Mais uma profissão no futebol. Coluna Mário Marinho

Mais uma profissão no futebol

COLUNA MÁRIO MARINHO

Há alguns tempos passados – e bota passado nisso – o time de futebol era dirigido pelo técnico. Ele fazia tudo: treinamentos técnicos, táticos, físicos, psicológicos, conselhos paternais quando preciso. Só não era médico.

Depois, apareceu o preparador físico. Naqueles tempos, a função era exercida, quase sempre, por um militar. E bota jogador para correr, subir e descer escadas – nada de métodos, de estudos, de ciência.

Houve até a história daquele preparador físico que mandou seus jogadores taparem uma das narinas e respirarem fortemente cinco vezes com apenas uma; depois, mudou o lado e repetiu a dose. Explicou para os jogadores:

– Respirando pela narina direita, você está trabalhando o pulmão direito; com a esquerda, o pulmão esquerdo.

Depois apareceu o auxiliar técnico. Um dos mais famosos foi Zezinho Miguel, auxiliar técnico do mandão, truculento e ditador Yustrich – apesar de tudo, um bom técnico.

Yustrich, que tinha o apelido de Homão, dado o seu tamanho, explicava assim porque o frágil Zezinho Miguel o acompanhava em todos os times:

– Ele permite o que eu proíbo.

O médico passou a fazer parte da Comissão Técnica que ganhou também a presença do massagista e do roupeiro.

Hoje, uma comissão técnica é quase uma empresa de médio porte.

Vejam, por exemplo, os profissionais que fazem parte da Comissão Técnica do São Paulo FC:

1 Técnico

1 Coordenador Técnico

1 Auxiliar Técnico

4 Preparadores Físicos

2 Preparadores de Goleiros

3 Médicos

1 Coordenador Científico

2 Fisiologistas

5 Fisioterapeutas

1 Hidro Training

1 Nutricionista

1 Psicóloga

4 Analisas de Desempenho

2 Massagistas (sendo um deles também podólogo)

4 Roupeiros

1 Gerente de Futebol

2 Assessores de Imprensa

São, ao todo, 35 profissionais.

Não entro no mérito da necessidade de tantos profissionais. Apenas enumero.

O jogador de futebol, lá atrás, não tinha ninguém para cuidar dele.

Depois, apareceu a figura do procurador para, pelo menos, livrá-lo da difícil e inglória missão de discutir cara-a-cara com o presidente do Clube e renovação do contrato. Às vezes, o pai ou irmão mais velho desempenhava essa função.

Essa solidão, pouco a pouco, foi sendo vencida.

Primeiro foram os chupins, aquela turma de aproveitadores que passou a gravitar em torno dos jogadores, à espera de alguma migalha. Como um ingresso para assistir a um jogo, por exemplo.

Os chupins são mais conhecidos hoje como “parça” que é convidado para uma noitada, para uma festa de aniversário, para o churrasco ou apenas para rir das piadas sem graça.

Os chupins ainda existem.

Mas, paralelamente, apareceram também os profissionais.

Assim, o jogador alcançando sucesso médio, já contrata um assessor de Imprensa.

Daí em diante, vale a imaginação ou a quantidade de dinheiro: ele passa a ter manicure, podólogo, cabeleireiro, barbeiro, alfaiate particular, personal training, estilista de moda etc.

Alguns chegam a montar empresas ou contratar uma para cuidar de sua imagem, de sua carreira.

Leio no Estadão de hoje, o surgimento de uma nova profissão na área: o Agente Financeiro.

Esse profissional terá o duro encargo de segurar e dar caminho certo ao dinheiro do jogador de futebol.

Porque, diz a música, “dinheiro na mão é vendaval”. E na mão de jogador de futebol é tufão que pode levar à tragédia.

O dinheiro chega fácil e sai ainda mais fácil. Estou falando do jogador bem sucedido, que é minoria nessa profissão.

No final dos anos, 90, trabalhei na Portuguesa de Desportos como assessor de Imprensa do Clube.

Lembro-me de um goleiro que chegou emprestado por um ano e, ao final da Paulistão, foi eleito o melhor goleiro da competição.

Foi contratado.

Traduzindo a dinheiro de hoje, ele ganhava cerca de 15 mil reais mensais, assinou contrato ganhando 30 mil e luvas de 100 mil. Duas semanas depois, chegou no Canindé a bordo de um reluzente Audi vermelha. Lá se foi o dinheiro das luvas.

Carro novo e dinheiro no bolso significam novos amigos, festas, baladas, mulheres, ausência nos treinos – declínio e fim de carreira.

Tomara que o Agente Financeiro consiga mudar esse caminho, verdadeira pirambeira, que leva ao fracasso.

Ugo Giorgetti

e o Jornal da Tarde

Em coluna publicada neste domingo no Estadão, o cineasta Ugo Giorgetti parte da morte de Roberto Avallone para fazer análise do Jornal da Tarde, do qual, diz ele foi “leitor desde o primeiro número”.

Giorgetti comete alguns enganos de interpretação e um erro fatal em termos de notícia.

Diz ele que “o nome de Roberto Avallone foi se juntar aos de Sérgio Backlanos e Vital Battaglia entre os mortos”.

Errado, graças a Deus: Vital Battaglia está vivíssimo e gozando de ótima saúde. Para alegria dos familiares e dos muitos amigos que cultivou ao longo da vida.

Vamos às análises.

Giorgetti saúda o Jornal da Tarde, fala da Editoria de Esportes e diz: “Lembro-me entre muitos, de alguns dos jovens jornalistas dessa Edição de Esportes, a maioria, para não dizer todos, nascidos nessa cidade, segunda ou terceira geração…”

Errado.

O Jornal da Tarde foi idealizado por Ruy Mesquita, um paulistano, ganhou corpo com Mino Carta, um italiano, com base em uma equipe montada pelo jornalista Murilo Felisberto, um mineiro.

Essa diversidade foi uma das marcas do JT.

Quando eu cheguei ao JT, em 1968, o editor de esportes era o mineiro Carmo Chagas e o chefe de reportagem era o carioca Hedyl do Valle Júnior.

Na Editoria de Esportes, trabalhei ao lado de brilhantes paulistanos como Luiz Carlos Ramos, Roberto Avallone, Vital Battaglia, José Maria de Aquino, Dante Mattiucci, Guilherme Cunha Pinto, Edison Scatamachia, Tim Teixeira; de gaúchos como Marcos Faermann, Belmiro Salthier, Luiz Henrique Fruet; de conterrâneos das Minas Gerais como o já citado Carmo Chagas, Kleber de Almeida, Luciano Ornellas, Ramon Garcia, Moisés Rabinovici; o paraibano Moacir Japiassu; o pernambucano Toinho Portela; os cariocas Oldemário Touguinhó, Márcio Guedes e Altair Baffa…

Sinto que estou esquecendo alguns nomes, mas acho que o painel acima dá conta da diversidade. Fora correspondentes pelo Brasil afora e no exterior.

A pluralidade foi marca forte do Jornal da Tarde.

Giorgetti erra também ao adstringir a visão jornalística do JT a São Paulo.

Diz ele: “Nem mesmo o Rio de Janeiro, ainda em sua pujança de capital cultural do País, não conseguia ocupar as preocupações da Edição de Esportes”.

Como não?

Um dos muitos prêmios Esso, o Oscar do jornalismo Brasileiro, conseguidos pelo JT foi exatamente com a matéria que mostrava como um trabalho sério com o menino Zico conseguiu garantir-lhe massa muscular e alguns centímetros na altura. A matéria, com o ídolo carioca Zico, foi feita por um grande jornalista carioca, que trabalhava na sucursal do Rio: Márcio Guedes.

Enfim, Giorgetti, o Jornal da Tarde, até hoje considerada a maior revolução jornalística das últimas seis décadas no Brasil, foi pensado por um grande paulistano, Ruy Mesquita, e tornou-se realidade graças ao talento e trabalho de muitos brasileiros, dentro e fora de São Paulo.

Apenas para restabelecer a história.

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FOTO SOFIA MARINHO

Mário Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
 NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

2 thoughts on “Mais uma profissão no futebol. Coluna Mário Marinho

  1. Faltou mencionar um profissional muito presente nas seleções e nos times da série A do campeonato brasileiro: o filho do técnico.

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