É fome? Por José Horta Manzano
Quando um competidor está louco, vidrado, desesperado pra ganhar, se diz que está com “fome de vitória”. Mas é metáfora, força de expressão. Na hora de comer, há quem goste de feijão, há quem prefira pizza, outros não abrem mão de um hambúrguer. Já engolir metal é mais raro. Por que será então que tantos esportistas medalhados fazem pose mordendo a medalha diante das câmeras? Será fome?
É um costume bizarro, de origem obscura, talvez comparável ao (mau) hábito que quase todo futebolista tem de cuspir no gramado, comportamento nunca visto em esportista de nenhuma outra modalidade. (Exceção feita, talvez, dos ases da natação que, ao terminar a prova, encostam na parede da piscina, olham firme em direção ao painel eletrônico e aproveitam pra soltar pela boca um líquido que uns juram ser água clorada, enquanto outros asseguram que não é.)
Voltando às medalhas mordidas, por que fazem isso? A CNN se interessou pelo assunto e resolveu explorar. Constataram que não é somente em provas olímpicas que isso acontece. Um grande tenista como Rafael Nadal, por exemplo, é habitué de uma dentada no troféu. Morde cada prêmio com gosto, como se pretendesse tirar um pedaço.
Um tanto alarmados com o que têm visto, os dirigentes do comitê organizador dos Jogos Olímpicos de Tokyo resolveram lançar um alerta. Veio a bordo de um tuíte bem-humorado:
“Gostaríamos de confirmar oficialmente que as medalhas de #Tokyo2020 não são comestíveis!
Nossas medalhas são feitas de material reciclado a partir de aparelhos eletrônicos doados pelo público japonês.
Portanto, convém não morder… mas sabemos que vocês vão continuar mordendo.”
A melhor explicação para o estranho hábito de morder medalha ao posar para foto foi dada por um perito da Sociedade dos Historiadores Olímpicos. Diz ele que os atletas fazem isso numa tentativa de contentar a mídia. No início, foi uma solicitação de fotógrafos correndo atrás de uma foto sensacionalista. Com o tempo e com a insistência de mais e mais fotógrafos, acabou por se tornar tradição, uma passagem obrigatória.
Sabemos que a imensa maioria dos atletas olímpicos são estrangeiros. Todos eles conhecem o sushi, mas não estão familiarizados com a exótica culinária japonesa.
Mas daí a comer medalha… precisa ter bons dentes.
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JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos, dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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