Mídia: Poder autônomo? Por Meraldo Zisman
Mídia: Poder autônomo?
Meraldo Zisman
…Criticar a mídia em suas relações com o mundo político seria ingenuidade de minha parte, como se fosse a política uma pobre e indefesa vítima de imaculada atividade...
Quarto poder é uma expressão utilizada, com conotação positiva, para elogiar a Mídia (meios de comunicação de massa) que exerce tanto poder e influência em relação à sociedade quanto os Três Poderes constitucionais de nosso Estado Democrático (Legislativo, Executivo e Judiciário).
Na conjectura atual, às vésperas de eleições majoritárias, torna-se imperativo que a área midiática dedique-se à empreitada eleitoral. Criticar a mídia em suas relações com o mundo político seria ingenuidade de minha parte, como se fosse a política uma pobre e indefesa vítima de imaculada atividade.
Basta advertir, de princípio, que a escolha do que irão/deverão propalar deverá ser fruto de uma triagem cuidadosa. Sem falar na tremenda distorção de basear a veiculação da mensagem numa amalucada elocução do Internetês, com sua sintaxe esquisita.
Mesmo separando as notícias dos comentários, a maneira de divulgar e opinar que é adotada para propalar uma apurada seleção e depuração (pente-fino), adequa-se mais aos interesses da(s) confraria(s) da mídia. E a empresa emissora, pelo geral, é um amontoado mercantil sempre defendendo os interesses dos seus controladores.
Acautelo o leitor quanto a serem os jornais e as outras mídias instrumentos de Poder, administrados por grupos econômicos, que empregam uma linguagem críptica (cifrada) não para dar informação aos cidadãos, mas para defender o Poder ao qual pertençam ou estejam a serviço, ignorando a necessidade de informação sentida pelas pessoas, suas usuárias.
…somatório de erros não se transforma em acerto.
De tal modo a linguagem dos políticos inspira-se nesses mesmos modelos que foi criada a expressão “Convergência Paralela”, que significa “compreensível apenas pelos patrões dos poderes tradicionais” (incluindo aí o poder econômico e os representados pelos sindicatos e as grandes empresas, bancos, ideologias, etc.).
Seria interessante e oportuno relembrar a Operação Mãos Limpas na Itália, durante a qual houve grandes denúncias. No entanto, careciam os jornais e correlatos, como rádio e TV, de espaço suficiente para fazer acusações. Ela, a mídia, ficou fora do espetáculo numa corrida frenética de bisbilhotice para dar “furos jornalísticos” e acredito, aumentando assim a exacerbação das desavenças políticas no País. .
Os veículos midiáticos podem aumentar os números da audiência, mas podem também perder o direito de permanecer sendo vigilante dos três poderes clássicos e o pior: perder a sua independência. Se assim prosseguir, a Mídia perderá o título de Poder Autônomo. Bom será lembrar que em outros lugares as coisas não acontecem de maneira diferente.
Mas o somatório de erros não se transforma em acerto.
Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE).
” Mesmo separando as notícias dos comentários, a maneira de divulgar e opinar que é adotada para propalar uma apurada seleção e depuração (pente-fino), adequa-se mais aos interesses da(s) confraria(s) da mídia. E a empresa emissora, pelo geral, é um amontoado mercantil sempre defendendo os interesses dos seus controladores.”
Dr. Meraldo, peço-lhe que não desista, insista, persista, e nem nos prive de qualquer comentário elucidativo, que nos possa ajudar a compreender essa engendragem político-social-midiático. A Nação Brasileira fica-lhe grata.