A Terra é chata. Coluna Carlos Brickmann
A TERRA É CHATA
COLUNA CARLOS BRICKMANN
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 7 DE ABRIL DE 2019
Paulo Guedes defende sozinho a reforma da Previdência, a votação mais importante que está na Câmara. Sérgio Moro defende sozinho seu pacote anticorrupção, a votação mais importante que está no Senado. O presidente Bolsonaro, enquanto isso, toma decisões: a) encontra-se com Romero Jucá e promete abandonar a expressão “velha política” (de agora em diante, diz, é a “boa política” contra a “má política”); b) anuncia que, ao que tudo indica, não mais haverá horário de verão; c) diz à imprensa, mas não ao principal interessado, que na segunda-feira deve demitir o ministro da Educação, que replicou dizendo que não vai entregar o cargo. Demissão “um dia desses” é novidade. Mais novidade é demitir um ministro que, qual Viúva Porcina, foi sem nunca ter sido. Como demitir alguém que, em mais de três meses, não chegou a exercer o cargo? Já o ministro tem toda a razão ao dizer que não vai entregar o cargo: se o cargo nunca foi exercido por ele, como entregá-lo?
Esperava-se que, em Israel, o presidente assinaria acordos que trouxessem ao Brasil a tecnologia de agricultura em terras áridas, que poderia fazer do Nordeste uma região próspera, uma reedição do trabalho do agronegócio. Aliás, não eram acordos desse tipo que o ministro Marcos Astronauta Pontes esteve lá negociando? Esperava-se que o presidente estivesse na luta para aprovar pelo menos a Previdência, que permitiria ao país respirar e crescer.
Nada disso: como diz um guru do presidente, a Terra é chata. Muito chata.
Causa e efeito
Não é a mídia esquerdista, não são sociólogos petistas enrustidos, não é “pesquisa fake”: é uma empresa de investimentos de excelente reputação, a XP, que contrata pesquisas para orientar investidores, que mostra nova queda na popularidade de Bolsonaro.
O presidente perdeu, em um mês, mais 2 pontos. Hoje, seu Governo é bom ou ótimo para 35% do eleitorado (eram 37%); e ruim ou péssimo para 26% (eram 24%). Para Bolsonaro, o melhor resultado da pesquisa é que 62% acham que ele representa a nova política.
Nhô ruim, nhô pior
E, mesmo com as trapalhadas do Governo, está difícil escolher outra corrente política. O PSDB, além de ter saído estilhaçado, está sob o comando formal de Alckmin, mas o comando real é de Doria. E a turma de um não se bica com a turma do outro. O DEM pode não admitir, mas com três ministros e as demonstrações de afeto entre Bolsonaro e ACM Neto, é claro que é o partido político governista mais estruturado (e que até agora não conseguiu botar ordem na casa). E o PT e seus penduricalhos, mesmo beneficiados por uma inacreditável falha da liderança do Governo, que os deixou sozinhos no diálogo do ministro, nada tinha a dizer senão insultos e grosserias. Não dá.
Desculpe o mau jeito
Bolsonaro voltou de Israel com muita disposição: já se reuniu com vários dirigentes de partidos e seis lhe prometeram apoio à reforma da Previdência, embora não se mostrem dispostos a integrar a base do Governo. Bolsonaro lhes pediu desculpas pelas caneladas. Os dirigentes prometeram, e talvez até cumpram a promessa de apoiar a reforma. E Bolsonaro talvez até deixe de distribuir caneladas. Mas seu filho Carlos, o 02, continua pronto para agir.
Meus caros amigos
Quem vem sendo atendido, na medida do possível, é o agronegócio. Sua representante, a ministra da Agricultura, trabalha em silêncio e ganha todas. Agora, Bolsonaro assinou o decreto que dá um bom desconto na conta de luz dos produtores rurais. Com isso, o Governo gastará R$ 3,4 bilhões por ano.
Outros amigos
Bolsonaro promete também assinar, nos próximos dias, a concessão de 13º para os beneficiários da Bolsa Família. Foi promessa de campanha.
Quem paga
Já quem ganha salário deve ter más notícias nos próximos dias: a partir do próximo reajuste, o salário mínimo subirá tanto quanto a inflação. Outros índices que poderiam reforçar o mínimo, como o crescimento do Produto Interno Bruto em anos anteriores, ficarão oficialmente de fora.
Previdência própria
A reforma da Previdência (que, apesar dos tropeções e caneladas, marcha para a aprovação) cria nova necessidade de investimento, para complementar a aposentadoria: a previdência privada. O assalariado vai poupando ao longo de sua vida de trabalho e, quando se aposentar, contará com os rendimentos que tiver obtido.
A expectativa é grande: Luiz Barsi, que enriqueceu com os investimentos em ações (é até apelidado de Warren Buffet brasileiro) fará palestra, “Ações garantem o futuro”, e as inscrições se esgotaram no primeiro dia. Ver pessoalmente não é mais possível, mas haverá transmissão ao vivo no dia 10, às 18h30, pelo link http://www.oebtv.com.br. OEB é o projeto educacional de Louise, filha de Barsi, com os investidores Fábio Baroni e Felipe Ruiz, que ensina o público a poupar para a aposentadoria.
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só lembrar que a boa política atual nos livrou do PT e genéricos, ja´é um alívio.
Se o governo realmente eliminar o Horário de Verão, isso certamente será, como já se anunciou à exaustão, sua mais positiva medida adotada até agora. O Horário de Verão é absolutamente inútil como poupador de energia, além de potencialmente danoso à saúde pública (pesquisas na Austrália e Nova Zelândia já mostraram que, desde que adotaram o Horário de Verão, houve aumento significativo do nº de casos de câncer de pele, insolação, desidratação, distúrbios de sono e consequente queda de rendimento no trabalho e aumento da letalidade no trânsito, pra ficar no mais importante).
Pelo amor de Deus, apoiemos o governo dos broncos desta vez. É óbvio que o PT e o Psol vão reagir e alardear por aí que, quanto mais sol, mais alegria para a classe trabalhadora; que os ricos podem ter seu sol particular dentro de casa enquanto os pobres dependem do Sol que a natureza nos deu, e que, por tudo isso, a medida é antipopular e tudo mais. Isso é o que devemos esperar dessa turma, mas sejamos racionais. Com aquecimento global e tudo mais, sol é exatamente do que não estamos precisando.
Então é isso, gente.
Força, Bolsonaro!
Tamos contigo!
Faça uma coisa boa na vida.
Só uma já tá bom.