As vítimas do drama da Terra Indígena Wajãpi no Amapá. Por Aldo Rebelo
As vítimas do drama da Terra Indígena Wajãpi no Amapá
ALDO REBELO
PUBLICADO ORIGINALMENTE NO SITE BONIFÁCIO, EDIÇÃO DE 19 DE AGOSTO DE 2019
No final do último mês de julho, o Brasil e o mundo foram impactados pela notícia de mais uma tragédia alcançando as populações indígenas brasileiras: garimpeiros teriam invadido a Terra Indígena Wajãpi, no estado do Amapá, e entre outras violências cometidas, assassinado o líder Emyra Waiãpi.
O episódio desencadeou uma torrente de denúncias e proclamações de políticos, ONGs, celebridades e organismos internacionais. Um senador do Amapá apelou para a OEA e a ONU, os artistas Caetano Veloso e Milton Nascimento ocuparam as redes sociais, repercutindo o crime e manifestando solidariedade aos atingidos.
A alta comissária de Direitos Humanos da ONU, a ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, condenou o assassinato do cacique e aproveitou para vaticinar contra a mineração em terra indígena, que poderia levar, segundo ela, a “incidentes de violência, intimidação e assassinato”.
O problema é que as investigações preliminares da Polícia Federal e do Ministério Público não encontraram indícios nem do assassinato do líder indígena e nem da invasão dos garimpeiros. Emyra Waiãpi teria morrido afogado em um acidente ainda não totalmente esclarecido, e a terra indígena não apontava sinais de invasão, pelo menos recente.
Mas o estrago já estava feito. A mídia e as redes sociais mundiais já haviam acrescentado mais um capítulo de sangue aos “crimes” atribuídos ao Brasil contra os índios e as florestas.
O fato põe em evidência o encontro de três personagens que se atraem e se repelem no drama amazônico. O Brasil, uma nação indefesa e acuada por acusadores internos e externos, e vítima da desorientação de governantes incapazes de unir o país em torno de seus objetivos nacionais permanentes. As populações indígenas, duplamente vítimas: do abandono do Estado e da sociedade nacional, e vítima da chantagem de organizações internacionais, interessadas em fragilizar os vínculos dos índios com a comunidade nacional brasileira.
E os garimpeiros? Estes mestiços nordestinos convertidos em párias pelo Estado e pela sociedade nacional, são uma espécie de refugiados indesejáveis dentro de sua própria pátria. Não há por eles uma palavra, um gesto ou um pensamento humanitário. Contra eles ergue-se uma campanha sórdida da qual tratarei em artigo próximo.
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