Turbulência verde. Coluna Mário Marinho
TURBULÊNCIA VERDE
COLUNA MÁRIO MARINHO
Foi um filme de terror.
Assim o diretor de futebol do Palmeiras, Alexandre Mattos, resumiu a experiência que a delegação do Verdão viveu em seu voo rumo à Argentina, onde jogará pela Libertadores.
O avião saiu de Fortaleza com destino a Mendoza, onde enfrentará amanhã, terça, 23, o Godoy Cruz.
Poucos minutos antes do pouso o avião sofreu forte turbulência que culminou na arremetida.
Foi feita nova tentativa, seguida de nova arremetida e a decisão de pousar em Buenos Aires, onde a delegação ficou hospedada.
Veja abaixo o relato do diretor Alexandre Mattos
Turbulências e arremetidas fazem parte de voos.
A tripulação acha normal acontecimentos desse tipo e não admite medo, e muito menos, pânico.
Mas para os simples mortais, que somos nós, passageiros, a situação é terrível.
Lembro-me que há uns 30 anos peguei um avião em Congonhas, avião de pequeno porte, cerca de uns 30 passageiros, com destino a Presidente Prudente, distância de cerca de 550 quilômetros por estrada.
O avião deveria fazer um pouso em Londrina, PR, seguir até Presidente Prudente e depois Dourados, MT, seu destino final.
Com cerca de 20 minutos de voo, o comissário de bordo começou a servir o café. Na verdade, um simples cafezinho em copinho de plástico.
Não tinha chegado à metade do avião quando o comandante avisou que o serviço seria interrompido pois passaríamos por alguns minutos de turbulência. E ordenou que os cintos fossem atados.
Esses minutos duraram uma eternidade.
À medida que o tempo passava, mais aumentava a turbulência. Pela janela víamos o temporal que caia lá fora. E raios. E trovões.
O aviãozinho jogava para os lados, para cima e para baixo.
Num determinado momento se despencou em queda livre que pareceu durar horas. Foram só alguns segundos até que ele achou o seu “chão” e recebemos aquela pancada.
Logo o comandante avisa que estávamos nos preparando para pousar em Londrina.
Suspiro aliviado.
Eu estava indo para Presidente Prudente para a cobertura de um jogo de basquete que iria acontecer à noite.
Como era ainda de manhã, tomei a decisão: desço aqui em Londrina e viajo os 170 quilômetros restantes de ônibus.
À medida que o avião foi baixando, eu olhava pela janela à procura do aeroporto. E só via água: tudo inundado.
Foi aí que o avião arremeteu. E caiu no colo da turbulência.
Dentro do avião, as pessoas choravam, rezavam, gritavam.
Mas uns 10 minutos de turbulência e, como que por milagre, aparece o céu azul, céu de brigadeiro a cobrir a cidade de Presidente Prudente.
Descemos ainda meio tontos.
Uma senhora que estava perto de mim, ao chegar ao aeroporto, foi direto ao balcão e perguntou nervosa:
– O senhor sabe me dizer como está o tempo daqui até Dourados?
– Não senhora. Infelizmente não temos essa informação.
(É bom lembrar que o evento se deu há 23 anos, antes da facilidade da internet).
– Então, pode cancelar minha passagem: vou de ônibus.
A resoluta senhora considerou melhor cobrir os 450 quilômetros restantes de ônibus.
Eu voltaria à noite, depois do jogo, no último voo do dia.
À noite, no hotel, fui procurado por um diretor do time que precisava voltar naquela mesma noite para São Paulo e me propôs a troca.
Claro que aceitei.
Para ficar ainda melhor, fiquei sabendo que um ônibus leito saía de Presidente às 24 horas e chegava em São Paulo às seis da manhã.
Adivinha?
Claro que voltei de ônibus.
Ônibus macio, sem turbulências, viajando a 80 quilômetros por hora. E, de vez em quando, eu olhava pela janela e via o asfalto ali, bem pertinho.
Experiência semelhante passou o meu sogro, o sr. Antônio Teixeira da Silva. Ele saiu de Belo Horizonte e veio para São Paulo, onde seria figura importante em dois eventos.
O primeiro, seu centenário, o corrido no dia 21 de abril de 2019.
O segundo as comemorações de minhas bodas de ouro: 50 anos de casado com a Vera, sua filha.
Ao fazer o procedimento de aproximação no aeroporto de Congonhas, São Paulo estava sob forte temporal, o que obrigou o piloto a arremeter.
Não houve pânico nem gritarias, mas era evidente o nervosismo e o desconforto dos passageiros.
Poucos minutos depois, o comandante anunciou outra tentativa de pouso.
Ante o silêncio total, o avião deslizou calmamente no molhado asfalto de Congonhas.
O silêncio só foi quebrado quando pararam totalmente as turbinas e o meu sogro, às vésperas do 100 anos, deu um salto e gritou a plenos pulmões.
– Tamo no chão. Ninguém morreu. Tá todo mundo vivo.
Foi aplaudido de pé.
Veja os gols do Fantástico
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Mário Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
A aventura do seu sogro é muito melhor que a do Palestra. Parabéns pelos 100 anos dele e pelos 50 do seu casamento. Eu completaria os meus 50 em 16 de Julho, data da subida da Apollo 11, não tivesse me separado, depois me casado outra vez e depois me separado de novo… Abbraccioni.
Sílvio Lancelotti
Super Silvio! O Marinho ficou feliz com seu comentário…
A aventura do seu sogro é muito melhor que a do Palestra. Parabéns pelos 100 anos dele e pelos 50 do seu casamento. Eu completaria os meus 50 em 16 de Julho, data da subida da Apollo 11, não tivesse me separado, depois me casado outra vez e depois me separado de novo… Abbraccioni.
Sílvio Lancelotti