Quando as Estrelas não brilham. Blog do Mário Marinho
QUANDO AS ESTRELAS NÃO BRILHAM
BLOG DO MÁRIO MARINHO
A literatura do futebol é repleta de chavões.
Um deles é usado com frequência por jogadores ao serem elogiados, em público, por sua atuação heroica em um determinado jogo. Com falsa modéstia, ele diz:
– Eu não ganhei sozinho. Sem os meus companheiros a gente não tinha vencido.
Velho, porém, verdadeiro chavão.
Ninguém ganha, ninguém perde um determinado jogo.
Muito embora, somos levados, nós torcedores, a eleger heróis e procurar vilões.
Um dos vilões apontados para a derrota do Flamengo, 1 a 0, para o Liverpool foi o cansaço do Mengão.
No Brasil, estamos em fim de temporada; na Europa, na metade da temporada; o Flamengo jogou 75 partidas este ano, o Liverpool, apenas 55.
Mas, quem elegeu o cansaço como vilão, se esquece que outros times brasileiros venceram esse mesmo torneio, nessa mesmíssima data.
Foi assim com o São Paulo, com o Santos, o próprio Flamengo em 1981 (aliás, contra o mesmo Liverpool), com o Internacional, o Grêmio e com o Corinthians, o último brasileiro a levantar este caneco.
Acho até que o cansaço poderia ser apontado como causa, se a derrota tivesse sido, por exemplo, 3 a 2.
Na seguinte situação: o Flamengo faria 2 a 0 nos primeiros 20 minutos e levaria a virada nos últimos cinco minutos. Aí, sim, poderia ficar caracterizado o cansaço.
Em minha modesta opinião, faltou ao Flamengo o básico: futebol.
Antes do jogo, eu defendia a seguinte tese: se os dois times jogassem 100% de seu futebol, o vencedor seria o Flamengo, pelo simples motivo de ser melhor.
Mas, o Flamengo não jogou 100% e seu futebol.
E falha vital foi exatamente em seu setor mais criativo, mais produtivo: no trio Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol.
Do total de 153 gols marcados pelo Flamengo na temporada, Gabigol marcou 43; Bruno Henrique, 35; Arrascaeta 18 (o quarto colocado é Vitinho, com apenas 9)
Dos três, Bruno Henrique foi o que mais jogou, 59 partidas; Gabigol, 55; Arrascaeta, 48.
Os três são as estrelas de maior brilho no firmamento rubro negro.
Nenhum dos três brilhou com a devida intensidade no jogo de sábado.
São culpados pela perda do título?
Eu não chegaria a tanto.
A verdade é que o Liverpool foi melhor em campo, porque é mais time.
E a verdade, mesmo doída, tem que ser aceita.
O Flamengo é, incontestavelmente, melhor time do Brasil e da América (das Américas).
Fica, assim, patente que o futebol europeu é melhor do que o nosso.
Triste, porém, simples.
O Liverpool é mais equipe, embora tenha em Roberto Firmino (que os ingleses chamam de Bobby Firmino) seu grande artilheiro que confirmou essa condição marcando o gol da vitória, o gol do título.
Há
Cem anos
Paulistano-campeão-paulista-de-1918.
-Ao-centro-Rubens-Sales-abaixo-dele-Friedenreich.- Foto-Museu-CAP
Na chuvosa tarde de domingo, 21 de dezembro 1919, portanto, há um século, o Paulistano venceu o Corinthians por 4 a 0.
O jogo foi realizado no estádio do Paulistano, no Jardim América e a vitória sobre o Corinthians não foi novidade, pois nos 18 jogos que disputou naquele campeonato, o Paulistano venceu 14, empatou dois e só perdeu dois.
O Paulistano era uma máquina e, com essa vitória, sagrou-se tetracampeão estadual, pois já havia vencido em 1916, 1917 e 1918.
Passados 100 anos, o Paulista é o único tetracampeão paulista de futebol legítimo – ou seja, quatro títulos conquistados seguidamente.
Naquela época, o futebol tinha pouco espaço na mídia.
O Estadão registrou o feito sem muito destaque e, sequer, se deu ao trabalho de publicar as escalações, o que eu faço agora:
Paulistano – Arnaldo, Orlando e Carlito; Sérgio, Rubens Salles e Benedicto; Agnelo, Mario Andrada, Friedenreich, Zito e Cassiano.
Corinthians – Medaglia, Fulvio e Cesar; Gano, Amílcar e Ciasca; Américo, Armando, Bororó, Garcia e Brasilio.
Zito, Friedenreich (2) e Agnelo marcaram para o Campeão. Garcia fez o gol de honra do futuro Timão.
O repórter que cobriu o jogo não encontrou espaço para oferecer a ficham técnica a seus leitores, mas não deixou de registrar tremenda bronca contra a Light. Veja abaixo:
“A Light não devia, hontem, ter modificado o serviço de bondes da linha America. No campo do Paulistano ia se realizar um jogo bastante interessante e muita gente devia para lá se dirigir.
Ora, aquela famosa empresa alterando o referido serviço, da maneira por que fez hontem, conseguiu que seus bondes levassem meia hora da cidade à avenida Paulista, onde fatalmente havia um encalhe. E dessa avenida até o Jardim America os bondes caminhavam tanto que os passageiros, de uma dezena deles, apeando e indo a pé, chegaram no ponto final da linha, deixando os carros da Light a perder de vista. E esse “raid” de pedestrianismo a que a Light submeteu seus fregueses foi efetuado justamente na ocasião em que o Padre Eterno impiedosamente abria todas as torneiras do céu.”
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Mário Marinho – É jornalista. É mineiro. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
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