A verdade, nada mais que a verdade. Por Antônio Melo
A VERDADE, NADA MAIS QUE A VERDADE
ANTÔNIO MELO
… Moro mandou prender muitos cidadãos acusados de tentativa de obstrução de justiça ao querer destruir documentos, ocultar provas, calar testemunhas. É bom não esquecer. A opinião pública, sem paixão, tem o direito à verdade.
Aqueles quatro bandidinhos pés-de-chinelos tiveram mesmo a capacidade de dar um totó na Abin e grampear os telefones dos presidentes da república, do senado, da câmara, de vários ministros do governo, do supremo, do STJ, de uma penca de juízes em diversos estados, da procuradora geral da república, dos procuradores da Lava Jato, de jornalistas, de parlamentares, advogados, de mais de mil pessoas? Foram capazes de clonar milhares de celulares, computadores, notebooks? de realizar mais de 5600 chamadas telefônicas para os celulares dos hackeados?
Você acredita que para realizar essa monumental façanha, singelamente utilizaram para essas operações a internet aberta e não a deep web, uma espécie de internet nas sombras (foi por ela que a Al Qaeda planejou os ataques do 11 de setembro às torres gêmeas) que é praticamente impossível de rastrear?
Para fazer a operação que se está anunciando precisariam não de quatro, mas de um exército de hackers e, certamente, de muitos e sofisticados equipamentos e softwares. Pode ser que depois apareça. Por hora, parece coisa de amador.
O ministro Sérgio Moro sempre baseou sua defesa sobre o conteúdo das conversas pirateadas com procuradores no fato de que tinha saído Telegram em 2017, que seu telefone tinha sido criminosamente hackeado, que todos os conteúdos haviam sido apagados até mesmo do servidor e que, como cidadão acima de qualquer suspeita, já entregara seu celular para a PF, o que não fizeram os procuradores supostamente envolvidos naquelas conversas pouco recomendáveis.
… Epa! Epa! Epa! Chama a OAB, chama a ABI. A sociedade precisa de proteção. A PF tem credibilidade, mas ela compõe a estrutura do Ministério da Justiça, sob o comando do sr. Sérgio Moro que pode até não estar, mas as evidências todas o apontam como cada vez mais encrencado nesse rolo
No olho do furacão, o senhor ministro, dizendo-se cansado, apesar de estar só a seis meses no cargo, some. Retorna e – coincidência- a PF desbarata a gang de malfeitores cibernéticos.
Nada contra coincidências. Tudo a favor no primeiro momento.
Mas aí o ex-juiz Sérgio Moro apressou-se a informar a todos os grampeados pelos pés-de-chinelos que o conteúdo do que andaram espiando nos celulares e computadores deles será destruído, incinerado.
Epa! Epa! Epa! Chama a OAB, chama a ABI. A sociedade precisa de proteção.
A PF tem credibilidade, mas ela compõe a estrutura do Ministério da Justiça, sob o comando do sr. Sérgio Moro que pode até não estar, mas as evidências todas o apontam como cada vez mais encrencado nesse rolo. Até para resguardar a Polícia Federal, seria bom que a Ordem dos Advogados e a Associação Brasileira de Imprensa acompanhassem as investigações em andamento.
Afinal de contas o ministro Sérgio Moro não vivia pedindo que fossem apresentados os arquivos que o Intercept afirma ter? Não disse que foi hackeado? Não cumprimentou a PF pelo excelente trabalho ao prender os hackers, reconhecendo, portanto, que são esses os originais do que vem sendo publicado pelo Intercept? O ministro é a autoridade legítima para mandar destruir os documentos apreendidos? Não seria apenas um juiz que teria essa autoridade? Ou ex-juiz também tem? Esses documentos não seriam as provas que poderiam inocentar o próprio Moro, Dallagnol? Ou seria o contrário? Destruir tais registros não seria obstrução de justiça?
Nunca é demais lembrar que ao longo de sua carreira de magistrado -e principalmente na Lava Jato, o juiz Sérgio Moro mandou prender muitos cidadãos acusados de tentativa de obstrução de justiça ao querer destruir documentos, ocultar provas, calar testemunhas. É bom não esquecer.
A opinião pública, sem paixão, tem o direito à verdade.
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Antônio Melo – Jornalista. Publicou recentemente o excelente “A Vingança”, pela Z Editora