A tecnologia, o ser humano e o tempo. Por Meraldo Zisman
A TECNOLOGIA, O SER HUMANO E O TEMPO
MERALDO ZISMAN
“A mesma criatura não pode mergulhar duas vezes no mesmo rio, porque muda o rio e muda a criatura”. Com base nesse trecho de Heráclito, se considerarmos o texto como prática social que causa interação entre autor e leitor, podemos afirmar que uma pessoa que lê o mesmo texto duas vezes terá o mesmo entendimento? Nunca!
Creio que não deva entrar no mérito da importância dos grandes escritores, que continuam indispensáveis, mesmo na era da Internet. Na verdade, estamos produzindo cada vez mais informação. A cada ano produzimos o dobro de tudo que nossos antepassados produziram em 40.000 anos.
O que este escriba pretende é despertar a atenção do leitor para um determinado ponto da notícia, para que ele possa transformá-la em conhecimento prático, ou a notícia de nada valerá, não terá importância para a posteridade.
O problema deste andamento é como fazer com que o leitor apreenda e infira o que é importante quando imerso nesse oceano da informação de uma cultura plugada. O que estamos assistindo é um Mundo que prioriza a tecnologia, esquecendo que a Natureza Humana continua a ser a mesma.
Com a forte presença de um aparelho formador que endeusa os algoritmos e o Mercado, do complexo médico-farmacêutico-hospitalar, com a movimentação de bilhões de dólares ou euros repassados apenas para a indústria bélica, não serão de estranhar as consequências escatológicas de continuarmos em tal trilha. Ninguém em sã consciência é contrário aos avanços da humanidade. A minha exprobração é pelo fato de que as tecnologias de ponta tenham sido endeusadas em detrimento da compaixão.
O Homem permanece o mesmo.
Tudo flui e nada tem permanência…
Os homens e mulheres mudaram tão-somente no visual. Mas muitas coisas mudaram na Família, na Sociedade, no Trabalho, e em outras áreas. Desde meu ponto de vista aviso: “Novos avanços devem ser aplicados com cautela”.
Em todos os períodos da vida o organismo humano encontra-se em fase de crescimento e desenvolvimento, embora haja períodos vulneráveis para a constituição de um novo Ser, enquanto sentimentos e sofrimentos são individuais, não importa a época em que vivamos.
O Homem permanece o mesmo. Tudo flui e nada tem permanência.
“A mesma criatura não pode mergulhar duas vezes no mesmo rio, porque muda o rio e muda a criatura”. Com base nesse trecho de Heráclito, se considerarmos o texto como prática social que causa interação entre autor e leitor, podemos afirmar que uma pessoa que lê o mesmo texto duas vezes terá o mesmo entendimento? Nunca!
Concluo: o ser humano contemporâneo teme perder algo — o tempo — quando faz tudo com muita pressa, mas ignora o que fazer com o tempo que ganha, a não ser matá-lo.
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE).