Camping Club São Paulo

Nas ruas, o “Camping Club São Paulo”. Por Flávio F. de Figueiredo

… Só neste inverno já são 16 mortos pelo frio e que viviam nas ruas e praças da cidade de São Paulo, onde prefeito após prefeito continua mantido esse vergonhoso abandono e não acolhimento dos necessitados, e quando apenas 0,02% do orçamento e consciência poderia resolver essa degradação social…

Camping Club São Paulo

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO PORTAL DO ESTADÃO, 4 DE AGOSTO DE 2021

Inaugurado há vários anos, o “Camping Club São Paulo” não para de crescer.

Basta chegar com sua barraca em quase qualquer uma de suas 48 mil ruas e cinco mil praças e se instalar.

Não há limite para o tamanho da barraca. Pode ocupar o jardim ou a calçada, como quiser, por quanto tempo quiser, dias, semanas ou meses.

Não há infraestrutura sanitária, mas se pode fazer necessidades fisiológicas em qualquer lugar, o mesmo se aplicando para banhos.

Na barraca é permitido ter pets, soltos ou presos. Crianças caminhando em meio fio ou até entre os carros também pode.

Guardar lixo também é aceito.

Também não é proibido estacionar seu carro ao lado da barraca. É mais seguro e ninguém vai multar ou guinchar seu veículo!

Alguém vai perturbar? Não.

Tanto o gerente, que recebe o título de prefeito, como os sub gerentes, designados sub prefeitos, irão ignorar sua presença, pois você estará na verdadeira “terra de ninguém”.

Creio que algumas regras devem ser estas, tomando por base o que observamos na cidade de São Paulo, cada vez mais. Entra gerente; sai gerente.

É vergonhoso o abandono da cidade e o não acolhimento dos necessitados, que fazem com que todos saiam perdendo.

Perde a cidade – que está transformada em verdadeira terra sem dono e sem regras – e perdem aqueles que não recebem qualquer atendimento, abrigo digno ou atenção para suas necessidades mínimas.

Para quem ainda precisa ver e conhecer um pouco dessa realidade, fica a sugestão de um passeio básico, em local facilmente acessível: o eixo da Avenida Paulista.

As ocupações indevidas do espaço público são observadas desde o seu início, na Praça Osvaldo Cruz, até o complexo viário no entroncamento com a Rua da Consolação. Merecem destaque as calçadas ao redor do Parque Trianon e do Parque Mário Covas. Se espalham por todas as regiões.

Uma situação simplesmente inaceitável e lamentável!

Na última onda de frio, há notícia de morte de 16 pessoas em situação de rua em São Paulo. Pelo que se percebe, não foi dada grande importância ao ocorrido, como se normal fosse. Como se nada mais importasse.

Isso, recorde-se, antes da pandemia que fez esse número saltar a olhos vistos: oficialmente, de acordo com o censo de 2019, há aproximadamente 25 mil pessoas nessa situação na Capital. Se fosse gasto meio salário mínimo por mês para abrigar cada uma dessas pessoas, o gasto total não chegaria a R$ 15 milhões por mês. Esse valor corresponderia a aproximadamente parcos 0,02% do orçamento do município para 2021.

Tenho certeza de que bastariam algumas medidas muito simples de gestão de contratos e de pessoal para economizar esses 0,02% e acabar com essa vergonha, que atenta contra a dignidade humana e, ao mesmo tempo, degrada nossa cidade.

Esse Camping Club precisa acabar!

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Flávio F. de Figueiredo – engenheiro civil, consultor, conselheiro do Ibape/SP – Instituto Brasileiro de Avaliações e Pericias de Engenharia de São Paulo

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