8 de agosto. Dia de homenagear Bartolomeu de Gusmão. Por Laurete Godoy
Primeiro cientista das Américas
“A vossa justiça, toda a vossa justiça, não pode e não deve esquecer o primeiro, o precursor Bartholomeu Lourenço de Gusmão, o primeiro da aviação, também nosso, também brasileiro, ao lado do qual está o meu orgulho, que não poderá ser maior.”
Alberto Santos-Dumont, Rio de Janeiro, 1922.
Bartolomeu Lourenço de Gusmão nasceu na cidade de Santos, Estado de São Paulo, em dezembro de 1685 e foi registrado como “português nascido no Brasil” porque o Brasil era colônia de Portugal. Aprendeu as primeiras letras na cidade natal e, a seguir, tutelado pelo jesuíta Alexandre de Gusmão, foi estudar em Cachoeira do Paraguaçu, na Bahia, no seminário que era considerado na época um dos melhores estabelecimentos de ensino do Brasil.
Em terras baianas, Bartolomeu deu as primeiras provas de sua mente prodigiosa ao inventar uma “engenhoca” que causou sensação, porque transportou água do Rio Pitanga para o interior do seminário. Por se tratar do primeiro invento patenteado no continente americano, ele é considerado o “primeiro cientista das Américas”.
Porém, seu momento de glória ocorreu em Lisboa, no dia 8 de agosto de 1709. No Palácio Real, na Sala das Embaixadas, diante do rei D. João V, da rainha Dona Maria Ana de Áustria, do núncio apostólico, de embaixadores e autoridades de vários países, o jovem Bartolomeu fez a apresentação do seu invento: um pequeno globo de papel impulsionado a calor subiu suavemente a uns quatro metros de altura. Foi ele o primeiro homem do mundo a conseguir elevar um objeto do solo, impulsionando-o com calor. O reconhecimento internacional foi divulgado pelo conceituado The Guinness Book of Aircraft – Records, Facts and Feats (Livro Guinness de Aeronaves – Recordes, Fatos e Feitos), que em 1988 já estava em sua quinta edição. Do capítulo Balões consta que o padre Bartolomeu de Gusmão executou em 8 de agosto de 1709, em Lisboa, a primeira demonstração pública bem-sucedida de um modelo de balão a ar quente.
No dia 3 de outubro de 1709, ao ar livre, o balão por ele confeccionado subiu aos ares e ganhou altura. O êxito da experiência confirmou que o santista inventara o aeróstato a ar quente, promovendo em Lisboa a primeira ascensão aerostática do mundo. Como precursor da navegação aérea, tornou-se mensageiro da fantástica notícia: o homem, um dia, conseguirá voar. Por sua invenção foi cognominado “Voador” ou “Padre Voador”.
Instruído na Oratória Poética, conhecedor de Mitologia, Matemática, Filosofia, falava latim, francês, italiano e tinha grande conhecimento do grego e do hebraico. Cursou a Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra, de onde saiu, inclusive, com o título de Bacharel e Doutor em Direito Canônico.
Bartolomeu de Gusmão faleceu em 18 de novembro de 1724, no Hospital da Misericórdia de Toledo, Espanha, e foi sepultado na Igreja de São Romão. Transladado para São Paulo em 1966, numa bonita cerimônia cívico-militar-religiosa, no dia 24 de março de 2004 seus restos mortais foram sepultados na cripta da catedral da Sé. No dia 16 de abril desse mesmo ano, o comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Luiz Carlos da Silva Bueno, aprovou e assinou a nomeação do padre Bartolomeu de Gusmão como Patrono dos Capelães da Aeronáutica
Esse ilustre inventor brasileiro viveu apenas 39 anos, mas presenteou a humanidade com uma invenção prodigiosa graças à qual deu o primeiro passo na estrada que levou o homem à Lua.
E tudo isso aconteceu há 312 anos.
Em Lisboa, na Sala das Embaixadas do Palácio Real.
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Laurete Godoy – pesquisadora e escritora, autora do livro Brasileiros voadores – 300 anos pelos céus do mundo.
São Paulo, 8 de agosto de 2021.