Rumos perigosos. Por Edmilson Siqueira
RUMOS PERIGOSOS
EDMILSON SIQUEIRA
…tudo isso anda esbarrando na mais completa inapetência para governar justamente de quem se esperava fosse o condutor mór das mudanças. Sim, o presidente eleito pela esperança de milhões de brasileiros, anda mais atrapalhando que ajudando no projeto de país que ele mesmo prometera em seus alucinados discursos…
Sim, há avanços do atual governo em direção a uma economia de mercado que tire o Brasil do buraco em que se encontra, patinando num crescimento do PIB que diminui a cada previsão semanal e em reformas que parecem estar presas no patrimonialismo, no conchavo, no toma-lá-dá-cá invisível aos olhos, mas mortais aos nossos bolsos. Há até há um certo otimismo no ar com o futuro próximo. Há investidores loucos para botar seu rico dinheirinho num pais tão cheio de riquezas naturais e com a melhor agricultura do mundo, com um potencial turístico maior que França e Espanha juntas e com um mercado enorme à espera apenas de empregos e salários para fazer uma festa do consumo. Sem falar das riquezas minerais, petróleo incluído.
Há avanços no enxugamento da máquina pública, em governos estaduais que estão surpreendendo pela eficácia (não são maioria, mas são exemplos), em prefeituras inovadoras em matéria de gestão municipal, em medidas que, aos poucos, vão destravando os gigantescos entraves burocráticos que tanto atrasam a economia e tanto dificultam o empreendedorismo tão necessário para o país.
Mas tudo isso anda esbarrando na mais completa inapetência para governar justamente de quem se esperava fosse o condutor mór das mudanças. Sim, o presidente eleito pela esperança de milhões de brasileiros, anda mais atrapalhando que ajudando no projeto de país que ele mesmo prometera em seus alucinados discursos.
… E é, talvez, nesse campo, o policial, o campo da corrupção, cujo combate foi a maior bandeira do capitão-candidato, que sua inabilidade pode arrasar seu governo ainda no primeiro ano. Seu aparente ciúme dos bons índices de popularidade do seu ministro da Justiça, Sérgio Moro, é algo que nem deveria passar pela cabeça de qualquer governante.
O fato de se preocupar tanto com radares móveis (que, sim, atrapalham muita gente, principalmente seus amigos caminhoneiros, mas salvam muitas vidas), com cadeirinha de bebê nos carros (ninguém precisa ser obrigado a comprar, embora a obrigação salve vidas, mas o presidente precisa falar sobre isso?), com pontos em carteira de motorista (vai aumentar a desobediência às normas de trânsito?) demonstra que seu discurso é raso, seu pensamento limitado e sua agenda é totalmente pobre diante de tantas e tão importantes questões que precisam de seu posicionamento e incentivo.
Com tanto congestionamento político provocado pelo presidente – e por seus filhos, ora bolas! – pautas urgentes e essenciais estão sendo dominadas por gente que não deveria estar à frente do processo com tanta exposição nas mídias todas. É o caso do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, assumindo cada vez mais o papel de condutor das reformas no lugar do presidente; é o caso de deputados obscuros até recentemente, como esse tal de Baleia Rossi, elogiado por muita gente como dono de uma reforma tributária com mais chances de ser aprovada que a do Planalto; é o caso de gente da pior laia, como Renan Calheiros e Roberto Requião que, de repente, assumem o protagonismo para aprovar uma lei que amordaça o trabalho da Lava Jato e de outras atuações policiais e jurídicas, mirando cultivar ainda mais a impunidade num país onde ela sempre campeou livre e zombando com a cara de todos os brasileiros honestos.
E é, talvez, nesse campo, o policial, o campo da corrupção, cujo combate foi a maior bandeira do capitão-candidato, que sua inabilidade pode arrasar seu governo ainda no primeiro ano. Seu aparente ciúme dos bons índices de popularidade do seu ministro da Justiça, Sérgio Moro, é algo que nem deveria passar pela cabeça de qualquer governante. Moro é um símbolo de honestidade que emprestou sua credibilidade a um governo que, sem ele, já teria perdido muito mais pontos nas pesquisas. Dentro ou fora do governo, Moro será Moro. Complicar sua atuação, como vem ocorrendo, é algo que pode custar caro, mas muito mais caro ao futuro do Brasil, futuro com o qual o presidente se diz constantemente preocupado.
A recente aprovação da lei de abuso de autoridade e as desavenças com a Polícia Federal e a Receita, são provas mais que evidentes de que algo anda saindo, e muito, da linha. A interferência política em nomeações que são próprias de superintendentes e se revestem de caráter técnico, revela um autoritarismo torto, incompatível com as relações democráticas que devem existir no governo. E uma lei como essa – repudiada por praticamente toda classe jurídica do país, com as exceções de praxe – jamais deveria ser colocada na pauta, mas não só foi, como foi aprovada a toque de caixa e com apoio do partido do presidente, o que revela a falta de liderança. Se não houver um veto total, Bolsonaro terá rasgado metade do seu discurso eleitoral e perdido mais da metade dos votos que teve.
Enfim, nem foram completados oito meses de governo e já temos motivos de sérias preocupações justamente nos dois campos mais sensíveis do país: a economia e a segurança. Cabe ao presidente endireitar esses tortuosos caminhos que começam a ser adotados. Se não o fizer, seu governo pode acabar muito antes do que ele deseja e a disputa pela sua sucessão inibirá toda e qualquer medida que queira tomar para retomar o controle. A “nova política”, por total falta de definição e de rumo, está perdendo de goleada para a velha, comandada por conhecidas raposas que encontraram terreno fértil no galinheiro bolsonarista.
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Edmilson Siqueira– é jornalista