Com que intuito? Por Maria Helena RR de Sousa
COM QUE INTUITO?
MARIA HELENA RR DE SOUSA
Nem o momento sério e grave que o capitão viveu nesta semana, com sua quarta operação em decorrência da facada que recebeu em Juiz de Fora, amansou os garotos. O pai internado, sem poder falar por ordem médica, e os garotos dizendo tolices de alto impacto e postando fotos engraçadinhas. Com que intuito?
(PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BLOG DO NOBLAT, VEJA ONLINE, 13 DE SETEMBRO DE 2019)
Será que o leitor tem a mesma curiosidade que eu tenho? Saber qual o intuito dos três filhos mais velhos do presidente Jair Bolsonaro ao se comportarem como se comportam? Eu não consigo atinar com o propósito deles. Não duvido por um instante do grande amor que têm por seu pai, mas é aí que minha dúvida bate: se gostam tanto do pai, por que estão sempre criando um caso para deixar o ‘velho’ em maus lençóis?
Nem o momento sério e grave que o capitão viveu nesta semana, com sua quarta operação em decorrência da facada que recebeu em Juiz de Fora, amansou os garotos. O pai internado, sem poder falar por ordem médica, e os garotos dizendo tolices de alto impacto e postando fotos engraçadinhas. Com que intuito?
Às vezes fico tão indignada com o que eles dizem que irritada reclamo com meus botões: não era melhor a Imprensa parar de dar voz a esses sujeitos? Ignorá-los não seria melhor?
Penso que sim. Eles não são importantes para o país. Aliás, são o que há de inútil para nossa vida política, apesar de terem, os três, cargos políticos que adquiriram por eleição: senador, deputado federal e vereador. Mas desconheço qualquer lei ou projeto de lei que saísse da cachola deles e que tenha servido para o progresso do Brasil.
Quando leio notas que se referem ao pensamento deles, imediatamente me vem à mente um livro que foi um grande sucesso: “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, do escritor americano Dale Carnegie. Só que os Bolsonaro kids lançariam outro livro: “Como fazer inimigos e influenciar opositores”. Não estou afirmando que essa seja a intenção dos garotos, mas estou, sim, afirmando que quando eles abrem a boca, fazem inimigos e influenciam mais oposição para seu pai.
… Eles não vão conseguir o que aparentemente pretendem. Nós já estamos vacinados contra regimes fortes e ainda está muito viva em nossa memória o horror que foram os anos de chumbo por aqui.
Exemplo: Eduardo, o deputado candidato a embaixador nos EUA, vai ao hospital visitar o pai e leva, enfiado no cós das calças, sua Glock de estimação e faz questão de exibi-la. Será que o pai achou que aquilo era um guarda-chuva, como sugeriu o guru dos garotos?
Outro: Carluxo, o vereador fluminense licenciado, fez bem em dizer a frase que copio a seguir? “Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos”. Palavras assustadoras, não são não? Mas pior veio depois: quando a maioria da Imprensa comentou com horror essas palavras do Carluxo ele, em vez de ficar quietinho, ainda chamou os jornalistas de canalhas!
Então o filho de um presidente da República eleito por via democrática, com o pai internado, solta uma bomba dessas e não quer ouvir reações à sua mensagem infeliz? E o irmão deputado ainda quer nos convencer que ele disse exatamente o contrário?
O mais velho, o senador Flávio, trabalha nos bastidores. Não faz o gênero showman, tipo os irmãos. Mas isso não quer dizer que esteja alienado das intenções mussolinianas dos outros. Apenas demonstra que é mais esperto… E que aprendeu a ficar calado desde que o Queiroz surgiu e… sumiu.
Eles não vão conseguir o que aparentemente pretendem. Nós já estamos vacinados contra regimes fortes e ainda está muito viva em nossa memória o horror que foram os anos de chumbo por aqui.
Nós queremos e defenderemos sempre que as vias autoritárias não são as que nos servem. Seja qual for o intuito deles, nós vivemos e queremos viver no sistema que Churchill descreveu como “a democracia é a pior forma de governo excetuando-se todas as outras que vêm sendo tentadas de quando em quando”.
O grande inglês disse também: “Você nunca chegará ao fim de sua jornada se parar para atirar uma pedra em todo cachorro que late”. Sabem de uma coisa? Acho que esse é um grande conselho.
Vamos em frente que atrás vem gente…
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Por favor, minha cara, não ponha os cães na conversa. O mais raivoso de todos os que conheci era muito mais manso do que o melhor bolsonaro da família no seu melhor dia. Cães, via de regra, mordem quando não há alternativa, e normalmente para sua defesa ou de alguém de sua estima. Bolsonaros, por outro lado, mordem por prazer. Um tipo cego de prazer; aquele tipo que sequer dá prazer, apenas alivia a tensão. A castração às vezes melhora o quadro agressivo nesse tipo de animal, mas não é garantia de nada. De fato, do ponto de vista freudiano, acho que todos já devem ter sido castrados há muito tempo.
Resposta para RedFox:
Churchill referia-se aos cães que vivem ao longo dos caminhos que cruzam as pequenas cidades inglesas e que, a qualquer ruido de passos, ladram para chamar a atenção. Não creio que se referisse a eles como cães raivosos, mas a cães, simplesmente. As pedras atiradas era para que ficassem calados. Acho que a Inglaterra é o paraíso dos cachorros…
Mas a comparação do inglês foi útil para mim: se eu parar tudo só para comentar os latidos dos bolsonaros, acabo parada sempre no mesmo lugar. Eles não merecem nossa pedradas.
E, sim, você está certo: Freud faria esse diagnóstico…
Grato pela atenção, Maria Helena. Não achei que a mereceria, e fico muito contente por tê-la. Sabe, eu e minha mulher gostamos muito de cachorros. Temos uma família completa de Pomerânias aqui em casa. Neste país maltratado e que tanto nos maltrata, eles são nossa maior alegria. Amam-nos apenas porque existimos. E esteja certa de que somos recíprocos. De meu ponto de vista, agredir cachorros, estejam eles a latir ou não, é brutalidade pura e simples; exemplo de boçalidade e de desumanidade indesculpáveis. Não sei se Sir Winston Churchill de fato atirava pedras em cães pelo seu caminho, mas torço muito para que não o tenha feito. Diminuiria significativamente minha admiração pela figura histórica.
Como bem o demonstra o neurocientista David Grimm (https://www.sciencemag.org/news/2015/04/how-dogs-stole-our-hearts), cães reagem racional e afetivamente mais ou menos como crianças humanas o fazem – e produzem em nós (ao menos naqueles que são ‘normais’ dentre nós…) mais ou menos o mesmo tipo de reação que temos diante destas. Fazer mal a um cão é, por isso mesmo, fazer mal a alguém que sente o maltrato do mesmo modo como sentimos, e o interpreta do mesmo modo como interpretamos. Em suma, uma desumanidade, especialmente se considerarmos que cães, ao menos intencionalmente, não fazem mal a ninguém. Compará-los com os bolsonaros, como vemos, é muito injusto para com eles.
Com medo de perder a mão, ou o braço, eu jamais faria um cafuné num bolsonaro…
Red FOX
Também eu não faria festinha num Bolsonaro…
Quanto ao grande Churchill, creio que ele se referia a atirar pedras não propriamente no cachorro, mas para chamara-lhe a atenção e fazer com que calasse. Foi assim que compreendi seu pensamento…
Um abraço,
Maria Helena