As pernas pesadas. Coluna Mário Marinho

As pernas pesadas

COLUNA MÁRIO MARINHO

O futebol é cheio de desculpas para tentar encobrir erros, falhas gritantes e derrotas, mesmo que essas sejam normais.

Quando falo de derrotas normais, estou me referindo a uma situação corriqueira: o adversário foi melhor. Essa a gente nunca ouve.

No meio desta semana, o Palmeiras venceu o Botafogo, da cidade de Ribeirão Preto, pelo magro placar de 1 a 0. Jogo pelo campeonato paulista, no Allianz Parque.

Poderia ter sido de mais se o capitão do Verdão, Bruno Henrique, não tivesse perdido um pênalti.

Após o jogo, o técnico Luiz Felipe Scolari comentou o jogo e tratou de explicar o pênalti perdido.

– Estamos em começo de temporada, os jogadores ainda estão com as pernas pesadas, sem muita mobilidade.

Foi assim que Felipão explicou o chute fraquinho, no meio do gol, que facilitou a defesa do goleiro do Botafogo.

Felipão, menos. Menos Felipão!

É fazer pouco da inteligência, da paciência, da paz e até da pachorra do cidadão torcedor.

Errou porque bateu mal, Felipão, apenas isso!

O próprio jogador (na foto ao alto da coluna), na maior naturalidade, respondeu assim à pergunta do repórter sobre as pernas pesadas:

– Tem nada disso. Tudo bem com minhas pernas. Foi uma questão de opção que não deu certo.

Não faltam desculpas esfarrapadas.

Se choveu, o time derrotado logo culpa São Pedro.

– Também, com um temporal daqueles não dava mesmo para jogar…

Ou seja: choveu só para ele. Quando a bola chegava a adversário parava a chuva, o sol voltava a brilhar num céu lindo de azul.

Se o gramado está ruim, também só atrapalha o perdedor – o vencedor joga e vence em qualquer tipo de gramado.

Na Copa de 1986, no México, no jogo contra a França, Zico, o grande craque do time, perdeu um pênalti no decorrer do jogo que, em função disso, foi para a prorrogação e para a decisão na cobrança de pênaltis.

O Brasil foi eliminado.

Não houve desculpas esfarrapadas dos jogadores – ou do técnico, Mestre Telê Santana -, mas de afoitos torcedores que disseram que a culpa era de Telê Santana.

– O Zico não poderia ter batido aquele pênalti, ele havia entrado minutos antes, estava frio, vociferaram alguns exaltados torcedores.

Ora, perdeu porque bateu mal. Zico foi exímio cobrador de pênaltis, mas, naquele momento errou.

Depois, na decisão dos pênaltis, ele converteu sua cobrança, mas o craque Sócrates e o voluntarioso zagueiro Júlio César perderam e o Brasil voltou mais cedo pra casa.

Algum tempo depois dessa Copa, entrevistei, na TV Gazeta, o Branco que participou daquela decisão, como excelente lateral esquerdo que era.

Ele foi um dos cobradores de pênalti e disse que nunca havia enfrentado uma caminhada tão longa como aquela do meio do campo até à área para cobrar o pênalti.

– Você vai caminhando e sente os olhares todos voltados para você. É difícil. Você anda, anda, e anda e nada de chegar ao local da cobrança. As pernas começam a pesar…

Branco foi lá e fez o gol dele.

Aí, sim, Felipão, dá para acreditar em pernas pesadas.

No caso de doping, então, as desculpas são aquelas tão esfarrapadas quanto o cara jurar pra mulher que aquela marca vermelha na cueca não é batom.

Anderson Silva, campeoníssimo no UFC, pego em doping, jurou que havia tomado um estimulante sexual. Ah!, vá… Aquele cara, com aquela força toda precisando de um azulzinho…

O ciclista espanhol Alberto Contador ao ser pego no antidoping, colou a culpa numa carne estragada que havia comido na véspera.

Já o tenista francês Richard Gasquet culpou a namorada da noite anterior.

– Eu beijei uma moça numa boate que conheci naquela noite…

Tá. Faz sentido.

Quem sabe faz mesmo: vai ver que ele beijou ou mordeu o nariz dela, já que o exame acusou cocaína.

O ex-volante Roberto Brum envolveu a própria esposa. A culpa teria sido uma pomada ginecológica usada por sua mulher na noite anterior.

O técnico escocês Gordon Strachan bateu o recorde: segundo ele, sua seleção não conseguiu se classificar para a Copa da Rússia porque fatores genéticos atrapalharam o desempenho de seus atletas…

Vida que segue.

____________________________

FOTO SOFIA MARINHO

Mário Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.

(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
 NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter