Gravidez na Adolescência. Por Meraldo Zisman
[ Violência – IX / X]
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
MERALDO ZISMAN
No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE o número de mulheres acima de dez anos que tiveram filhos aumentou de 49,32% para 60,8% entre 1970 e 2000…
A Organização Mundial da Saúde considera como adolescência o período de vida entre os 10 e os 19 anos.
Quando a violência ocorre entre jovens desperta interesse e curiosidade entre os adultos e se for acompanhada de sexualidade é garantia de notícia estrondosa. O advento dos métodos anticonceptivos, a emancipação feminina e os avanços dos meios de comunicação despertaram nos jovens a possibilidade de exercerem sua sexualidade plena.
Na classe média urbana, onde exerço a minha profissão há mais de 60 anos, desconheço um pai ou uma mãe que de bom grado aceitam uma gestação indesejada na filha quando adolescente, sobremaneira se for mãe solteira. A maioria tenta um casamento forçado ou a saída pelo abortamento. Essa é a realidade nas classes média e altas. E que dificilmente vem à tona.
As adolescentes pobres, que pertencem à grande maioria da população, passam por abortos, quando realizados, feitos por curiosas. Ou vão ser atendidas nas maternidades, como indigentes. Fui plantonista de maternidade do estado e somente quem viveu os dramas que ali ocorrem sabe das consequências de tais procedimentos abortivos.
… com a política de bolsa família, bolsa gestação, bolsa atletismo e outras tantas, o resultado foi o aumento do número de adolescentes grávidas. Crianças “engravidadas” passaram a gozar de certos privilégios. Ficar grávida tornou-se uma prerrogativa para a obtenção de determinados benefícios. Resultado: houve no Brasil um aumento significativo do número de adolescentes grávidas.
Continuo alerta ao problema e sei que as gestações nessas jovens adolescentes vêm aumentando tanto que viraram pauta para a Saúde Pública, que agora tem outros nomes: Saúde Comunitária ou Coletiva.
Costuma-se falar de dados de países geograficamente longínquos como se fossem fatos passados há muito tempo. Acredito que é para não ferir susceptibilidades. Cito o Quênia, país que está entre os mais mal colocados no ranking de desenvolvimento humano, assim como a maioria dos países da África Subsaariana. O governo do Quênia criou o slogan: “Crianças não devem ter crianças”. (citado no livro de minha autoria: Violência, a Metamorfose do Medo, editado em 1993 – edição do autor).
Conforme dados de 2010, divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU), esse país apresenta Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,470, ocupando 128° lugar no ranking mundial que é composto por 169 nações. A subnutrição atinge 32% dos quenianos e a taxa de mortalidade infantil é de 62 para cada mil nascidos vivos.
A pontuação do Brasil é de 0,699, ocupamos a 73° posição no ranking mundial. Vale mencionar que estamos estacionados nessa pontuação desde o ano de 2010.
Aprendi com os americanos do Norte, e com os ingleses, que para cada dólar doado deve-se gastar dois para saber se o destino final da doação melhorou ou piorou uma condição humana ou o cuidado com o planeta, pois não poucas vezes a intenção da doação é totalmente desvirtuada.
O que sei é que nesses últimos anos, com a política de bolsa família, bolsa gestação, bolsa atletismo e outras tantas, o resultado foi o aumento do número de adolescentes grávidas. Crianças “engravidadas” passaram a gozar de certos privilégios. Ficar grávida tornou-se uma prerrogativa para a obtenção de determinados benefícios. Resultado: houve no Brasil um aumento significativo do número de adolescentes grávidas.
E quanto à classe social, basta olhar os processos criminais relativos à gravidez precoce. O resultado dessa rápida análise será claro: os réus são, em sua maioria, moradores da periferia, das “favelas”, dos mocambos ou das palafitas.
Lembro que a desnutrição intrauterina é a maior violência oculta e a mais grave para os seres humanos, sem falar em outros animais. E é muito mais intensa nas gestações em adolescentes das classes sociais pobres. Uma criança carregando outra no útero…
Pobreza e gravidez não se combinam, ainda mais entre dois organismos humanos, ambos em fase de desenvolvimento e crescimento.
No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE o número de mulheres acima de dez anos que tiveram filhos aumentou de 49,32% para 60,8% entre 1970 e 2000. O IBGE, com base no censo de 2000, mostrou que de 1991 a 2000, o número de jovens de 10 a 14 anos que foram mães pela primeira vez quase duplicou: subiu 93,7%. O segundo maior aumento foi na faixa de 15 a 19 anos, 41,5%.
E quanto à classe social, basta olhar os processos criminais relativos à gravidez precoce. O resultado dessa rápida análise será claro: os réus são, em sua maioria, moradores da periferia, das “favelas”, dos mocambos ou das palafitas. E as vítimas, além da nova liberdade sexual, muitas vezes engravidam por estarem se prostituindo (por necessidade) sem conhecer ou utilizar qualquer tipo de contraceptivo.
Reconhecer o óbvio é muito mais difícil do que eu imaginava.
ACOMPANHE A SÉRIE “VIOLÊNCIA”, DO AUTOR; SERÃO DEZ ARTIGOS. VEJA OS QUE JÁ SAÍRAM:
artigo I – Medicina e Política. Por Meraldo Zisman
artigo II – A Epidemiologia algorítmica na prevenção da violência. Por Meraldo Zisman
artigo III – Células espelhos. Por Meraldo Zisman
artigo IV – Violência Interpessoal. Por Meraldo Zisman
artigo V – O Medo Ancestral. Por Meraldo Zisman
artigo VI –Violência e Drogas. Por Meraldo Zisman
artigo VII – Apreciações gerais e tipologia da violência. Por Meraldo Zisman
artigo VIII – Violência Oculta. Cripto-violência. Por Meraldo Zisman
COMO DE COSTUME, UM GRAND EARTIGO, DR. MERALDO. “O que sei é que nesses últimos anos, com a política de bolsa família, bolsa gestação, bolsa atletismo e outras tantas, o resultado foi o aumento do número de adolescentes grávidas. Crianças “engravidadas” passaram a gozar de certos privilégios. Ficar grávida tornou-se uma prerrogativa para a obtenção de determinados benefícios. Resultado: houve no Brasil um aumento significativo do número de adolescentes grávidas.”