Soberania do Congresso? Conta outra… Por Edmilson Siqueira

SOBERANIA DO CONGRESSO? CONTA OUTRA…

EDMILSON SIQUEIRA

…Balelas. A grande maioria dos deputados e senadores está louca para um aceno com vários zeros antes da vírgula, com um ministeriozinho pra chamar de seu ou com uma diretoria rentável para encaixar aquele sobrinho formado numa universidade de fim de semana no interior de Minas Gerais.

Nos últimos dias tem se falado bastante, pelo menos dentro do Senado e da Câmara, da soberania do Poder Legislativo. Não passa um dia sem que algum deputado ou senador, principalmente os presidentes das casas, não afirmem que eles são parte do poder e que, por isso, ou por outras razões, vão mudar o projeto vindo do Executivo, vão fazer do modo como eles pensam que deve ser feito, vão aprovar dentro do tempo do Parlamento e outras bobagens.

Bobagens porque todo mundo sabe que não é nada disso. Esse protagonismo repentino dos senhores deputados e senadores se dá por um único motivo: o presidente Jair Bolsonaro está tentando acabar com as “negociações políticas” tais como eram feitas nos governos anteriores.

Para quem não sabe – e acho que são pouquíssimos brasileiros que não sabem – a “negociação política” se baseava em dois aspectos mais importantes: 1) em troca do voto e apoio do partido inteiro, o presidente da legenda ganhava um ou mais Ministérios, geralmente de porteira fechada, e dele fazia o que bem entendia para enriquecer a si próprio e aos amigos todos do partido; 2) o apoio também vinha em troca de favores imediatos, um cargo importante para um correligionário ou mesmo um valor mensal ilícito como foi no caso do Mensalão.

Além desses dois aspectos, havia outros que se proliferaram durante o escândalo do Petrolão – o maior do mundo – que comportavam farta distribuição de dólares, euros e reais, além de apartamentos, sítios e outros objetos de sedução parlamentar, principalmente às vésperas das eleições. Um fenômeno curioso, que só acontece em países altamente corruptos como o Brasil: muitos candidatos a cargos majoritários, que entravam no criminoso esquema, saíam das eleições, ganhando ou perdendo as ditas cujas, mais ricos do que entravam. Mas isso é só um detalhe.

Com o fim da farra, ou pelo menos a tentativa de extinguir essa prática, como vem ocorrendo no atual governo, o Congresso decidiu ser “soberano”. E como muitos dos projetos que estão saindo do forno presidencial não são lá muito populares, criou-se um cenário perfeito para o congressista que, ao não ser devidamente comprado pelo Executivo, sair por aí bradando que o Congresso é soberano, que “aqui não é a casa da Mãe Joana…”

Balelas. A grande maioria dos deputados e senadores está louca para um aceno com vários zeros antes da vírgula, com um ministeriozinho pra chamar de seu ou com uma diretoria rentável para encaixar aquele sobrinho formado numa universidade de fim de semana no interior de Minas Gerais.

Só que, ao fazer birra e tentar travestir essa birra de uma honorabilidade impossível, os senhores parlamentares vão acabar sendo responsabilizados pela continuação da desgraça que o PT e o PMDB impuseram ao país na farra com o dinheiro público e na péssima administração que produziram entre 2003 e 2018, quando a honra era tão real quanto uma nota de três dólares.

E, além do mais, insistem em aprovar projetos que podem acabar – ou diminuir tanto os poderes que inviabilizará investigações – com a Lava Jato, atacando também, de forma inaceitável, diga-se, a figura do ex-juiz e hoje ministro Sérgio Moro.

A resposta que o país vai dar a esse possível destrambelhamento geral pode ser nas ruas ou nas urnas. Ou em ambas.

Domingo agora haverá manifestações contra isso que chamei de destrambelhamento, mas centradas na Lava Jato e em Moro. É inacreditável que a população de um país tenha que sair às ruas para evitar que uma operação que persegue corruptos seja extinta pelos próprios corruptos, e para defender a honra – aí sim, verdadeira – de um juiz que estancou quase totalmente a criminalidade de colarinho branco, que mostrou caminhos a serem seguidos por outros juízes para combater a farta e, até então, impune, corrupção brasileira, talvez a maior do mundo.

Por essas e outras, não dá pra se falar em soberania ou honra de um Congresso que patrocina, há décadas e décadas, a desgraça brasileira, se enchendo de dinheiro público roubado aos mais pobres. A classe política brasileira, em sua grande maioria, não pode posar de inocente nem, jamais, ter poder para estancar uma cruzada contra a criminalidade. Ela está contra o Brasil, contra o povo e pode sofrer sérias consequências se não adotar uma postura honesta e deixar de viver de mamatas, mordomias e roubalheiras.

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Edmilson Siqueira é jornalista

 

 

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