O suicídio dos jovens no Brasil – I. Por Meraldo Zisman
O SUICÍDIO DOS JOVENS NO BRASIL (I)
MERALDO ZISMAN
Nos casos de suicídio (dizem os demais profissionais da área de ciências humanas) precisamos impedir que a Psiquiatria sequestre o suicídio. Abordarei essas assertivas ou afirmações em artigo futuro.
No mundo inteiro, o suicídio está entre as cinco maiores causas de morte de jovens entre 15 e 19 anos. Em vários países ele fica como primeira ou segunda causa de morte entre meninos nessa faixa etária. No Brasil segue os assassinatos, morte por acidentes e câncer.
O medo da morte tem início desde quando tomamos conhecimento de que estamos vivos. A psicanálise sugere que a origem do medo de morrer é o momento do nascimento, causada pela ansiedade da separação materna. O conceito de morte é dinâmico e variável com a idade das pessoas. Para melhor compreendê-lo deve-se conhecer sua evolução nas diferentes etapas existenciais, da infância à velhice.
De tal modo, é necessário saber que o conceito de morte, na criança, aparece primeiro do que o conceito de vida. Os contos de fada falam que Branca de Neve morreu e sua ressurreição foi por efeito feiticeiro.
Igualmente, para a criança pequena o óbito não é fenômeno irreversível, como para os adultos. A ideia da irreversibilidade da morte aparece por volta do sétimo ou oitavo ano. Tive um cliente que me trouxe seu pássaro morto para que eu, o tio Meraldo, desse um jeito de ressuscitá-lo.
…Eu não estou com medo de falar sobre o suicídio. Estou, sim, com medo de ficar calado como médico e cidadão, no momento em que nos desviam a atenção com tantos eventos insignificantes e acontecimentos paroquianos no Brasil.
Embora o jovem (adolescente), na fase de transição para a idade adulta, saiba ser a morte irreversível, crê que isso jamais poderá acontecer com ele, talvez com seu vizinho. Considera-se invulnerável. Daí ser comum a insensatez, desprezo pelo perigo, prática de esportes violentos e tantas outras atividades perigosas, tão comuns na juventude.
Esses acontecimentos denominados de – “adrenalínicos” – que exigem esforços, motivações, sonhos e objetivos terminam em acidentes e desafios à própria morte. Desafiar a morte é o máximo!
Enquanto o adulto sabe da sua fragilidade/vulnerabilidade e ainda que, apesar de todos os avanços científicos e médicos, a morte é inevitável em 100% dos vivos.
Os médicos, no que lhes concerne, não se encontram preparados para responder a essas demandas de imortalidade. Para a maioria dos médicos, a morte de uma pessoa, mesmo portador de doença incurável, é uma afronta à sua capacidade profissional.
Nos casos de suicídio (dizem os demais profissionais da área de ciências humanas) precisamos impedir que a Psiquiatria sequestre o suicídio. Abordarei essas assertivas ou afirmações em artigo futuro.
A propaganda desenfreada do desenvolvimento científico, dos êxitos da moderna medicina, da popularização de certos meios e outras asneiras publicadas pela Mídia (profissional e social) criaram a fantasia do Doutor Todo Poderoso. Onipotente.
Seria sensato preparar, desde cedo, o futuro médico quanto às suas limitações e sobre a realidade da vida. Existe um tempo de vida reservado para cada um de nós e a morte prematura pela violência, seja ela auto infligida ou resultado de causas externas, é triste em qualquer etapa da vida e, quando ocorrida na juventude, vem a ser duplamente dolorosa.
Não devemos esquecer que as principais causas dos suicídios são a pressão e o estresse por problemas socioeconômicos e insegurança existencial. Falta escuta e diálogo entre as gerações. Não se pode prevenir, tratar, lutar contra qualquer epidemia silenciando sobre ela. É impossível. Eu não estou com medo de falar sobre o suicídio. Estou, sim, com medo de ficar calado como médico e cidadão, no momento em que nos desviam a atenção com tantos eventos insignificantes e acontecimentos paroquianos no Brasil.
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