Direita? Esquerda? Por Edmilson Siqueira

Direita? Esquerda?

Edmilson Siqueira

…Em primeiro lugar é preciso que fique claro que socialismo, fascismo e nazismo têm muito mais pontos em comum do que diferenças quando aplicados na prática. E o primeiro e definitivo ponto em comum que as três apresentam é a origem totalitária. Todos os manifestos de origem mostram que o objetivo sempre foi fazer um Estado forte, com um governo dominador e senhor dos destinos do povo…

A discussão sobre as posições das ideologias no espectro político ganhou uma amplitude que, se por um lado revela o atraso do debate político atualmente no Brasil, por outro pode significar uma ampliação no entendimento do que elas significam. E isso é muito mais importante do que definir se um governo é de direita ou de esquerda. Mesmo porque é na radicalização do entendimento e da aplicação da ideologia que mora o perigo. Governos moderados de centro direita ou de centro esquerda tiveram bons e maus momentos no mundo, mas nada comparado com o que fizeram o fascismo na Itália, o nazismo na Alemanha e em parte do mundo e o socialismo iniciado na Rússia e que espalhou seu horror pelo império soviético. E também Franco na Espanha e Salazar em Portugal, para ficarmos nos mais óbvios ditadores do século passado. Atualmente, regimes totalitários de esquerda como da Coreia do Norte (iniciada em 1948), de Cuba (iniciado em 1959) ou da Venezuela (1999) são exemplos negativos do que o radicalismo ideológico pode fazer a um país.

Em primeiro lugar é preciso que fique claro que socialismo, fascismo e nazismo têm muito mais pontos em comum do que diferenças quando aplicados na prática. E o primeiro e definitivo ponto em comum que as três apresentam é a origem totalitária. Todos os manifestos de origem mostram que o objetivo sempre foi fazer um Estado forte, com um governo dominador e senhor dos destinos do povo. Não há dúvida algumas que os expoentes das três ideologias – Stalin, Mussolini e Hitler – tentaram e conseguiram dominar os povos de seus respectivos países (e de muitos outros também, no caso de Stalin e, bem menos, de Hitler) com métodos usuais em ditaduras brutais: extermínio físico de adversários, intimidação da população, leis severas incluindo pena de morte por crime contra segurança nacional (o que abrange uma série de atos dos mais banais aos mais efetivamente perigosos), prisão perpétua, exílio, detenção sem motivo aparente etc.

…Outras semelhanças entre as três ideologias deveriam banir completamente o debate sobre esquerda e direita. Minúcias de como os totalitários governos de matizes diferentes se comportam perante a economia nem deveriam entrar na discussão…

Ao mesmo tempo, dominam-se os meios de produção, a censura à imprensa e às artes em geral é praticada ferozmente, o direito de associação é totalmente controlado. Se em regimes ditos de direita alguns dos meios de produção tiveram liberdade é porque foram escolhidos pelo poder para, junto com o governo, tocar a economia. Nas ditaduras de direita não há empresário adversário do governo que se dê bem.

… o verdadeiro debate, quando tantos se arvoram a falar de direita e esquerda, deveria ser entre totalitarismo e liberdade. Regimes totalitários, sejam de qualquer matiz, servem a interesses específicos e empobrecem o povo enquanto enriquecem governantes.

Tanto no socialismo como no fascismo e no nazismo a violência como método para se manter no poder foi largamente aplicada. Os campos de concentração nazistas, por exemplo, foram copiados literalmente dos campos de concentração que Stalin criou na Rússia, para onde eram enviados os “inimigos” do governo para morrerem de frio, de fome ou de qualquer doença que pudesse progredir por falta de tratamento adequado. O fascismo não foi menos violento com o povo italiano. E a mistura dos dois, nazismo e fascismo, também dominou, torturou e matou espanhóis e portugueses.

Outras semelhanças entre as três ideologias deveriam banir completamente o debate sobre esquerda e direita. Minúcias de como os totalitários governos de matizes diferentes se comportam perante a economia nem deveriam entrar na discussão: Stalin com o poder total sobre a produção industrial e agropecuária levou a Rússia e seus satélites a empobrecerem até o debacle total nos anos 80 do século passado. Ditaduras de “direita” também não foram felizes na criação de riquezas que pudessem ser usufruídas pelo povo.

Assim, o verdadeiro debate, quando tantos se arvoram a falar de direita e esquerda, deveria ser entre totalitarismo e liberdade. Regimes totalitários, sejam de qualquer matiz, servem a interesses específicos e empobrecem o povo enquanto enriquecem governantes. E o totalitarismo existe na radicalização dos métodos de dominação de um governo sobre a população, seja esse governo de direita ou de esquerda. E, é fato, os países mais desenvolvidos do mundo, onde o povo, em sua grande maioria, pode usufruir das riquezas produzidas, não têm históricos de governos radicais à direita ou à esquerda.

Portanto, se o debate atual servir para botar na cabeça de mais gente que o totalitarismo oriundo da radicalização ideológica é o grande mal a ser enfrentado, a discussão não terá sido em vão.

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Edmilson Siqueira é jornalista

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