O treinador elevador. Coluna Mário Marinho

O treinador elevador

COLUNA MÁRIO MARINHO

Imagem relacionada

Conheci, no começo dos anos 90, o técnico de vôlei Ricardo Navajas. Na época, ele dirigia o Suzano, cidade na região metropolitana de São Paulo, que era patrocinado pela Nossa Caixa, onde eu era assessor de marketing esportivo.

Navajas era movido a 220 ou mais. Não parava. Gritava o tempo todo com seus jogadores.

Eu assisti a muitos jogos ao lado do banco da Comissão Técnica e me espantava com as broncas do Navajas em cimas dos jogadores a cada intervalo, a cada pedida de tempo.

Ele tinha, mais ou menos, 1,80 metro de altura, o que não é pouco, mas parecia um anão perto daqueles grandalhões que beiravam os dois metros.

Um dia perguntei se ele não temia a reação dos jogadores.

– Levar porrada deles? De jeito nenhum. Eles sabem como é o meu trabalho. O jogador precisa entrar na quadra tenso e afinado como uma corda de violino.

E o time de Ricardo Navajas era vencedor. De 1992 e 2000 ele ganhou cerca de 10 títulos importantes.

E por que estou falando em Ricardo Navajas?

Neste domingo, acompanhei atento a vitória do Santos sobre o São Paulo. Não foi um massacre, mas, um amasso.

E acompanhei o nervoso técnico do Santos, Jorge Sampaoli que não para um instante. Ele anda, gesticula, grita, dá bronca, reclama…

Historicamente, os técnicos brasileiros, notadamente de futebol, são mais calmos. Até o final dos anos 90, alguns deles chegavam até a ser sonolentos.

Essa situação começou a mudar em 1999, quando a Traffic, do J. Hawilla, assumiu o comando do esporte da TV Bandeirantes.

Dentre as inovações que Hawilla implantou, veio a colocação de duas câmaras, nas transmissões de futebol, que ficavam do lado oposto do banco de reservas e fixas nos técnicos, captando todas suas reações.

Nessa época, era técnico do Corinthians o Osvaldo de Oliveira, com a saída de Vanderlei Luxemburgo para a Seleção Brasileira.

Osvaldo de Oliveira assistia aos jogos impassível. Nos gols do Timão, a tevê mostrava a imagem de sempre: braços cruzados e uma das mãos segurando o queixo.

Chegava a ser irritante tamanha passividade, quase um desdém.

Um dia, Hawilla comentou com um diretor do Corinthians, seu amigo, que aquela não era uma imagem boa para ninguém: nem para o técnico, nem para o Timão, nem para a TV. Era preciso mostrar vibração.

A partir daí, Osvaldo Oliveira passou a comemorar efusivamente os gols – só faltava dar cambalhotas.

Mas, com ele, os outros técnicos também passaram a se mexer.

Nessa época, eu fazia parte do time do programa de esportes da TV Bandeirantes, Debate Bola, que era apresentado por Milton Neves e ia ao ar na hora do almoço.

Ao meu lado estavam sempre também Cacá Rosset, Roberto Benevides e Mauro Betting, além de outros jornalistas e convidados que se revezavam.

Um desses convidados de sempre era o técnico Rubens Minelli, um dos melhores e mais injustiçados do futebol brasileiro.

Apesar de toda a competência, nunca teve chance na Seleção Brasileira.

Um dia ele usou a expressão “técnico elevador” e, ante nosso espanto, explicou:

– Como os técnicos agora sabem que tem câmara em cima deles, eles dão um jeito de se mexer. A grande maioria, por não ter ou não saber o que falar, fica andando prá lá e prá cá, gritando “sobe”, “desce” – mandando o time de um lado pra outro. Parecem elevador.

Minelli tinha razão: havia muitos enganadores, muito técnico elevador.

Jorge Sampaoli não parece ser o técnico elevador.

É claro que não se julga os méritos de um trabalho apenas um mês depois de iniciado.

O Santos passou pelo São Paulo no domingo, de passagem.

Mostrou gana, vontade, raça como não se via há algum tempo. Deve ser resultado do trabalho do Baixinho Elétrico.

O primeiro gol, do zagueiro Luiz Felipe, pareceu um gol normal, corriqueiro. Mas o zagueiro, ao final do jogo, disse que a jogada é muito ensaiada nos treinos. Mérito do treinador, portanto.

O segundo gol, foi um primor de contra-ataque. A bola cortada na defesa do Santos, cai nos pés de Alisson que já vê o atacante Derlis Gonzalez escapando em velocidade pela esquerda. O lançamento, de mais de 50 metros, é rasteiro e chega um pouco à frente do atacante que vence o defensor são-paulino na corrida, dribla o goleiro e marca o golaço!

Há, na essência da jogada, a arrancada do atacante sem a bola, o passe-lançamento rápido, rasteiro o espírito, a filosofia do treinador.

São apenas três jogos oficiais e três vitórias.

Pouco para fazer grandes afirmações, mas um bom indicador de bom futuro para o Santos.

Veja os gols do Fantástico.

https://youtu.be/-qZebUGBUJk

E aqui lavro o meu protesto: o América massacrou o Tupi, 5 a 0, ontem em Belo Horizonte, e o Fantástico não mostrou nada.
Por quê, seu Tadeu? Ah!, isso a Globo não mostra…

____________________________

FOTO SOFIA MARINHO

Mário Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
 NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter