Um agosto sem fim
“O mês de agosto chegou”, não disse Júlio César ao vidente que havia previsto uma tragédia para a data. E o vidente não respondeu: “Mas ainda não passou”.
É o agosto mais longo de todos os tempos. Ultrapassou setembro, chegou a outubro, ameaça chegar às festas e férias de fim de ano, quando a crise será interrompida porque ninguém é de ferro. A questão do impeachment se transformou num jogo de xadrez – que nos perdoem por usar essa palavra perto desses personagens. Todos calculam várias jogadas à frente, embora saibam que, no final, a questão será resolvida pela força bruta. Quem tiver votos ganha a partida. Só que esses votos não estão cristalizados. O Governo, se agir com habilidade e distribuir cargos suficientes, ganha parlamentares para seu lado; novas revelações – como a delação premiada sobre pixulecos para um dos filhos de Lula – levam votos para o impeachment. Manifestações contra o Governo, Dilma recua várias casas; quem mostrar força no Congresso atrairá os parlamentares que gostam de ficar ao lado do vencedor, e catar pelo menos alguma sobra. No caso Collor, um deputado de sua tropa de choque viajou de São Paulo para Brasília para votar contra ele, no momento em que viu que o impeachment seria vitorioso. Esqueça moralidade, ética, não pergunte por que gente confiável se junta a bandidos notórios. É jogo decisivo. Delações premiadas serão tratadas conforme as vítimas: instrumento moralizador quanto atingem adversários, dedoduragem vil quando atingem aliados. Se Dilma fica ou cai, não importa: agosto continua. |