Os três tipos de campanha. Por Gaudêncio Torquato
OS TRÊS TIPOS DE CAMPANHA
GAUDÊNCIO TORQUATO
… O desafio é encontrar fontes críveis dispostas a atestar qualidades de candidatos…
No início de setembro estaremos submetidos a uma bateria de mensagens eleitorais, em três vértices: a) glorificação de candidatos, com ênfase no “EU”, cujo mote é: “eu fiz, eu faço, eu farei”; b) demonização do ELE para desconstruir adversários, com o argumento do despreparo, da ameaça ideológica/retrocesso que ele representa; c) administração de alta rejeição e o esforço quase desesperado para reverter posição aferida por pesquisas, garantida pela assertiva: neste fulano não voto de jeito nenhum.
Além da programação às 13 horas e às 20:30, os eleitores serão submetidos a spots publicitários pelo rádio e TV, que pegam o eleitor desprevenido e, por serem breves, têm o condão de gerar predisposição positiva sobre o candidato. Mas o ambiente devastado da política é antídoto contra qualquer tentativa de melhorar a imagem dos protagonistas.
Analisemos as correntes. A primeira, de autoglorificação, integra o cenário do Estado-Espetáculo, tendo atingido o auge sob o bastão de Duda Mendonça, cujas campanhas entoavam o refrão “fulano fez, fulano faz, fulano fará”. Prometia ação, não discurso, mexendo com o sistema cognitivo de um eleitor saturado de blá-blá-blás. Teria efeito hoje? Ante o fogo que se alastra, consumindo os últimos resquícios da imagem de governantes, isso é um tiro no pé.
O desafio é encontrar fontes críveis dispostas a atestar qualidades de candidatos.
O segundo eixo é o do ataque a adversários, desconstruindo o perfil para inseri-lo no rol de ameaças. É um estilo criado na revolução francesa de 1789, quando os jacobinos produziram um manual de combate político com injúrias, calúnias e gracejos que acendiam instintos primitivos das multidões. Os EUA detêm a referência maior da propaganda agressiva, mola da campanha negativa.
… A terceira vertente foca a rejeição, que não se apaga da noite para o dia. Quando a rejeição é maior que a intenção de voto, urge providenciar a ambulância para entrar na UTI. Ou morrerá nas primeiras semanas do segundo turno.
Lyndon Johnson, candidato democrata a presidente em 1964, foi o primeiro a pagar anúncios para desmoralizar o rival Barry Goldwater. Uma menina no campo desfolhava pétalas de margarida e as contava uma a uma; chegando ao dez, uma voz masculina revertia a contagem. Na hora do zero, sob um ruído ensurdecedor, via-se na tela a nuvem de cogumelo da bomba atômica e a voz de Johnson: “Isto é o que está em jogo – construir um mundo em que todas as crianças de Deus possam viver ou, então, mergulhar nas trevas. Cabe a nós amar uns aos outros ou perecer”. Em nenhum momento se mencionava Goldwater. O republicano foi massacrado.
A terceira vertente foca a rejeição, que não se apaga da noite para o dia. Quando a rejeição é maior que a intenção de voto, urge providenciar a ambulância para entrar na UTI. Ou morrerá nas primeiras semanas do segundo turno.
A rejeição pode ser menor se o candidato for fundo nas causas, enfrentar o problema sem firulas e desistir de velhos hábitos. Mudar com equilíbrio.
Cuidado com mudanças bruscas, segundo a velha lição: não ganha quem força a planta frequentemente transplantada.
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Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação
Twitter @gaudtorquato
Humor negro, amarelo, vermelho e azul
ELEIÇÕES 2.018
Desta vez as Vossas Excelências inovaram:
Graças ao nobre coleguismo e irmanados na missão de atenuar a pesada barra para todos da nação brasileira, propuseram, deliberaram e impuseram o bilionário FINANCIAMENTO PÚBLICO DE CAMPANHA.
Eleitor, faça a sua parte dando também a sua contribuição!
Como?
É simples,
DOE SEU TÍTULO
De réu em réu
Os corruptos vão pro céu
E as vítimas pro beleléu
Sim, é isso mesmo!
Entra governo, sai governo
Uns roubam pouco, outros roubam muito
Tem milhões de cidadãos dignos e tudo pela Pátria.
Ímpios eleitos ou reeleitos que tudo prometeram e
Tudo esquecem e sentem-se no direito de
Usurpar até a esperança dos humildes, ao governar e
Legislar em causa própria,
Obstruindo ou sensibilizando consciências disponíveis…
.
Como fazer para doar o título?
É simples, antes de votar doe para os recicladores de papéis o principal alimento que sustenta a todos eles, os “Vossas Excelências”, vulgos “nobres colegas”.