Preocupações natalinas. Por Meraldo Zisman
PREOCUPAÇÕES NATALINAS
O Ano de 2018
MERALDO ZISMAN
Os pais ocupados por outros encargos da sociedade de consumo terceirizam a educação/ensino e o pior, confundem educação com ensino, como se pagar um bom colégio, seria uma maneira de encobrir a falta do seu papel parental.
No Natal você não sabe o quanto vai se endividar. Em nome do amor, do afeto, se gasta o que não se deve e pior tomamos consciência de sermos devedores das pessoas do nosso circuito afetivo.
Quando exercia a Pediatria, observava que o ato de oferecer alimentos em demasia e consequente obesidade infantil era, não poucas vezes sinal, de rejeição paterna/ materna.
Procura-se assim no exagero de oferta de alimento, guloseimas, etc. uma maneira de manifestar, de esconder o sentimento de rejeição aos filhos. Criar e educar crianças são trabalhos de tempo integral. Requer uma dedicação constante e por que não dizer — total. Cansativo.
O fato é que criança rejeitada, mesmo inconscientemente, torna-se com a proximidade das festas natalinas, vítima de ser intoxicada por “Super. Presenteada” para compensar os dias de desamparo.
Os pais ocupados por outros encargos da sociedade de consumo terceirizam a educação/ensino e o pior, confundem educação com ensino, como se pagar um bom colégio, seria uma maneira de encobrir a falta do seu papel parental.
Confundem ensinar com educar. Educar é ofertar afeto, amor, segurança, valores éticos ou morais. Não se aprendem nas escolas e sim no Lar.
Pais “terceirizantes” esquecem que a família não é pessoa jurídica. Esquecem que ter filhos não é gerenciar ou ser executivo de uma empresa.
A propaganda da época natalina consegue juntar toda essa frustração em um novelo sem ponta ou princípio e enrolando-se na cadeia afetiva do desejo biológico de perpetuar a espécie, que termina na fragilização pela culpa na compra exagerada de presentes e atenções que se agudizam mais na época natalina. Procuram em um dia, empanturrá-las com brinquedos, quitutes, carros, bonecas e outros brinquedos tão perfeitos que não dão nem oportunidade de desenvolver a criatividade na criança. Abraço, beijos, arvore de luzes para saldar as dívidas afetivas contraídas durante o ano que vai passando não funcionam.
O “Homo economicus” tem como lema — consumam, consumam, consumam — e mesmo assim não conseguem saldar as dívidas contraídas. Assim nos ensinaram desde quando éramos crianças.
Será que esquecemos que a educação infantil principia com a educação dos pais. Sem adultos saudáveis presentes e atuantes é que podemos esperar dos futuros adultos? Em síntese sem esses cuidados não é de não surpreender com as notícias de que estão a surgir, sobretudo a partir da década de 90 do século passado, crianças diferenciadas, mais talentosas, mais sensíveis, que naturalmente rejeitam concorrência, conflito e separação, mas surge a pergunta:
— Será isso sadio para a espécie humana?
— Não saberia responder.
Mas, ninguém poderá negar o aumento de crianças diagnosticadas com déficit de atenção e hiperatividade. Há também um grande número de crianças e adolescentes com diagnóstico de Perturbação Bipolar (Depressão), aumento das taxas de suicídio e com o a nova epidemia de obesidade. Sem mencionar a violência e a toxicomania.
Ao receberem esses diagnósticos de disfunções psíquicas começam a tomar remédios. Infelizmente, não existem estudos sobre os resultados da utilização de medicamentos neurológicos e psiquiátricos que começam a ser ministrados a partir de uma idade precoce. Mas há indícios que estes medicamentos interferem nas funções cerebrais e predispõe às enfermidades mentais, da mesma forma que acontece na idade adulta. Infelizmente o Natal já foi festa, já foi, um profundo gesto de amor. Hoje, o Natal é um orçamento, afirma com razão o grande jornalista. Nelson Rodrigues (1912-1980).
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Costumo perguntar
— Não seria melhor que todos os dias deveriam ser dia de Natal?
Dizem que papai Noel é um velho muito gordo e mora sintomaticamente nos shoppings centers.
Lembre-se de uma coisa —criança não se engana com besteira que o dinheiro pode comprar. E que quando uma criança não acredita mais no Velho de Barba branca e seu trenó, desaparece uma estrela no céu.
Cuidado senhores responsáveis não existe algo mais sublime e misterioso que a criança. Desconheço uma criança sem uma mãe, não importa se biológica ou adotada. O precursor do espelho é uma mãe. Não há presente por mais caro que seja que possa substituir pais suficientemente bons. Não precisam ser excepcionais. Bastam ser bom o suficiente para seu filho ou filha. O que sei é que criança não tolera é hipocrisia.
Como dizia Joaquim Nabuco (1849-1910): É aos nossos filhos que pagamos nossas dívidas para com o nosso País.
Ou vale o poema de Carlos Drummond de Andrade:
Menino ou menina:
peço-te a graça de não saber mais poema de Natal….
Um, dois, três… Inda passa…
Industrializar o tema, eis o Mal.
E para mim, o milagre do Natal renasce a cada ano. E por favor não permitam que nesta época a discussão a respeito da ‘Escola sem partido’ vá infernizar o Natal em família.
Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE).
“Será que esquecemos que a educação infantil principia com a educação dos pais. Sem adultos saudáveis presentes e atuantes é que podemos esperar dos futuros adultos? Em síntese sem esses cuidados não é de não surpreender com as notícias de que estão a surgir, sobretudo a partir da década de 90 do século passado, crianças diferenciadas, mais talentosas, mais sensíveis, que naturalmente rejeitam concorrência, conflito e separação, mas surge a pergunta:
— Será isso sadio para a espécie humana?”
PARABÉN S, Dr. Meraldo! Consumismo desenfreado, mais “pais engabelaando-se com a verdadeira noção do que é ser pais. Confundem, mesmo, instrução com educação.