Escola sem partido. Por Meraldo Zisman
ESCOLA SEM PARTIDO
MERALDO ZISMAN
Em pleno século XXI fico pasmo com essa discussão redundante e pirotécnica sobre o assunto escola – sem ou com partido – que coloca um assunto ancestral sob as transformações de uma nova era, quando sabemos que já estamos na trilha de criar uma escola sem partido, pois doutrinas e ideologias perderam seu valor…
Escola sem Partido é expressão/notícia bastante comentada durante toda a atual transição política. Após o segundo turno eleitoral, com a vitória do Presidente eleito Jair Bolsonaro, essa expressão vem ganhando relevância midiática e pedagógica. Refere-se a um projeto de Lei que, em minha opinião, reflete o nosso atraso educacional.
O projeto, segundo seus autores, tem como objetivo libertar o sistema da doutrinação ideológica-partidária que invadiu o ensino brasileiro em alto grau durante os governos petistas.
…O porco-espinho consegue permanecer numa visão unitária do Mundo, enquanto a raposa se interessa por coisas várias e tende para uma visão pluralista do Universo.
Essa situação me faz lembrar o verso de autoria do poeta grego do século VII. A.C – Arquíloco: “A raposa conhece muitas coisas; o ouriço (porco-espinho) conhece apenas uma única grande coisa”.
O porco-espinho consegue permanecer numa visão unitária do Mundo, enquanto a raposa se interessa por coisas várias e tende para uma visão pluralista do Universo.
Esquecem-se os professores (de todos os níveis) do fato de que informação é o que não falta neste século XXI. No entanto, a maioria das escolas contenta-se em tentar abarrotar a cabeça dos alunos de mais informação, quase sempre antiga e de discutível praticidade.
Na atualidade todos nós (velhos, moços, crianças) estamos saturados de informação, o que não significa que sabemos interpretá-las.
As crianças e os jovens necessitam ser orientados a desenvolver sua capacidade de extrair um sentido da informação. Seus mestres devem perceber o que é importante e relacioná-lo com a vida pessoal e profissional e – mais ainda – entender que o mundo de seus alunos não é mais como era o seu.
Têm é obrigação de, acima de tudo, combinar e multiplicar os fragmentos do conhecimento, aplicando-os ao futuro do contemporâneo. E também de lembrar que os avanços técnico-científicos são transformadores sociais e até biológicos.
Voltando à Escola sem Partido e peregrinando pelas posições do escritor, político e acadêmico Gilberto Amado (1887-1969), no seu livro Eleições e Representações:
“Partidos no Brasil são associações de indivíduos para a conquista e fruição do Poder, só e só. Jamais partido algum quis dizer agrupamento de homens e mulheres, sob alguma bandeira ideológica, ou programa prático, para servir o interesse público geral”.
… a discussão sobre a escola apartidária é um atraso educacional e nacional, nesta era da informática, quando os alunos tendem a não entender a informação, dada a instabilidade inerente à estupenda e cotidiana geração de dados.
Em pleno século XXI fico pasmo com essa discussão redundante e pirotécnica sobre o assunto escola – sem ou com partido – que coloca um assunto ancestral sob as transformações de uma nova era, quando sabemos que já estamos na trilha de criar uma escola sem partido, pois doutrinas e ideologias perderam seu valor. Trata-se de um problema não exclusivamente político, que se reflete na moral e no jurídico, muito além das perspectivas históricas e culturais conhecidas.
Prevejo que Mundo está caminhando para o surgimento de um quinto poder – o dos “dados” – independente dos outros quatro: o legislativo, o executivo, o judiciário e o midiático.
Portanto, a discussão sobre a escola apartidária é um atraso educacional e nacional, nesta era da informática, quando os alunos tendem a não entender a informação, dada a instabilidade inerente à estupenda e cotidiana geração de dados.
Entendo que agora a principal função do professor é a de educar o aluno a pensar, ter novas ideias e empreender. Arquitetar correlação entre fatos e acontecimentos que parecem ser independentes.
Ensinar a pensar não é doutrinar, mas sim, mostrar a relação entre os fundamentos ou ideias que, por serem essenciais, devem ser ilustrados para que a criança tenha a capacidade de escolher, criar e compreender a vida como uma aventura, muito além daquilo que ocorre hoje.
É assim que contínua valida a máxima do Montaigne (1533-1592) dirigida ao mestre-escola e aos professores.
“Não que só ele invente e fale; quero que ele escute o discípulo, por sua vez, falar”.
Mais cabível do que proibir doutrinações ideológicas testadas e fracassadas, será preparar os nossos jovens para um mundo que muda com rapidez jamais vista na História.
É importante ter em mente que as sociedades ocidentais sofreram duas revoluções: a transição do oral para o escrito e do escrito para o impresso. A terceira, a presente revolução dos algoritmos, está modificando tudo, não apenas as ideologias.
Como a influência norte-americana é muito grande no Brasil, termino assinando em baixo das palavras do detentor do Prêmio Nobel de Física (1979) Steven Weinberg em seu livro Facing Science and its Cultural Adversaries – Havard University Press 2001:
“Estou convencido de que sem as nossas grandes universidades de pesquisa teríamos de nos manter plantando soja e mostrando o Grand Canyon aos turistas”.
Voltando ao início deste artigo, lembro que é muito melhor ser uma raposa do que um porco-espinho, cujo único objetivo é: sobreviver.
Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE).
Concordo com o eixo da conversa. Há um equívoco no nome “sem partido”. Mas entende-se o conceito: o que se busca é uma escola “sem um único partido” esse é o problema semeado pelo PT. O que se tem é escola com uma única ideologia. Nessa linha, portanto, o nome correto do projeto a ser discutido deveria ser ‘ESCOLA COM TODOS PARTIDOS” , não
“sem partido” . Há que se dispor aos alunos o leque mais largo possível de ideologias pro garoto conseguir discernir e entender por si mesmo com espírito crítico. Nada a ver, portanto, com o sufoco que existe desde o ensino fundamental, aí incluídas as escolas do MST que, como muitas escolas públicas, tornaram-se verdadeiras MADRAÇAS islâmicas. Ou crê no único partido, ou não será aprovado. Essa é a realidade.
“Entendo que agora a principal função do professor é a de educar o aluno a pensar, ter novas ideias e empreender.”
– Como é que alguém vai ensinar o que não aprendeu?
A inércia do professorado no Brasil existe, não por falta de iniciativa, está diretamente ligado ao empoderamento dos alunos com ou não sem o aval dos pais, e da divulgação do que fazem, como fazem, do que dizem, e a polarização disso nas mídias sóciais. Ocorre que é triste constatar o que o Dr. Meraldo relata como verdadeiro. Mas, o que existe não pode deixar de ser relatado.