O lado oculto de Gatsby revelado pela Bombril. Por Josué Machado

O LADO OCULTO DE GATSBY REVELADO PELA BOMBRIL

 JOSUÉ MACHADO

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Para esquecer estes tempos políticos bicudos, melhor um  papo sobre inocentes escorregões no texto: um deles foi o espantoso neologismo que marca o que faltou à quarta e última versão cinematográfica de “O Grande Gatsby”, lançada em DVD e na TV.

 

A primeira página do caderno de variedades do  jornal estampou o título em cinco linhas nesta exata disposição:

“CINEMA:

Superficial, ‘O

Grande Gatsby’

esquece lado

sombril da trama”

Sim, sim, o lado “SOMBRIL” da trama.

O redator do título por certo ouviu e leu dezenas de vezes peças publicitárias sobre a marca do material de limpeza Bombril, com sua esponja de aço, e a gravou para sempre na cuca exausta.

Os comerciais gravados para a TV mostravam o ator Carlos Moreno, magricela, de aspecto frágil, representando o delicado personagem que enalteceu as propriedades da esponja de aço Bombril de 1978 a 2004 e de 2007 a 2011 – um recorde publicitário: foram 337 os comerciais criados por Washington Olivetto e estrelados por Moreno para a marca. Daí ter ele entrado para o Guinness Book dos recordes como o ator que por mais tempo atuou numa campanha comercial na história da propaganda mundial.

Muito Bombril por muito tempo.

É o que explica o assombroso neologismo “SOMBRIL” estampado no título — um cruzamento espúrio de SOMBRA com BOMBRIL: claro, sombra + Bombril = sombril.

Foi uma referência à última e espetaculosa versão cinematográfica do livro de Francis Scott Fitzgerald, em que o diretor australiano Baz Luhrmann fez um filme exuberante, multicolorido e barulhento, omitindo o fundamental aspecto SOMBRIO (cheio de sombras e mistério)  do caráter do personagem Jay Gatsby, tão bem acentuado no livro.

Sim, SOMBRIO. Ou, vá lá que seja: “SOMBRIL”.

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JOSUE 2Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade

 

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