Gangorra brasileira. Por Edmilson Siqueira
GANGORRA BRASILEIRA
EDMILSON SIQUEIRA
…Mas aí houve a facada e a gangorra brasileira pendeu novamente com um forte tranco. Se o atentado foi essencial para que Bolsonaro se elegesse não é uma teoria totalmente provada, mas ajudou o outsider a galgar os primeiros postos e quase ganhar no primeiro turno…
Quando Michel Temer assumiu a presidência, o Brasil estava saindo de mais um trauma de cassação de um presidente da República. A maioria sentiu um pouco de alívio com a saída do PT do poder, deixando um rastro de bilhões de dólares roubados dos cofres públicos, mais de 12 milhões de desempregados e uma recessão que o Brasil jamais havia enfrentado em toda sua história. Que esse partido ainda tenha fôlego pra tentar voltar ao poder é um espanto, mas isso é outra história.
O alívio que veio com Temer, rapidamente se tornou pesadelo com as denúncias de corrupção, com as gravações de Joesley e com a possibilidade de um novo processo de cassação que só não se consumou porque os métodos de compra dos deputados e senadores voltaram céleres. Temer, afinal, era aliado do PT e conhecia os métodos que tornavam os congressistas dóceis.
Temer chegou ao final do mandato tampão até fazendo algumas coisas boas, embora seu lado corrupto tenha causado a não votação da reforma da Previdência, o que seria uma mão na roda para o próximo governo. Como se sabe, passado quase um ano do novo governo, a reforma ainda caminha nos escaninhos do Congresso e seu resultado final, se não é frustrante, está longe de ser o ideal.
A campanha eleitoral caminhava como se esperava, com Jair Bolsonaro ameaçando crescer e candidatos tradicionais esbarrando em seus passados e presentes diante da nova postura do eleitor que não aguentava mais do mesmo. Havia um poste candidato, representando um passado recente e tenebroso que ainda preocupava, pois 14 anos de populismo e corrupção haviam proporcionado a criação de um bom curral eleitoral e fartos recursos para a campanha.
Mas aí houve a facada e a gangorra brasileira pendeu novamente com um forte tranco. Se o atentado foi essencial para que Bolsonaro se elegesse não é uma teoria totalmente provada, mas ajudou o outsider a galgar os primeiros postos e quase ganhar no primeiro turno.
Com a eleição do capitão da reserva passou-se a formar uma equipe que surpreendia positivamente na área econômica, causou euforia com a aceitação de Sérgio Moro e preocupação em áreas que, rapidamente, se deterioraram no poder. Ou seja, a gangorra subia e descia fazendo o brasileiro médio ficar com uma enorme interrogação no meio da testa.
Mas Bolsonaro tomou posse e começou a governar de fato. Não demorou muito para que algumas das primeiras medidas causassem impactos negativos e positivos, fazendo a gangorra subir e descer cada vez mais rapidamente.
… Por outro lado, governadores que apoiaram e usaram Bolsonaro para se eleger começam a cair fora do barco do alinhamento automático antes que seja tarde. E a gangorra padece num sobe e desce constante, na velocidade de biruta de aeroporto em dia de vendaval.
A economia, o lado definitivamente bom do governo, encontrou gigantescos obstáculos no Congresso, com o qual o governo se recusava qualquer acordo, por mais republicano que fosse. O resultado é que as reformas econômicas, essenciais para que esse governo dê um “start” real, estão demorando muito mais do que se previa. Quem aí se lembra das notícias que davam o mês de julho passado como o deadline da reforma previdenciária?
Quando o ministério parecia assentado, com algumas trocas evidentes, eis que a família presidencial, nas figuras principalmente dos três zeros à esquerda (os filhos do homem) começa a arranjar encrencas de todos os lados.
É o esquema da “rachadinha” de um filho descoberto no Rio, é a ligação com milicianos em outro processo. Não bastasse a encrenca familiar, o partido do presidente começou a mostrar a cara, ou melhor, o cesto cheio de “laranjas” com cheiro de apropriação indébita de fundos partidários. Sem contar um maluco que acredita em horóscopo e mora nos EUA, xingando generais do governo com os piores palavrões e aliados do próprio partido num lista de traidores, lista essa “assinada” pelo presidente.
Por outro lado, governadores que apoiaram e usaram Bolsonaro para se eleger começam a cair fora do barco do alinhamento automático antes que seja tarde. E a gangorra padece num sobe e desce constante, na velocidade de biruta de aeroporto em dia de vendaval.
Enquanto isso, o brasileiro comum começa a desconfiar se seu voto – principalmente no primeiro turno – foi bom ou ruim. Alguns se enchem daquele espírito de torcedor de arquibancada e defendem bravamente o governo, fechando os olhos para o caminhão de bobagens produzidas em tão pouco tempo e se agarrando nessa torcida na esperança de que dê tudo certo.
Outros se agarram nas poucas boas notícias da emperrada economia – a inflação está abaixo até da meta, o PIB não está negativo, o emprego tem criado vagas (poucas, mas não está diminuindo) e as reformas se arrastam, mas andam – para ter esperanças de que tudo dê certo e o atual governo não transforme essa gangorra maluca num enorme trampolim para a volta da esquerda e seu obscurantismo barbado, que foi a raiz de todas essas desgraças que estamos vivendo.
Edmilson Siqueira– é jornalista