Em busca do charme perdido. Coluna Mário Marinho
Em busca do charme perdido
COLUNA MÁRIO MARINHO
O excelente comediante Chico Anysio dizia que metade da população de São Paulo era descendente de italianos. E a outra metade era italiana.
A piada faz sentido, já que a comunidade italiana em São Paulo é muito grande.
É também muito grande no Brasil, embora não seja a maior.
O título fica com Portugal (quase 300 mil patrícios); em 2º os japoneses, quase 100 mil e com a medalha de bronze, os italianos que tomam cerca de 70 mil – tutto, tutto buona gente.
Some-se a esse número a presença marcante de Sophia Loren, de Gina Lollobrigida e Claudia Cardinale e está explicada a admiração que todo brasileiro tem pela Itália e seus italianos e sua italianas.
No futebol, sempre olhamos o campeonato italiano com certa inveja, aquela boa inveja provocada pela forte admiração.
Isso vem de priscas eras.
Por exemplo, se você pensa que nosso primeiro jogador campeão mundial de futebol estava naquele time de Pelé, Gilmar, Garrincha e companhia está redondamente enganado.
O primeiro brasileiro campeão do Mundo foi Anfilogino Guarisi Marques ou simplesmente Filó, revelado pela Portuguesa de Desportos de São Paulo, onde o pai dele, Manuel Augusto Marques foi presidente.
Depois da Lusa, Filó passou pelo Paulistano e Corinthians. Do Timão, se mandou para a Itália, aproveitando-se do fato de sua mãe ser italiana. Lá foi jogar no Lazio, time do ditador Benito Mussolini.
Fez sucesso imediatamente e acabou sendo convocado para disputar a Copa de 1934, na própria Itália, e sagrou-se campeão do mundo.
Nos anos que se seguiram muitos brasileiros foram para a Itália; o caso de Julinho, por exemplo.
Após o fracasso da Itália na Copa de 1966, na Inglaterra, quando foi desclassificada pela Coreia do Norte ainda nas oitavas de final, a Itália fechou o mercado para os jogadores estrangeiros.
Em 1980 estourou um grande escândalo no futebol italiano.
Diversos jogadores e dirigentes foram presos acusados de subornos para garantir resultado de jogos e ganharem dinheiro com uma loteria esportiva paralela.
Entre eles, estava Paolo Rossi condenado a três anos de prisão.
(Pena que foi liberado antes, a tempo de jogar na Seleção Italiana que desclassificou o Brasil naquela Copa de 1982.)
O futebol italiano passava por forte crise de credibilidade. Milan e Lazio foram rebaixados para a Série B.
Os estádios ficavam vazios.
Pressionada, a Federação Italiana resolveu abrir o mercado para os estrangeiros permitindo que na temporada 1980/81 cada Clube pudesse ter um estrangeiro e, na temporada seguinte, 2 estrangeiros.
Foi nessa abertura que Falcão foi para a Roma. Lá ele foi campeã da Copa da Itália em 1980–81, 1981–82 e 1983–84 e campeão italiano na temporada de 1982-83. Essas conquistas deram-lhe o titulo de “Il Re di Roma”.
Além da Roma, outros times também se reforçaram.
Daí para frente, o futebol italiano voltou a aquele patamar de encanto e charme.
Além da grana que rolava, claro.
Aí, outros brasileiros se mandaram para o país da Bota. Como Dirceu, Edinho, mais tarde, Zico, Júnior, Sócrates, Adriano.
Outro escândalo veio abalar o futebol italiano em 2006. Também por causa de resultados manipulados. Nesse, a Juventus, chamada de La Vecchia Signora, foi parar na Série B.
Do posto de primeiro e mais importante centro futebolístico da Europa, a Itália caiu para um modesto terceiro lugar. Hoje, Espanha e Inglaterra dão as cartas. E a Alemanha ameaça jogar os italianos para o quarto lugar.
A contratação de Cristiano Ronaldo pela Juventus tem o claro objetivo, além de possíveis títulos, de mexer com o orgulho italiano, de desperta aquela vecchia passione tão característica do italiano e que tão bem fez e faz ao futebol.
No sorteio realizado para determinar os jogos das oitavas de final da Champions League, coube à Juventus enfrentar o Atlético de Madri, na capital espanhola.
Cristiano Ronaldo volta a jogar na cidade onde reinou por tantos anos e, mais uma vez, como adversário e possível algoz do Atletico.
Mas do que isso, em suas bem tratadas pernas estão depositadas as esperanças italianas de voltar ao protagonismo do futebol internacional, do cenário mundial.
Sabe como é, quem não tem Sophia Loren ou Cláudia Cardinale em forma, resta torcer para a boa forma de Cristiano Ronaldo.
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– Mário Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
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