As águas de março vieram em fevereiro. Por Maria Helena RR de Sousa
As águas de março vieram em fevereiro
Maria Helena RR de Sousa
O que falta é aquilo que qualquer dona de casa aprende: manutenção, cuidados, atenção constante. Árvores têm que ser vistoriadas, suas raízes livres de cimento e detritos para que possam respirar, receber o oxigênio de que necessitam…
(PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BLOG DO NOBLAT, VEJA ONLINE, 8 DE FEVEREIRO DE 2019)
A tempestade foi violenta. Muita água, muitos ventos, fortes, assustadores. Ruas que nunca tinham sofrido com a natureza, ontem, quinta-feira, dia 7, amanheceram tristes e em parte destroçadas. Mortes. O Rio está sofrido.
A cidade é assim tão frágil?
Não, não é. O que falta é aquilo que qualquer dona de casa aprende: manutenção, cuidados, atenção constante. Árvores têm que ser vistoriadas, suas raízes livres de cimento e detritos para que possam respirar, receber o oxigênio de que necessitam. Morei 16 anos na rua Visconde de Albuquerque e lembro perfeitamente da luta da minha mãe para que a prefeitura da época fosse cuidar das belas figueiras que orlam o canal da avenida. Nunca ficou satisfeita.
A ciclovia Tim Maia: desde sua inauguração, só problemas. Se ela é realmente necessária para a circulação da cidade, deveria ser inteiramente refeita, e não remendada, com extremo cuidado, já que ela passa, necessariamente, por trechos de imenso perigo.
Lojas, hotéis, shoppings, túneis, restaurantes, comercio em geral com grandes prejuízos causados pelas chuvas. Menos as agências bancárias… já pensaram como isso é curioso? Até a natureza protege os bancos? Santa Barbara nos deve uma explicação!
Os esgotos entupidos, a olhos nus vemos essa situação. Quando chove, é um horror. Imaginem o que acontece quando uma tempestade terrível desaba sobre nós.
Mas isso é muito pouco diante do pior: milhares de famílias vivendo em áreas de risco sob o olhar complacente das autoridades. Vi as favelas da Rocinha e do Vidigal crescerem de forma impressionante e sempre havia o medo de enxurradas, sobretudo depois que de favelas começaram a se transformar em mini cidades, com construções de alvenaria de até sete andares. A impressão que dá é que ao deixar de se auto nomear favelas, e sim comunidades, os perigos que enfrentavam desapareceram…
É um problema que vem de longe e como tudo se avoluma: como transferir essas pessoas para outras regiões quando elas se habituaram a viver perto de seus empregos, das escolas, do comércio, dos transportes, do lazer? Para regiões inóspitas, sem nada por perto, em edificações tão pouco distantes umas das outras que você pode dar a mão ao vizinho do lado? Sem a característica das favelas, construções que se adaptavam ao terreno e ao clima da região? E que muitas vezes eram heranças de pais, avós, com tudo que isso representa?
A solução para esse problema? Claro que não tenho. Mas as prefeituras, os governos estaduais e federais, esses devem saber o que fazer. Ou pelo menos estudar para vir a saber. Continuar como está é que não pode. Não podemos controlar a natureza, mas podemos controlar o modo como vamos lidar com fenômenos da natureza.
Agora um mistério. Lojas, hotéis, shoppings, túneis, restaurantes, comercio em geral com grandes prejuízos causados pelas chuvas. Menos as agências bancárias… já pensaram como isso é curioso? Até a natureza protege os bancos? Santa Barbara nos deve uma explicação!
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Imagem: Santa Barbara/Iansã corta a tempestade
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Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa
Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.