Timão sem rumo. Blog do Mário Marinho
TIMÃO SEM RUMO
BLOG DO MÁRIO MARINHO
Como toda criança, eu era fascinado pelos filmes de piratas.
As batalhas travadas em alto mar me deixavam, ali na plateia, fascinado, apavorado.
As ondas fortes naqueles mares bravios, revoltos, me faziam tremer.
Os tiros de canhões arrebentavam velas, derrubavam mastros, homens caíam ao mar ou mesmo dentro das naus que mais pareciam cascas de nozes sendo jogadas pra lá e pra cá.
Mas, lá no alto da cabine de comando, o timão seguia firme sob o comando das mãos fortes de um forte timoneiro.
Às vezes, era o próprio comandante que assumia. De um olho só, de perna de pau ou até mesmo com um gancho no lugar da mão – não importa. O importante é que o timão continuava sob comando.
Imagino que o torcedor do Corinthians sofre hoje mais do que eu diante daquelas telas do cinema do bairro.
Ele vê o seu time sem comando, à deriva, sendo atingido por petardos e ondas que parecem ter a força de um tsunami.
Se o CSA, humilde, pobre, lá da zona do rebaixamento, foi capaz de tomar o comando do timão, o que dirá o todo poderoso Flamengo, rico, famoso e ungido pelos deuses?
Se contra o pequeno, mas valoroso, CSA, na quarta-feira o time não mostrou alma, não teve forças, não teve coração, o que dirá domingo no Maracanã que, certamente, terá o tsunami provocado por dezenas de milhares de torcedores?
Mas, o que acontece com o Corinthians?
Já há algum tempo o Corinthians vem sobrevivendo com elenco pobre em técnica, mas que compensava essa deficiência com riqueza d’alma, como escreveria Luís Vaz de Camões, para não se deixar abater mesmo quando enfrentando “mares nunca dantes navegados”.
Fossem mares das Alagoas ou da distante Taprobana, a aguerrida equipe substituía a técnica pelo esforço ou por esquemas táticos bem bolados por Tite ou por seu aluno, mesmo que fosse neófito, como o caso do esforçado Carille.
Mas, de repente, o caldo desandou.
Fora de campo, a nave que deveria estar ancorada em porto seguro, mostra-se vulnerável: são acusações entre diretores, cobranças de dívidas milionárias e explicações que mais escondem que esclarecem.
Dentro de campo, jogadores outrora importantes, tornam-se irrelevantes.
Jadson, que nunca foi um craque e até serviu de moeda de troco numa transação com o São Paulo envolvendo Pato, mas que sempre teve atuações graúdas, momentosas, some em campo e vai até parar no banco de reservas, de onde surge quando em vez, visivelmente acima do peso.
Fagner, cuja estrela, ao lado do goleiro Cassio, foi a que mais brilhou num time modesto, agora não acerta um cruzamento, erra passe de metro e meio de distância e levou um baile do irrequieto Apodi na última quarta-feira.
Imagine Fagner de frente com um Gabigol que gosta muito de cair por aquelas bandas?
E quando o time, totalmente perdido em campo, como aconteceu na noite de quarta-feira, procurou, com olhares aflitos, orientação do banco, encontrou um Fábio Carille amorfo, com olhar pedido de quem não sabe onde está e por que está.
Assim, se passaram os últimos sete jogos sem vitória por parte do Corinthians.
O técnico dá entrevista dizendo que está ruim, mas está bom, lembrando uma presidente de triste memória.
Depois que, feio, foge da entrevista coletiva com medo ou sem respostas para as perguntas que esses chatos dos jornalistas costumam fazer.
Então, passaram-se os tempos que
“Tão brandamente os ventos os levavam,
Como quem o Céu tinha por amigo”.
A realidade agora é dura.
E urgente.
Não há tempo para troca milagrosa de técnico, nem para contratações espetaculosas.
Agora, senhores dirigentes corintianos, a palavra de ordem é uma só: atitude.
E atitude quer dizer: iniciativa, ousadia, coragem, decisão, postura, propósito, objetivo, intenção, força…
…em outras palavras: a velha e boa raça corintiana.
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Mário Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de
Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
Mário, ótimo comentário, traduzindo fielmente o espírito do torcedor corintiano. Um abraço.
Pois é MMarinho. Esse é o retrato atual do nosso futebol que já foi imbatível e lotava estádios. Daqui eram gerados novos conceitos táticos, as TVs transmitiam os jogos e os campos permaneciam cheios. O craque, o artista, o dono do espetáculo estava lá dentro no gramado e sempre a certeza de um bom espetáculo. Mas tudo isso virou história, passado que já ficando distante. Abç.