50% = zero. Por Alexandre Schwartsman
50%=zero
ALEXANDRE SCHWARTSMAN
… afirmava que o cenário num primeiro momento deveria ser de euforia, com Bolsa em alta e dólar para baixo. Contudo, continuava, “o governo Bolsonaro terá imensa dificuldade em aprovar projetos de reformas suficientemente ambiciosas que desviem o país do muro fiscal. Em algum momento essa ficha vai cair. Daí serão dólar e juro longo pressionados de novo. ”
Em outubro do ano passado, em entrevista às vésperas do primeiro turno das eleições presidenciais, fui perguntado acerca de Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, os candidatos que então lideravam as pesquisas e passariam (como de fato passaram) para o segundo turno: qual do dois seriam a melhor escolha para o país.
Minha resposta à época foi: ninguém, pois “com esta configuração política, [a economia] não tem a menor chance de dar certo”. De lá para cá, infelizmente, parece que o diagnóstico estava correto.
É bem verdade que não temos (ainda bem!) um governo Haddad, mas basta ler o que o ex-candidato e seus acólitos andam dizendo nas redes sociais para se convencer que teria sido um fracasso retumbante praticamente a zero de jogo.
Nenhum compromisso com o problema fiscal, nenhuma ideia que já não tenha sido tentada e nos levado a um fiasco de grandes proporções, como bem exemplificado pela Nova Matriz Econômica. De fato, apesar da gravíssima crise que passamos, e que ainda não foi totalmente superada (tenho minhas dúvidas de que será), não há economista do partido que admita o erro extraordinário de política econômica cometido no período.
Pelo contrário, volta e meia aparecem elementos requentados da Nova Matriz, exemplificando para as novas gerações o que Mario Simonsen chamava de Princípio da Contraindução: uma experiência fracassada deve ser repetida até que dê certo. Indefinidamente, óbvio.
… Em meio a isto o presidente e sua prole desperdiçam tempo e energia a temas que podem até contribuir para manter sua base em pé de guerra nas redes sociais, mas que não contribuem nem para a estabilização econômica, nem para a estabilização política do país.
Há, todavia, um governo Bolsonaro.
Em outubro eu afirmava que o cenário num primeiro momento deveria ser de euforia, com Bolsa em alta e dólar para baixo. Contudo, continuava, “o governo Bolsonaro terá imensa dificuldade em aprovar projetos de reformas suficientemente ambiciosas que desviem o país do muro fiscal. Em algum momento essa ficha vai cair. Daí serão dólar e juro longo pressionados de novo. ”
Para ser justo, a turbulência dos últimos dias, ainda que na direção prevista, não configura, é bom deixar claro, uma crise de grandes proporções. Já vimos coisa muito pior do que isto, seja por causas externas, seja por desenvolvimentos domésticos.
Ainda assim, é preocupante o rumo tomado. Em nome de uma suposta Nova Política (ah, tá!), não se avança na construção de uma base parlamentar que possa juntar os 308 votos requeridos para a aprovação da reforma previdenciária na Câmara (nem os 49 votos no Senado).
A desastrada iniciativa de compensar os militares pela sua parcela na reforma com a reformulação da carreira – que, na prática, limitou sua contribuição ao ajuste fiscal em meros R$ 10 bilhões em 10 anos – desmanchou qualquer “narrativa” sobre o corte de privilégios.
Em meio a isto o presidente e sua prole desperdiçam tempo e energia a temas que podem até contribuir para manter sua base em pé de guerra nas redes sociais, mas que não contribuem nem para a estabilização econômica, nem para a estabilização política do país.
Não contente, resolvem antagonizar o presidente da Câmara por motivos que escapam qualquer pessoa que não acredite que o presidente da República é um grande mestre do xadrez político, capaz de pensar 25 jogadas à frente, que teria passado os últimos 30 anos escondendo seus talentos.
O discurso agora é que é necessário destruir para depois reconstruir. Se fosse possível passar de ano com 50% de aproveitamento, este governo seria um sucesso.
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