Por que, Porque e Porquê. Por quê? Por Josué Machado

POR QUE, PORQUE e PORQUÊ. POR QUÊ?

JOSUÉ MACHADO

   De vez em quando, o pessoal de jornais e revistas de generalidades se confunde com o uso de “por que”, “por quê”, “porque” e “por quê”. Por que será? 

  Exemplos de aplicação correta dessas formas, em alguns exemplos com base no que conta a jornalista brasileira Claudia Wallin, autora do livro “Um pais sem excelências e mordomias”, sobre a Suécia, onde está radicada:

 POR QUE os juízes suecos não têm direito, como os brasileiros, a auxílio-moradia, auxílio-saúde, auxílio-creche, auxílio-educação ou auxílio-funeral? POR QUÊ?

Quer saber o PORQUÊ disso? Ora, PORQUE o jumento zurra, e o galo faz cocoricó!

POR QUE o juiz sueco, Thed Adelswärd, especialista em ética jurídica, considera imorais os privilégios de juízes brasileiros e vai trabalhar pedalando sua própria bicicleta?

E POR QUE os 360 desembargadores de São Paulo têm direito a carro, gasolina e  motorista pagos pelo povo? POR QUÊ?
Ora, ora, PORQUE Adelswärd prefere a bicicleta ao metrô e ao ônibus.

É  PORQUE os juízes brasileiros querem chegar logo ao trabalho, pois são loucos pra trabalhar.

E PORQUE o elefante brame, e o galo faz cocoricó!

POR QUE os juízes da suprema corte sueca não têm nem carro, nem motorista, nem gasolina pagos pelo Estado, como os daqui? E nem têm auxiliares (os “capinhas”) que lhes ajeitem a poltrona-trono  quando se sentam e se levantam nas sessões da Corte, como os do nosso STF? E que os ajudem a vestir as togas e lhes sirvam café? POR QUÊ?
Ora, PORQUE o abutre crocita, e o galo faz cocoricó!

Consolo: pelo menos Suas Excelências AINDA não têm (que se saiba) quem os limpe, lave e enxugue quando vão à casinha de paredes de mármore de Carrara e cristais da Boêmia em seus luxuosos palácios de Justiça.

POR QUE o insigne presidente do STF, Zé Antônio Dias Toffoli, contrariando o regimento do tribunal, escolheu o eminente colega ministro Alexandre de Moraes para pressionar os editores da revista “Crusoé”?

Será PORQUE se considerou ofendido pela reportagem “O amigo do amigo de meu pai”?

E PORQUE um juiz importante como ele não pode jamais ser deslustrado?

E PORQUE se lembrou de que Moraes pegava pesado quando foi Secretário de Segurança Pública de São Paulo e podia usar sua experiência policial?

E PORQUE se esqueceram ambos de que a Lei de Segurança Nacional invocada por eles para a lambança é instrumento ditatorial?

Ora, a dupla fez tudo isso PORQUE se esqueceu de que em nossa democracia, ainda que periclitante, a polícia investiga, a procuradoria acusa, o juiz julga, e o réu tem direito a defesa.

E também PORQUE o gorila grunhe, guincha, ronca e  assobia. E o galo faz cocoricó!

PARA QUEM QUEIRA LEMBRAR OS PORQUÊS DE CADA UMA DAS FORMAS EXEMPLIFICADAS:

1) Escreve-se “por que” (separado, sem circunflexo) em dois casos —
a) Em frases interrogativas, se “por que” não estiver no fim do período:
POR QUE os políticos e juízes são assim tão dedicados?
– POR QUE vivem com tanta simplicidade?

b) Quando se puder substituir “por que” por “pelo qual”, “pela qual”, “pelos quais”, “pelas quais”:
É incrível a situação POR QUE passa a pátria amada. (igual a “pela qual”.)
– As aflições POR QUE passa…

2) Escreve-se “por quê” (separado, com circunflexo) em fim de frase:

Eles afanam nossa bufunfa POR QUÊ?
– Eu sei POR QUÊ.
– Não sei POR QUÊ, mas a coisa vai mal.

3) Escreve-se PORQUÊ, numa só palavra, com circunflexo, quando vier precedida de artigo ou outro modificador, isto é, quando funcionar como substantivo:
A grafia dO PORQUÊ varia com o significado na frase.
– SEUS PORQUÊS só você entende.
– O PORQUÊ dos desvios ficou claro no inquérito.

4) Escreve-se PORQUE, numa só palavra, sem circunflexo, quando define causa ou explicação:

Conjunção adverbial causal
Foi preso PORQUE afanou muito.
– O chão está molhado PORQUE choveu.

Conjunção coordenativa explicativa
Choveu à noite, PORQUE o chão está molhado.
– Representou bem, PORQUE havia decorado as falas.

Nota: quando explicativa, a conjunção PORQUE vem precedida de vírgula.

COCORICÓ!!!

 

 

 

 

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JOSUE 2Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade

 

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