ALTO-COMANDO

O grande mudo está falando

Certas coisas da maior importância estão passando despercebidas. Há alguns dias, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, disse que a situação política, ética e econômica do país é preocupante e pode descambar para uma crise social. Nenhuma novidade: até um otimista incurável acha a mesma coisa. Só que este otimista incurável não tem comando de tropa; nem acha, como o general, que esta crise pode dizer respeito às Forças Armadas. O general completou dizendo que o Brasil mantém em funcionamento as instituições democráticas, que a sociedade não precisa ser tutelada – mas o recado já tinha sido transmitido.

Mais? No rigoroso cumprimento da lei, o general Eduardo Villas Bôas cassou as condecorações militares dos mensaleiros condenados pelo Supremo. Valdemar Costa Neto, José Genoíno e Roberto Jefferson perderam o direito à Medalha do Pacificador, a mais alta condecoração do Exército, por condenação, transitada em julgado, de crime contra o Tesouro. Está na lei (e, no exercício de suas atribuições, o general Villas Bôas não poderia deixar de cumpri-la). Mas seu antecessor no cargo, o general Enzo Peri, passou os últimos três anos fingindo que cassar as condecorações não era sua obrigação. Sem alarde, o general Villas Bôas fez o que devia (até com Genoíno, que os governistas chamavam de Guerreiro do Povo Brasileiro) e retirou seus nomes do Almanaque do Exército.

É bom levar em conta que o Exército brasileiro é conhecido há muitos anos como O Grande Mudo. Quando os mudos falam, é bom ouvi-los com atenção.

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