Negócio das Arábias. Por Aylê-Salassié F. Quintão*

NEGÓCIO DAS ARÁBIAS

AYLE-SALASSIÊ QUINTÃO

…Não tem qualquer espírito de boa intenção quem atua no sentido de desmoralizar uma Operação que detectou bilhões de reais desviados de programas e políticas públicas, e que hoje fazem falta aos projetos de educação e de saúde. Como uma fonte de água potável, este desvio vagaroso e sistemático do dinheiro do Estado veio contribuindo para o enriquecimento de algumas pessoas e grupos…

Desenvolvido com honestidade profissional, é difícil desqualificar um trabalho jornalístico. O caso Watergate, nos Estados Unidos, por exemplo. Inspirado, quem sabe, nos dois repórteres do The Washington Post, o jornalista, também norte-americano, Glenn Greenwald, correspondente de um blog de nome estranho, Intercept, desenvolve suas atividades no Brasil, difundindo informações obtidas por meios pouco convencionais. Algumas fogem dos limites éticos da profissão, e até deixam transparecer motivações políticas ou de gênero.

Sendo um estrangeiro, com direitos civis adquiridos por aqui, por ter reconhecida a sua relação conjugal com o deputado do PSOL, David Miranda, Greenwald dá a impressão de estar engajado numa ação coordenada no submundo, destinada a desmontar a Operação Lava Jato que, cujos agentes, correndo riscos e sofrendo ameaças, tenta, pela primeira vez, a longo de 500 anos, extirpar a corrupção do ambiente político brasileiro.

Aparentemente, o jornalista age em consonância com políticos condenados e presos por fraudes aos cofres públicos. Empoderado pelas omissões judiciais e sindicais, mostra-se, como estrangeiro, indiferente às leis que regulam a privacidade, sobretudo entre homens públicos. Protege-se, fazendo apologia à liberdade de imprensa, passando a ideia de ser o único detentor da verdade no cenário político brasileiro atual.

Vagarosamente, o Intercept, cujos repórteres são hackers, vai introduzindo, sem nenhum compromisso, a ética duvidosa da informação e da desinformação na imprensa do Brasil. O jornalista José Martí (2006), choraria de vergonha, se tivesse de contemplar o destino que se vai dando à “Nuestra América”

Nascido em Nova York, Greenwald foi companheiro de Edward Snowden, aquele funcionário do governo norte-americano que copiou e distribuiu para o mundo informações reservadas de Estado, sem medir consequências. Era uma questão de espionagem ou de vaidade pessoal, quase um distúrbio psíquico, e que passou perto de provocar uma guerra. Depois fugiu para a Rússia.

Aqui no Brasil, Greenwald, credenciado, inicialmente, como correspondente do jornal inglês The Guardian – não sei se ainda o é – , foi o canal de difusão dos documentos extraídos ilicitamente pelo espião Snowden. No caso do raqueamento de telefones do ministro da Justiça, dos procuradores federais e de outros políticos, o norte-americano dá a impressão de agir de forma similar. Escreve sem fonte, porque sua fonte é a invasão de privacidades, individuais, públicas ou privadas.

Vagarosamente, o Intercept, cujos repórteres são hackers, vai introduzindo, sem nenhum compromisso, a ética duvidosa da informação e da desinformação na imprensa do Brasil. O jornalista José Martí (2006), choraria de vergonha, se tivesse de contemplar o destino que se vai dando à “Nuestra América” …

Com o Intercept, propõe-se a interferir, intervir (intrometer-se) nas comunicações alheias para detectar a troca de mensagens entre autoridades. Ao conseguir as informações, procura passá-las, de alguma forma, para a grande mídia, numa atitude que o caracteriza como porta-voz ou lobista de alguém ou de alguma facção. Justifica-se escondendo-se atrás da livre circulação da informação.

Suas vinculações com políticos de oposição foram expostas pela revista “Veja”: “um ativista”, responsável pelo o que é classificado como ‘desinformação’, originada sempre de fontes anônimas, vazamentos ou interrupção mesmo de comunicações entre autoridades. As investigações vêm apontando essas atividades como uma ponte junto à imprensa nacional e internacional voltada para grandes negócios no campo da informação, nem sempre legais, administrados por políticos e partidos.

Ora, se não estamos diante de uma atividade de espionagem ou de uma invasão pura e simples da privacidade, ambas punidas pela legislação brasileira, enfrenta-se o caso de um suposto profissional de jornalismo, que frequenta, credenciado, digital ou analogicamente, o interior do aparelho de Estado, fazendo transitar informações sem origem.

Quase uma desonestidade corporativa, financiada não se sabe por quem. No caso das conversas entre o juiz Sergio Moro e os procuradores, o propósito “aparente” não é a notícia, mas desqualificação da Lava Jato e a libertação de Lula da cadeia. Assusta ainda mais, ver juízes imaturos juridicamente, como os do Supremo Tribunal Federal, dando abrigo a estratégias e manobras como essas, sacrificando a dignidade da lei e de seus membros.

Não tem qualquer espírito de boa intenção quem atua no sentido de desmoralizar uma Operação que detectou bilhões de reais desviados de programas e políticas públicas, e que hoje fazem falta aos projetos de educação e de saúde. Como uma fonte de água potável, este desvio vagaroso e sistemático do dinheiro do Estado veio contribuindo para o enriquecimento de algumas pessoas e grupos.

Dado o perfil dos negócios da Intercept, fica-se em dúvida se essa história do Greenwald não se trata da carcaça de uma carniça do que ainda restaria do defunto. Os valores subtraídos ardilosamente estariam sendo redistribuídos por aí, em tratativas nebulosas. A moralidade não parece fazer parte do comportamento ético dessa suposta empresa lobby – atividade também não reconhecida no Brasil -, nem de seus dirigentes, nem dos jornalistas em que se apoia, sejam eles brasileiros natos, estrangeiros naturalizados ou em vias de…


Aylê-Salassié F. Quintão*Jornalista, professor, doutor em História Cultural. Vive em Brasília.

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