Tá difícil pra todo mundo. Coluna Carlos Brickmann
TÁ DIFÍCIL PRA TODO MUNDO
COLUNA CARLOS BRICKMANN
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 30 DE SETEMBRO DE 2018
Bolsonaro é autossuficiente. Quem tem a seu lado o general Mourão não precisa de inimigos. Fernando Haddad é não-suficiente: em boa parte do país há apreensão de material de campanha petista que, sem dar nomes, manda votar no 13 – e põe, ao lado, o retrato de Lula. A vida é dura: Bolsonaro, tão fã de militares, tem de mandar um general ficar quietinho. E Haddad? Estudar tanto, por tantos anos, para virar genérico de presidiário?
Os problemas de ambos, porém, não se limitam aos aliados. Chegam agora a seus eleitores, em reportagens de capa nas grandes revistas semanais. Haddad, mostra a IstoÉ, tem a campanha comandada de dentro da cela de Lula, preso em Curitiba. E Bolsonaro: é capa da Veja, com base no processo em que se separou de Ana Cristina Siqueira Valle. Ela o acusou de ocultar da Justiça Eleitoral, em 2006, três casas, um apartamento, uma sala comercial e cinco lotes. E de ter rendimentos superiores ao triplo do salário de deputado somado aos proventos de militar da reserva. Quem pagava o extra? Ela não esclarece. Ainda o acusa de ter furtado, do cofre dela no Banco do Brasil, R$ 600 mil, mais US$ 30 mil, mais joias. E de tê-la ameaçado de tal maneira que ela foi morar na Noruega.
Verdades ou mentiras? O fato é que o processo estava arquivado e Veja teve que desarquivá-lo. Ana Cristina hoje apoia Bolsonaro, mora no Brasil, diz que exagerou na ação e adotou o nome eleitoral de Cristina Bolsonaro.
Com quem andas
Haddad, ele mesmo denunciado na Operação Lava Jato, não quis ficar só: o tesoureiro de campanha que escolheu, Francisco Macena, também é réu. Acusação: receber R$ 2, 6 milhões de pixuleco da empreiteira UTC para pagar dívidas de campanha. Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana, reforça as denúncias de uso intensivo do caixa 2. Três tesoureiros do PT foram condenados e há outros dois citados por delatores.
Do zero ao infinito
Mas o grande problema atual da chapa do PT não é a corrupção. É a capa da revista IstoÉ desta semana: mostra como o ex-presidente Lula, cumprindo pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, de dentro da prisão comanda a campanha de Haddad; “De lá”, diz a revista, “o petista articula a cooptação de caciques regionais e até entregas de dinheiro por meio de jatinhos”. Um caso, com nomes citados: “Ao descobrir que um dos motores da candidatura de Ciro no Maranhão era o deputado Weverton Rocha (PDT-MA), candidato ao Senado, Lula, por meio de Gilberto Carvalho, enviou uma importante mensagem a Valdemar Costa Neto (ex-presidente nacional do PTB, preso em regime semiaberto): ‘Faça chegar dinheiro à campanha de Weverton Rocha’. O deputado, conforme informações colhidas por Lula da prisão, precisava de R$ 6 milhões para deslanchar sua campanha. (…) Valdemar deflagrou a operação para o envio do dinheiro ao Maranhão”. A verba foi enviada num avião Cirrus, a serviço da empreiteira CLC, diz IstoÉ. O avião caiu em Boa Viagem, Pernambuco, mas sem vítimas nem danos à carga. O dinheiro, completa a revista, foi entregue ao candidato, que então cortou o apoio a Ciro e o deu a Haddad.
A revista publica textos de bilhetes, diz quem são os portadores que vão à prisão ver o Chefe e lá recebem as mensagens de comando aos políticos da aliança. Na campanha, pelo que está publicado em IstoÉ, só resta um papel a Haddad: fingir que ele não é ele, mas Lula. Não lhe deve ser difícil.
Ruim até para Alckmin
Este é um final de semana de más notícias para os candidatos – até para os que estão com as intenções de voto lá em baixo. Alckmin, por exemplo, que imaginava estar deslanchando a essa altura da campanha, pelo domínio do tempo de TV, ainda encontrou espaço para levar mais uma pancada – e em Goiás, onde os tucanos estão no poder há longo anos, onde o candidato do partido ao Senado, Marconi Perillo, é também um dos coordenadores da campanha tucana à Presidência. Na manhã de sexta-feira, a Polícia Federal desfechou a Operação Cash Delivery, que investiga pagamentos irregulares a agentes públicos. Um dos alvos da Cash Delivery é Marconi Perillo, citado em delações de executivos da Odebrecht. A defesa do governador (e candidato ao Senado) afirmou que a operação foi desfechada agora para prejudicar a campanha. De acordo com as delações, Perillo teria obtido duas doações da Odebrecht, uma de R$ 2 milhões, em 2010, outra de R$ 10 milhões, em 2014. Se não se eleger, Perillo perde o foro privilegiado.
A facada e a leitura
Depois do atentado a Bolsonaro, a leitura de artigos sobre ele triplicou: é o que indica a pesquisa da Taboola, plataforma internacional de descoberta de conteúdo, líder mundial no setor. A leitura on-line passou de 7,6 milhões para 20,71 milhões em um mês. As datas de maior crescimento foram a do atentado, dia 7, e a da segunda cirurgia de emergência, dia 13.
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Prezado Carlos Brickmann. Cumprimento-o pelo artigo, ao mesmo tempo humorado e desesperador. A nota Do Zero ao Infinito traz uma informação grave, que bem serve para ilustrar um fato sobre o qual tenho pensado ultimamente.. Lula, de dentro da prisão, ordena o envio de dinheiro para aliados de outros políticos, convencendo-os a mudar-se para o lado do poste – ou cone, imagem mais apropriada, pois postes costumam iluminar. É dessas revelações que nos mostram com clareza que as eleições serão tudo, menos limpas. Diante desses métodos canalhas, o que mais me impressiona, no entanto, é que colegas seus, jornalistas conhecidos, sentem-se aparentemente à vontade com ideia de que, se os bandidos cometem bandidagem, os mocinhos estão desculpados a agir igual, desde que seu objetivo seja eliminar os primeiros. Não consigo deixar de me enojar com a ideia, ao mesmo tempo rancorosa, medrosa e oportunista. Sujando-nos para eliminar os sujos, o que restará da limpeza que nos faz diferentes deles? Ou, por outra, honestos podem se permitir desonestidades para combater., digamos, desonestos? Não se tornariam exatamente iguais a eles? Parece-me, e isso é preocupante, pois contamina parte significativa do mercado da informação, que a possibilidade de F. Haddad vencer o 2º turno tem levado jornalistas reconhecidos ao arrepio da correção moral e ética, ao vale-tudo que a eliminação do PT parece deles exigir, autorizando-os a alargar incrivelmente o alcance da barbárie política – universalizando-a, de fato. Isso me preocupa. O Brasil certamente elegerá neste ano alguém de qualidades nulas, que, ou 1- reproduzirá a estratégia de destruir o Estado para alegrar eleitores famintos e garantir a perpetuação do ‘projeto’ destruidor, ou, 2- diante de sua intolerância e sua rara incapacidade para o diálogo político, levará o país rapidamente a mais um processo de impeachment. Não há ‘terceira via’. A mediocridade de pensamento, parece, nos afogará a todos.