…com tamanha sorte, deveria aproveitar e jogar na Mega-Sena, rsrsr.
Graças a Deus deu tudo certo! Abraços, e te cuida!!!
Prezado Mário,
Ao acessar o Chumbo Gordo, vi primeiramente a sua foto na poltrona, de pernas enfaixadas, a seu lado a Vera, e me perguntei: será que o Mário se submeteu a
uma cirurgia relacionada com varizes?
Que nada, li a explicação em seguida: uma história contada com o talento do experiente repórter, vítima da desatenção da cervejaria que coloca no mercado o
seu produto em embalagem inadequada. Valeu o “anjo da guarda” que lhe possibilitou o atendimento por pessoas habilitadas a primeiros socorros, embora não
integradas aos quadros do supermercado. O azar de comprar a saborosa “Original” em embalagem fajuta foi compensado pelo socorro daquelas mulheres.
E o amigo contou com muito estilo a história da qual foi vítima.
Tomara que o pessoal da Ambev leia esse Chumbo Gordo e fique atento a providências, porque outras vítimas poderão não contar com a proteção divina (eu creio)
que o amigo recebeu por meio das solidárias e competentes pessoas que o socorreram.
Valeu também o alerta para ficarmos mais atentos ao material utilizado nas embalagens de produtos como nossas deliciosas cervejas.
Obrigado pelo texto, um abraço e que o amigo e família possam usufruir de muitas alegrias neste 2020.
Ivani Cunha