confidência

Confidência de um velho esculápio. Por Meraldo Zisman

Para falar a verdade, não sei o motivo destes meus gostos de ajudar às pessoas sofredoras e deste meu vício pela leitura.  Não gostei muito de esportes, e até hoje considero-os uma sublimação do espírito guerreiro.  Apesar de me achar um desajeitado em fazer amizade, devido à minha timidez nata, terminei sendo taxado de orgulhoso. Confesso, às vezes, mesmo após velho, tenho vontade de colocar uma prancheta, pendurada no pescoço, com os dizeres: “Não sou chato, sou tímido e acanhado”.

Deus foi bondoso comigo e proporcionou-me minha mulher, meus filhos e o sentimento de família.

O que me marcou na minha infância foi quando deixei o Colégio Israelita e fui estudar no Colégio Osvaldo Cruz, no Recife. Pela primeira vez, pressenti, ao sair do meu gueto social, o preconceito antissemítico.

Na minha adolescência, deleitava-me com a Guerra Civil Espanhola descrita por Ernest Hemingway (1899 – 1961) no seu emblemático — Por quem o sino dobra? Suas touradas, lutas de boxes e valentias povoaram minha mente em formação.

Dois fatos marcaram por demais minha vida pós-graduação: uma quando fui ser médico residente (aprendiz) no Hospital dos Servidores do Estado (Rio de Janeiro) e a outra quando fui realizar estágio na Inglaterra. Daí passei a ter uma visão mais ampla das coisas.

Comecei minha vida universitária pesquisando e denunciando a fome ancestral da maioria da população infanto-juvenil brasileira.  Como não foi de estranhar, atraí as críticas dos ortodoxos e também dos heterodoxos que não conseguem sair das suas desnutridas pesquisas.

Poucas foram as pessoas que me entenderam em um mundo cada vez mais interessado pelo dinheiro e pelo egoísmo. Continuo a ser o que sou. Muitos me consideram um besta, um petulante ou um introvertido.

Durante todos esses anos dedicados à Medicina, permaneci fiel às minhas leituras e muito mais à minha consciência.  Para mim, o computador me facilitou a escrever, porém, pretendo usá-lo apenas como editor de texto ou facilitador de alguma consulta na Internet. Apesar de achar uma maravilha a facilidade da comunicação, continuo acreditando no valor das cartas.

Sempre fui muito trabalhador, interessado em tudo o que acontece em minha casa e em todo o mundo. Não desejo tomar o lugar da juventude e suas peripécias. Desde que o mundo é mundo as gerações se sucedem… E o pior é ser considerado um velho transviado. Não ando por aí fazendo alarde nem de minhas dores, nem de meus pesadelos e muito menos das minhas frustrações.  Escrevi sobre minha vida pessoal nos livro Jacob da Balalaica (sobre meus pais), Dois Dedos de Prosa Eu Digo, este ultimo denuncio as querelas paroquianas das nossas Universidades.

Escrevi também Nordeste Pigmeu e outro livro sobre Violência, a Metamorfose do Medo, mencionados parcamente no Brasil.
Jamais em Pernambuco!

Só ao envelhecer temos condições de nos perguntar sobre o que fizemos toda a vida.

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Meraldo Zisman Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Álvaro Ferraz.

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