No Mundo da Lua. Por Josué Machado

NO MUNDO DA LUA

JOSUÉ MACHADO

Certos escribas são capazes de produzir tolices antológicas por ignorar coisas elementares como a diferença entre estrelas e planetas ou entre o anu e a garça.

 

É o seguinte o curioso trecho da resenha do filme alemão “Inferno”,  preparada pela rede Net de TV, sobre o destino do homem na Terra, porque se anunciam terríveis tempestades solares provocadas por nossos desatinos por aqui:

Em futuro não muito distante, as guerras não serão o maior inimigo da humanidade, mas um velho conhecido de todos, a maior estrela do nosso sistema solar: o Sol.”

Por essa criativa resenha, fica-se sabendo que o Sol é “a maior estrela do nosso sistema solar”.

Terá o sistema solar outras estrelas além do Sol?

Que ideia fará do sistema solar o inventivo resenhista brasileiro? Saberá ele a diferença entre estrelas e planetas? Entre planetas e satélites? Entre constelações e galáxias? Entre o anu e a garça?

Ou é escriba muito distraído ou terá faltado às parcas aulas de astronomia que costumavam preceder estudos elementares de geografia física; nessas aulas, e nas de física, os estudantes de primeiro e segundo grau aprendiam que a Terra gira em torno de uma estrela de 5ª. grandeza — o Sol –, com outros oito planetas; todos eles nesta ordem em relação ao Sol, em órbitas elípticas: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão (cuja natureza ninguém discutia até há pouco). Aprendiam também que estrelas têm luz e calor próprios, e os planetas, não.

Aprendia-se além disso que esse equilibrado conjunto compõe o sistema solar, um dos bilhões de outros semelhantes em movimento na Via Láctea, que é um dos bilhões de galáxias do maravilhoso universo sem fim.

O escriba não terá aprendido, além disso, que o SOL, A ÓBVIA ÚNICA ESTRELA DO SISTEMA, é a fonte de luz e calor que sustenta a vida neste planeta desolado a caminho da escuridão, com o Trumpão e seu topete à frente e mais alguns seguidores, inclusive no Brasil, nem é preciso citar Bolsonaro.

Deve-se lembrar que o Sol, grande ameaça, segundo o filme e o sábio articulista, no fim vai-se aquecer muito mais, dilatar-se e absorver a Terra. Bem antes, nosso planeta perdido e mal-amado talvez já se tenha tornado uma bolota de gelo sem vida no espaço. Deve demorar algum tempo: bilhões de anos.

Muito antes disso, o autodestrutivo ser humano terá ido para o beleléu, com o resto da vida que houver por aqui. Não sobrarão nem formas inferiores de vida, como baratas e políticos de baixo extrato — 97,63% deles.

Enfim, e sem saudosismo, pelo andar da carruagem e o grau de conhecimento de alguns escribas ativos em jornais, revistas e meios eletrônicos, tem-se a vaga impressão de que o sistema educacional brasileiro, incluindo as escolas de jornalismo, já teve melhores dias.

Mas não vai ficar assim.

Vai ficar pior. E nem é preciso citar aqueles nomes já bem conhecidos que trabalham pela modernização do nosso ensino.

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JOSUE 2Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade

 

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