Da Juventude e da Maturidade ou Viva la Vida! Por Josué Machado
DA JUVENTUDE E DA MATURIDADE ou VIVA LA VIDA!
JOSUÉ MACHADO
No calor do verão que se vai depois do Carnaval, as praias e piscinas atraem e atraíram multidões. Pois notou-se que muitas pessoas além dos 40, 50 e 60 anos parecem evitar biquínis ou roupas que lhes desvendem o corpo.
Talvez porque se lembram dos tempos de feliz inconsciência da pele elástica dos 10, 15 ou 20 anos, em que nem sequer se percebia a glória da musculatura em expansão. Deixavam-se todos viver na leveza feliz da juventude.
É o que melhor fazem os jovens. Deixam-se viver numa certa cegueira eufórica que vão perdendo pelo caminho.
Consolo para ex-jovens? É possível.
No entanto, com algum otimismo, pode-se dizer que a desculpa de não se expor dos que foram abandonados pela juventude é uma pequena tolice, porque todos os jovens, com alguma sorte, atingirão e maturidade. De preferência, a maturidade extrema com suas vantagens e desvantagens. Sim, vantagens.
Porque nem tudo são perdas com o balanço sem volta dos anos que se vão para sempre sem nunca, nunca, nunca mais voltar. Ganham-se também rugas, talvez quilos, às vezes cabelos brancos, quando não a calvície, fora algum cansaço das coisas e da tolice ao redor.
Mas, também com sorte, ganha-se alguma experiência e sabedoria, se os genes e o juízo ajudarem.
O que se sabe é que os jovens, na maioria, pouco sabem sobre como se deve viver, e o que de melhor fazem com a juventude é o bem-bom temperado pelo maior de todos os prazeres físicos até o fim dos tempos. Mas não tanto quanto poderiam.
Daí a frase algo perversa do Marquês de Maricá (1773-1848):
“Os jovens podem, querem, mas não sabem; os velhos sabem, querem, mas não podem.”
Claro que se trata apenas de frase de efeito que não traduz verdade absoluta. Há jovens (poucos) que podem, querem e sabem, e gente vivida (muita) que não sabe e não pode nem quer porque nunca soube.
Mas há também os mui vividos e as mui vividas que sabem, querem e continuam podendo quase tudo. Quase.
Não dá mais para nadar 100 metros em 15 segundos nem correr 10 km em uma hora ou jogar futebol duas horas seguidas, mas sabemos todos que nem tudo se resume a proezas musculares.
Portanto, liberdade para as borboletas, vivamos o esplendor da vida que flui e ignoremos a torcida adversária.
Com a maior leveza possível.
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Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade