Início do fim? Por Edmilson Siqueira

INÍCIO DO FIM

EDMILSON SIQUEIRA

…a bandeira contra a corrupção foi, aos poucos, sendo abandonada por Bolsonaro. Não que ele esteja metendo a mão no erário, claro. É que seu discurso e seu empenho foram diminuindo à medida que foram sendo descobertos problemas do ramo “cofre público” envolvendo um de seus filhos.  A tal de “rachadinha” descoberta a partir de um corriqueiro relatório do COAF, azedou totalmente o namoro entre o governo do capitão e a plateia ansiosa pra ver todo corrupto na cadeia…

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Estamos assistindo a uma cisão que provavelmente bloqueará qualquer chance de Bolsonaro ser reeleito. A economia, como já disse aqui várias vezes, traz algum otimismo com seus números positivos – pequenos e insuficientes, porém positivos – e a segurança, no que concerne ao crime de quadrilhas de traficantes, assaltantes de bancos, de cargas etc., também provoca alguma esperança de que, talvez em uma década caso continuem a melhorar,  possamos sair às ruas sem medo – à noite ou de dia.

Mas tudo é muito lento e a percepção dessas melhorias pela maior parte da população também demorará muito para transformar o presidente do governo responsável por esses avanços, um líder imbatível nas urnas. Longe disso.

Ao perceber que havia um nicho inexplorado pela oposição ao PT no Brasil – e era apenas ideológico até então – o deputado do baixo clero, Jair Bolsonaro, ajustou seu discurso contra a esquerda, passando a angariar adeptos saudosos da direita carrancuda da ditadura militar. Mas parece que ele percebeu que apenas atacar a esquerda e louvar os militares que governaram o Brasil com mão de ferro, não seria suficiente para crescer nas pesquisas. O próximo passo foi combater um problema que assolava há muito tempo o Brasil e que o PT elevou a níveis estratosféricos: a corrupção.

Era outro nicho desdenhado pela social democracia e pela maioria dos deputados e possíveis candidatos. Esse desdém tinha motivo: tanto líderes do PSDB, do DEM e de outros mais adesistas, estavam envolvidos também com a chamada “malversação dos recursos públicos”. Não era nada comparado ao que o PT estava fazendo, mas era crime também. No máximo, a pena poderia ser menor, apenas isso.

Ao abraçar o combate incansável à corrupção, Bolsonaro começou a ameaçar os políticos e partidos tradicionais que esperavam subir a rampa do Palácio do Planalto em primeiro de janeiro de 2019, depois de um acirrado, sonhavam, segundo turno entre eles.

Só que era tarde pra levantar a bandeira de combate à corrupção. Bolsonaro saiu na frente e soube muito bem tirar grande proveito da situação, principalmente nas redes sociais. Algum aliado mais íntimo naquela campanha pode ter avisado ao capitão que o tema era sensível entre seus filhos, mas a possibilidade de vencer e de empurrar com a barriga qualquer problema que surgisse, era muito mais forte.

Pois bem, o combate à corrupção foi a maior bandeira da campanha, angariou milhões de votos, levou o capitão para o segundo turno contra justamente quem era apontado – e com toda razão e toneladas de provas – como o maior incentivador do roubo aos cofres públicos, o PT.

Haddad e companhia usaram de todos os recursos – e são contados em bilhões – para tentar reverter a vontade popular. Não conseguiram. Elegeram uma bancada que ombreava com o desconhecido partido do candidato eleito e se conformaram em voltar à oposição que, aliás, já vinham exercendo desde o impeachment da presidente. O substituto era o vice dela, mas para a esquerda, presidente bom é só o do seu partido, claro.

Pois a bandeira contra a corrupção foi, aos poucos, sendo abandonada por Bolsonaro. Não que ele esteja metendo a mão no erário, claro. É que seu discurso e seu empenho foram diminuindo à medida que foram sendo descobertos problemas do ramo “cofre público” envolvendo um de seus filhos.  A tal de “rachadinha” descoberta a partir de um corriqueiro relatório do COAF, azedou totalmente o namoro entre o governo do capitão e a plateia ansiosa pra ver todo corrupto na cadeia.

Resultado de imagem para NAUFRAGIO"… Pelo que vi e li, Moro sai mais forte ainda dessa disputa. E Bolsonaro mais fraco, pois seu eleitorado, que concentrou pouco mais de 50% no segundo turno, hoje equivale ao mesmo número de fanáticos que votariam em Lula novamente. Não chega aos 30% e tende a diminuir. Parece ser o início precoce de um ocaso governamental…

Aos poucos, Bolsonaro foi aderindo à velha política que ele tanto combateu, sinal inequívoco que estaria disposto a usar os mesmos poderes d’antanho para livrar a prole do braço da lei. Nomeou um líder no Senado ligado ao que de pior o Senado produziu nas últimas décadas. Andou namorando o ministro mais petista do STF, cm, o qual, dizem, pactuou um acordão. Começou a contrariar seu ministro mais famoso e mais identificado com o combate à corrupção em público. Passou a acusar, sem qualquer prova, que um governador (ex-juiz, diga-se) estaria por trás das mentirosas acusações a seu filho. Disse ainda que toda investigação contra o rebento era para atingi-lo e outras falas tão esfarrapadas quanto.

Aquela parte do eleitorado que votou nele no segundo turno por total falta de opção – a alternativa era o corrupto e socialista-bolivariano PT – começou a entortar o nariz. Primeiro foram algumas críticas leves, que foram aumentando em decorrência do comportamento cada vez mais estranho de Bolsonaro em relação à honestidade.

Aí veio o projeto de Moro, das medidas contra a corrupção, desfigurado e enxertado de jabutis pelo Congresso. A turma do colarinho branco viu ali grande oportunidade de blindar, ainda mais, seus mandatos e suas liberdades, hoje totalmente irregulares (são corruptos e podem ser presos a qualquer momento, caso o MPF continue achando que lugar de corrupto é na cadeia…) e começaram a criar leis que os protegeria dos malvados rapazes de Curitiba.

O projeto aprovado tinha uns 30 artigos totalmente incompatíveis com o combate à corrupção. Os principais: a criação de uma estrovenga chamada “juiz de garantia”, a obrigação de uma audiência de custódia em 24 horas sobe pena de livramento do suspeito mesmo que preso em flagrante e a recusa em mudar o Código Penal para que o Brasil, finalmente, se juntasse às centenas de países mais civilizados que prendem seus réus após julgamento em segunda instância.

Pois esses três principais, Bolsonaro não vetou, devolvendo de mão beijada a todos os corruptos e outros bandidos do Brasil, uma proteção que jamais um eleitor médio e honesto julgaria que fosse partir justamente de quem partiu.

As redes sociais estão fervendo nesse interregno entre Natal e Ano Novo. E a cisão ali contida – chamar Bolsonaro de traidor é um dos xingamentos mais comuns – parece ser definitiva. As acusações contra Bolsonaro feitas por seus eleitores variam entre proteção ao filho corrupto e o conluio com a nata do mal do Senado e da Câmara. E seus defensores recorrem a argumentos fracos, invertendo situações, afirmando, por exemplo, que Bolsonaro foi estratégico ao devolver a bola sobre esses itens para o Congresso, o que é risível, já que, sancionando o projeto, ele já está aprovado e não cabe aos deputados e senadores vetarem o que eles mesmos aprovaram. E, ainda, podem derrubar, definitivamente, alguns dos outros vetos do presidente.

Pelo que vi e li, Moro sai mais forte ainda dessa disputa. E Bolsonaro mais fraco, pois seu eleitorado, que concentrou pouco mais de 50% no segundo turno, hoje equivale ao mesmo número de fanáticos que votariam em Lula novamente. Não chega aos 30% e tende a diminuir. Parece ser o início precoce de um ocaso governamental.

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Edmilson Siqueira é jornalista

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