“Doença holandesa” ou amnésia?
Dizem que o Brasil não tem memória. Não sei se é verdade, nem é este o meu assunto, pois hoje quero discutir um outro caso de amnésia: a que afeta os economistas e líderes empresariais que, com grande fanfarra, anunciaram aos quatro ventos a morte iminente (e prematura) da indústria brasileira vitimada pela “doença holandesa”. Os suspeitos de sempre proclamavam há pouco que a taxa de câmbio abaixo de R$ 2,00 faria a indústria perder participação no PIB, além de inibir os investimentos privados (apesar do barateamento dos bens de capital), e que a taxa de juros não permitiria que o país retomasse o rumo do crescimento acelerado.
No entanto, lendo os jornais deste fim-de-semana, descobri surpreso que vários destes profetas, na esteira da divulgação dos bons resultados da produção industrial no ano passado, vêm agora a público celebrar o que diziam que não iria ocorrer, e afirmar sorridentes que mais ainda está por vir. Refletindo um pouco sobre estas afirmações vi que só me restam duas alternativas para explicar esta súbita conversão: ou os profetas padecem de amnésia, ou acreditam que o digníssimo público sofra.
Os números mostram que, além de a expansão industrial ter sido bastante elevada em 2007 (6%, atingindo média de 5% a.a. nos últimos quatro anos), foi também muito difundida (65 dos 76 segmentos industriais cresceram, desempenho muito similar ao de 2004, quando 67 segmentos cresceram), mostrando que o crescimento não ficou restrito a poucas indústrias, presumivelmente ligadas às commodities.
Ainda mais interessante, nenhum dos 5 segmentos que mais se expandiram (máquinas e equipamentos, veículos, computadores, material elétrico, outros equipamentos de transporte) mostra qualquer relação mais profunda com o setor produtor de commodities. Pelo contrário, falamos de bens diferenciados com conteúdo tecnológico de médio para alto. Em contraste, entre os segmentos com pior desempenho (fumo, madeira, calçados, diversos, eletrônicos) apenas o último se qualificaria como tal.
Não bastasse isto, a produção de bens de capital para fins industriais cresceu 17%, à qual se soma uma expansão de 32% da importação de bens de capital, mostrando que os empresários propriamente ditos preferiram ignorar os alertas de seus “líderes” – segundo quem “a interpretação de que a alta da produção de bens de capital é sinal de revigoramento da indústria é questionável” (Folha de S. Paulo, 26/05/2007) – e investiram na modernização e ampliação de suas fábricas.
Em linha com este desenvolvimento, a criação de empregos industriais atingiu a marca de 395 mil novos postos (aumento de 60% sobre 2006), correspondentes a um em cada quatro novos empregos, desempenho certamente inconsistente com a tese da perda de participação da indústria na economia.
Em face desta avalanche de evidências deve ficar claro que o Brasil não padece de desindustrialização, ou “doença holandesa”, ou qualquer outro nome que os “desenvolvimentistas” possam ter criado para batizar um fenômeno inexistente. E, em face deste artigo, espero, deve ficar claro também que o público também não tem motivos para sofrer de amnésia. Mas, fica minha sugestão, caso nossos “keynesianos de quermesse” não queiram confessar amnésia, podem alegar privação momentânea de sentidos. No mínimo ajudaria a explicar como conseguiram ignorar esta montanha de dados.
(Publicado 20/02/2007)
Qdo vc falou em “montanha de dados” lembrei do companheiro anônimo heterodoxo e de uma banda ridícula chamada Inimigos da HP. Tudo a ver…Keynesianos de quermesse praticam keynesianismo sem HP 12C.
Joper:
Um dos próceres do “keynesianismo de quermesse” já em 1986 se orgulhava de não saber usar uma HP. Jactar-se da própria ignorância é revelador…
Abs
Alex
Alex,
Parabéns pelo artigo. Nossos keynesianos são tropicalizados e confundem tudo. Não aceitam nem os Neo-keynesianos, já que repudiam as expectativas, otimização, racionalidade, etc. Mas, em sua opinião o keynesianismo morreu, ou não?
Abç.
M.
Acho que não M.
Eu me considero neo-keynesiano, quer dizer, acredito na relevância de rigidez nominal e real de preços e, portanto, na importância da política monetária como instrumento de suavização do ciclo econômico. Ao mesmo tempo concordo com a ênfase dada à otimização, expectativas racionais e equilíbrio.
Na minha opinião a síntese neo-keynesiana nos dá o melhor conjunto de elementos para compreender a realidade macro e intervir nela. Principalmente, estabelece bem os limites do que pode e não se pode fazer em termos de política macro. Nâo à tôa parece ser a visão dominante na academia hoje e alguns de seus representantes mais notáveis (Ben Bernanke, Larry Summers, Ric Mishkin, Alan Blinder, Janet Yellen, Stanley Fischer entre outros) ocupam (ou ocuparam) altos postos em instituições de política econômica nos EUA e em outros países.
Abs
Alex
Meus caros,
A doença holandesa existe!!!!!! Um amigo meu, em visita ao famoso bairro da luz vermelha em Amsterdam, pegou a tal doença e penou para se livrar dela!!!!! Chega a ser uma irresponsabilidade negar sua existência. Quem avisa, amigo é!!!! Tomem cuidado!!!!!
Saudações
Há também uma outra “doença holandesa” associada ao consumo de certas substâncias vendidas com liberalidade nas ruas de Amsterdam, incluindo as proximidades das luzes vermelhas.
Pode até justificar a privação momentânea de sentidos dos “keynesianos de quermesse”…
Alex,
OK. Mas o Bernanke é defensor do sistema de metas de inflação e neste sistema o crescimento é consequência da inflação baixa, ancorada nas expectativas dos agentes. A moeda seria neutra por esta visão. É isto mesmo?
Abç.
M.
Vamos por partes.
Se estamos falando de crescimento de longo prazo, o consenso – entre neo (ou novos) keynesianos – é que este resulta de: (a) acumulação de fatores (a parte menos glamurosa); e (b) como conseguir mais com os mesmos fatores (bem mais interessante). Há muito trabalho sobre a parte (b), incluindo a nova teoria do crescimento, que estava em efervescência na época que fiz o doutorado (trabalhos do Paul Romer, Helpman & Grossman, do próprio Lucas, Aghion e outros).
Obviamente, nesta perspectiva (crescimento de longo prazo), a moeda é neutra e inflação tipicamente entra com sinal negativo (a partir de determinado nível) nas regressões de crescimento, i.e., uma inflação x% acima de um nível crítico y% custa menos z% de crescimento de longo prazo.
A outra questão diz respeito ao comportamento cíclico. O que determina o ciclo econômico, i.e., por que períodos de alto crescimento tendem a ser seguidos por períodos de alto crescimento e períodos de baixo crescimento por períodos de baixo crescimento.
Aqui o mainstream se divide. Há quem acredite que os ciclos derivam de fatores reais (Real Business Cycle, RBC), como tecnologia, preferências, etc. Da forma como vejo a profissão, a RBC nunca conquistou os corações e mentes do mainstream, ficando mais restrita a Chicago e vizinhanças.
Os demais (entre os quais me incluo) acreditam da prevalência de fatores monetários para a explicação do ciclo econômico, enfatizando modelos de concorrência imperfeita com rigidez nominal de preços (por exemplo, o trabalho do Akerloff com a Yellen) ou rigidez real (efficiency wages). Estes modelos geram ciclos econômicos a partir de choques monetários, implicando não-neutralidade da moeda para as flutuações econômicas.
Em particular, uma decorrência destes modelos é precisamente a curva de Phillips neo-keynesiana, que serve de base para os modelos de metas de inflação. Estes modelos reconhecem o papel das expectativas (portanto a moeda é neutra no longo prazo), mas admitem um papel limitado para a gerência discricionária da política monetária (que o próprio Bernanke chamou de “constrained discretion” num discurso de 2003, quando ainda era só um membro do FOMC).
Com as expectativas devidamente ancoradas um BC ganha graus de liberdade para conduzir a política anti-cíclica. Daí a preferência do Bernanke pelo regime de metas. Vê alguma semelhança com as linhas gerais de condução da política monetária americana?
Abs
Alex
amigos que visitam “bairro de luz vermelha”, quando vão a Amsterdam e essa fixação em HP fazem de vocês candidatos certos a ficarem detidos na imigração espanhola, sugiro não comprarem as passagens baratinhas que fazem escala por lá, e se o fizerem, não digam nada, deixem que os ternos de vocês falem mais alto.
ah, e gostei dessa explicação: quer dizer que o crescimento é decorrente de choque monetário? deve ter sido por isso que o FED não viu a bolha dos subprimes e permitiu que financiassem o ciclo internacional que culminou, ora, ora, numa queima de U$7 trilhões de liqüidez em 40 dias.
ainda bem que não foi o meu trilhão, e tomara que tenha sido o de vocês.
Opa. Vejo alguém aqui com problemas em compreensão da língua portuguesa (nem vou mencionar economia).
Para quem domina os fundamentos da língua deveria ficar claro que crescimento em si não tem nada a ver com chqoues monetário. Cito: “Obviamente, nesta perspectiva (crescimento de longo prazo), a moeda é neutra e inflação tipicamente entra com sinal negativo (a partir de determinado nível) nas regressões de crescimento, i.e., uma inflação x% acima de um nível crítico y% custa menos z% de crescimento de longo prazo.”
Já ciclos, na visão novo-kenesiana (em oposição à visao RBC)teriam suas origens em choques monetários. Ou seja, exatamente o que vimos.
Já o meu trilhão continua garantido…
Alexandre,
Qual o argumento dos keynesianos de quermesse para proteger tanto o setor industrial? Ainda que o emprego na indústria seja melhor para o trabalhador, faz sentido que o governo intervenha no mercado em benefício da indústria? É tão ruim termos uma vocação natural para a agropecuária?
Porque, segundo eles, indústria é coisa de país desenvolvido. A agroindústria, não.
O argumento todo fica algo longo para um comentário, mas está relacionado a: (1) a indústria é menos sensível que a agricultura a ciclos externos (há também uma visão, herdeira do Prebisch, sobre a deterioração secular de termos de troca contra a agricultura); (2) a indústria traria mais inovação tecnológica, portanto maior aumento de produtividade; 3) a indústria seria mais dinâmica, portanto com maior capacidade de absorção de mão-de-obra.
Acredito que, por trás desta visão, há certo desconehcimento do que é a agroindústria hoje, tanto em termos tecnológicos, como em termos de suas ligações com o resto da economia. Sem contar que a tese da deterioração secular de termos de troca jamais sobreviveu aos testes estatísticos (não que isto incomode o pessoal da quermesse).
Há, por fim, todo o lobby da indústria, para quem toda a taxa de câmbio esté sobrvalorizada, o juro está sempre acima do equilíbrio e inflação é sempre choque de oferta.
Abs
Alex
então, agora, depois de afirmar que a desindustrialização atualmente em curso no país é um mero argumento dos industriais lobistas (uau, será que é assim que teu banco trata os clientes empresários?), você defende a desindustrialização.
segue abaixo matéria no G1:
“O emprego na indústria nacional fechou 2007 com crescimento de 2,2%, na maior alta da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2001. Em dezembro, no entanto, houve queda de 0,5% no contingente de trabalhadores da indústria em comparação com o mês anterior.
Os estados de São Paulo e Paraná foram destaque no crescimento do emprego industrial em 2007, com altas de 3,5% e 2,01%, respectivamente. Região Nordeste e Minas Gerais também tiveram taxas significativas, de 1,4% e 1,5%. No Rio Grande do Sul, onde o indicador permaneceu negativo ao longo de 2007, a taxa fechou positiva em 0,1%.
Em termos setoriais, a liderança ficou com alimentos e bebidas (4,0%), meios de transporte (7,7%), produtos de metal (7,3%) e máquinas e equipamentos (7,0%). Calçados e artigos de couro (-7,3%), vestuário (-3,7%) e madeira (-5,7%) apontaram os principais recuos de 2007.”
não é necessário doutorado em Berkley para intuir algo de muito preocupante, sobretudo quando sabemos que no setor de máquina e equipamentos e de produtos de metal estão muitas empresas que trabalham para os exportadores de automóveis que (e parece que é preciso não ter doutorado em Berkley para “ler” isso entre os dados da realidade) têm interesse em manter o câmbio baixo, ao contrário dos demais exportadores brasileiros.
e vejam, o grande boom na “indústria” de exportação de automóveis gerou um aumento de 2,2%… dados de regiões metropolitanos indicam que não houve aumento de rendimentos.
Não se pede a um doutor por Berkley que seja um economista capaz de perceber que, por detrás dos números, existem seres humanos e que talvez seja muito difícil para um empresário demitir seus funcionários. Mais ainda quando este empresário paga impostos que a indústria da exportação operando em regime de draw back não paga.
Enfim resgato uma afirmação tua, em post anterior, que o atual governo, esse que permitiu este quadro absolutamente kafkiano, deixou para a autoridade monetária a responsabilidade de lidar com as pressões inflacionárias, ao invés de ter uma política fiscal mais “ajuizada”.
E acrescentaria que, ao lado disso, o governo pecou por se recusar a estabelecer os marcos regulatórios que permitiriam investimentos internacionais em segmentos fundamentais para a expansão da oferta.
E, por fim, sugiro que você e teu banco se mudem para uma fazenda, já que é esta tua recomendação para o setor produtivo brasileiro.
Citando o seu texto:
“O emprego na indústria nacional fechou 2007 com crescimento de 2,2%, NA MAIOR ALTA da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciada em 2001.”
Dificilmente consistente com a historinha de desindustrialização, pois não?
Dados do CAGED divulgado anteontem: emprego na indústria de manufatura (nacional, não apenas regiões metropolitanas) aumenta em 414 mil novos postos nos 12 meses até janeiro (12 meses até dez-07 eram 397 mil).
Citando:
“não é necessário doutorado em Berkley para intuir algo de muito preocupante, sobretudo quando sabemos que no setor de máquina e equipamentos e de produtos de metal estão muitas empresas que trabalham para os exportadores de automóveis que (e parece que é preciso não ter doutorado em Berkley para “ler” isso entre os dados da realidade) têm interesse em manter o câmbio baixo, ao contrário dos demais exportadores brasileiros.”
Ah claro, a indústria automotiva, ao contrário das indústrias normais, prefere câmbio baixo. Deve ser por este motivo que o Ray Young vivia reclamando do câmbio a R$ 2,15.
E seria bom você entender o que é “draw-back”, porque não é o que acontece na indústria brasileira em geral, nem na automotiva em particular.
O pessoal de BERKELEY agradece em nome do eminente filósofo inglês.
Caro Alexandre, permita-me uma sugestão.
No comentário sobre visão RBC e visão novo-keynesiana, você menciona que alguns economistas acreditam que ciclos advêm de choques reais, enquanto outros acreditam que a origem são os choques monetários.
Lembro-me da minha primeira aula no mestrado (epge) sobre modelos e métodos de pesquisa, que terminava com a frase: “models are to be used, not to be believed.”
O problema é que grande parte das críticas que economistas heterodoxos fazem ao mainstream (não todas) passam pelo chavão: “ortodoxos acreditam em racionalidade dos agentes, o que obviamente não é realista, então os modelos são ruins.” Como se, ao escolher a melhor posição para um guarda-sol na praia, alguém acreditasse na teoria geocêntrica; ou, ao recorrer a um mapa para pegar a primeira ou a segunda direita, alguém acreditasse que o mundo é bidimensional.
É claro que você não empregou a palavra “acreditar” nesse sentido ingênuo (ou teria tido vida curta na academia), mas isso acaba sendo distorcido e servindo para criar o estereótipo ORTODOXOS, um bando de tolinhos que acreditam piamente na racionalidade dos agentes e na eficiência dos mercados (e querem tirar dos pobres e do setor produtivo para entregar aos banqueiros, e são obsessivos por HPs).
Então, fica a sugestão: deixar tão claro quanto possível que não se trata de fé, mas do uso da ferramente mais adequada para estudar determinado problema. Não chega a ser necessário fazer uma discussão sobre Popper e Kuhn – acho que isso é suficiente para facilitar a vida de quem quer discutir idéias.
Em tempo: “o anônimo” não é oxímoro.
Abs a todos.
Bons pontos Pedro. De fato, é modelos são aferidos em termos de sua capacidade de explicação e previsão do comportamento dos dados. (A este respeito ver meu post “A miséria da epistemologia” http://maovisivel.blogspot.com/2007/12/misria-da-epistemologia.html no qual discuto, entre outras, precisamente esta questão.
Uma forma mais elegante talvez seria dizer que determinados economistas privilegiam modelos que atribuem a fatores reais os ciclos econômicos, enquanto outros (de extração novo-keynesiana) atribuem a modelos em que choques monetários explicam o ciclo um poder explicativo maior.
Estou gostando cada vez mais deste blog!
Abs
Alex
Caro Alexandre, caro Anônimo,
acho que seria útil termos uma definição mais precisa de “desindustrialização” para facilitar o debate. Do jeito que está, talvez seja correto afirmar que a desindustrialização está acontecendo (pq o critério é “crescimento do emprego industrial estritamente acima de 2,2%”) e que não está acontecendo (segundo o critério “crescimento positivo da produção industrial”).
Não consigo enxergar um processo de desindustrialização em curso, mas como eu não sei o que significa “desindustrialização”…
O que pode ser? Variação da participação da indústria no PIB? Coeficiente de penetração das importações na oferta de produtos da indústria? Uma combinação desses e outros eventos? Alguma sugestão?
Abs a todos.
Alex,
O momento é propício para falar da condução da política monetária americana. A inflação preocupa, e o crescimento econõmico derrapa por razões já conhecidas. Se a moeda serve para atenuar ciclos econômicos, o que fazer com a inflação? Eu aposto que o FED foca a inflação e o crescimento vem em segundo plano. Como fica o papel da moeda como forma de mitigar ciclos de baixa?
Abç. e parabéns pelo blog.
M.
M:
Boa pergunta. Não acho que haja uma resposta acerca do que DEVE ser feito; minha opinião quanto ao que o Fed de fato fará é focar no produto e torcer para que a desaceleração já encomendada cuide da inflação.
Pode funcionar se as expectativas permanecerem ancoradas, como parecem estar. Se não, o espaço para o Fed agir irá se reduzir espetacularmente.
Sem expectativas na meta fica muito difícil utilizar a “discricionariedade restrita” e a curva de Philipps torna-se rapidamente vertical.
Abs
Alex
“minha opinião quanto ao que o Fed de fato fará é focar no produto e torcer para que a desaceleração já encomendada cuide da inflação.”
Concordo.
Nao se esqueca que esse eh um ano eleitoral, o Bernanke foi nomeado pelos republicanos, e a crise das hipotecas pode ser aliviada com um pouco mais de inflacao…
Nao tenho duvida alguma que o Fed vai focar primeiro no produto, depois no produto, e a partir do comeco de 2009, na inflacao se assim for preciso (vai ser).
“O” Anonimo
Não se esqueça que o Greenspan foi nomeado por republicanos e, ainda assim, graças á recessão de 1990/91, quem se elegeu foi o democrata Bill Clinton sob o mote “é a economia, estúpido”.
Nem se esqueça que o democrata (e nomeado por democrata) Paul Volcker fez ó que fez para desinflacionar o país, contribuindo para a vitória do republicano Reagan.
Tem muito mais que joguinho partidário na definição de política monetária do Fed. E é por este motivo que eles se beneficiam das expectativas ancoradas.
Alex,
Voce estah confiante demais nas instituicoes americanas. Pois instituicoes se deterioram as vezes…
Nao seria a primeira vez. O Greenspan fez o jogo politico do Bush quando depos a favor dos cortes de impostos…
Alem da irresponsabilidade idiotica do Greenspan de focar no core pce como se demanda agregada americana nao estivesse alimentando o boom chines e indiretamente o preco de comida e combustiveis.
(Pais pequeno tem justificativa para tirar comida e combustivel do indice de inflacao a ser controlado, pais com 20 por cento do PIB mundial nao)
E com o Bernanke ainda nao caiu a ficha que a inflacao eh 4.5 por cento e subindo…
Pode contar com inflacao americana em pelo menos 5 por cento na virada do ano, isso se houver uma recessao; sem recessao, pode contar com uns 7… Daih nao tenha duvida nenhuma que 2009 vai comecar a segunda desinflacao volckeriana…
“O” Anonimo
Alex,
Mas as expectativas são ancoradas em função da crença de que o BC (FED, etc), focará a inflação e não o produto. O suporte teórico desta visão é de que inflação baixa é benéfica para o crescimento econômico. Desculpe, mas discordo da opinião de que o FED está com foco no produto. Na verdade penso que eles estão em uma sinuca de bico, quanto mais agora com petróleo a US$100,00. A conferir.
Abç.
M.
M:
Por este motivo não são ociosos os comentários da ata acerca da necessidade de retirar o impulso monetário quando a economia se recuperar.
No contexto em que o Fed está baixando juro como se não houvesse amanhã acho difícil que o foco dele hoje seja a inflação. Pode voltar a ser e, se as expectativas se deteriorarem, aí é mesmo sinuca de bico.
“O” Anônimo:
Instituições se deterioram, mas não vejo o Fed se balizar pelo ciclo político. Pelo menos nunca vi em toda minha vida profissional e, pelo menos, desde 1978.
De qualquer forma, faça o Fed o que fizer, nos efeitos dificilmente aparecerão a tempo de afetar as eleições. As defasagens são altas (diz meu amigo e colega Cris que mais longas que no Brasil) e, desconfio, com os bancos na lona, o canal de crédito não deve funcionar tão bem.
Abs
Alex
“De qualquer forma, faça o Fed o que fizer, nos efeitos dificilmente aparecerão a tempo de afetar as eleições.”
Mas o que importa sao as aparencias… Imagina o cenario, voce eh o Bernanke e recebeu o telefonema do Dick Cheney gritando improperios, voce tentaria explicar para ele que as defasagens sao longas e variaveis? E voce acha que ele entenderia?
“O” Anonimo
Em um comentário anterior havia essa colocação:
“Há, por fim, todo o lobby da indústria, para quem toda a taxa de câmbio esté sobrvalorizada, o juro está sempre acima do equilíbrio e inflação é sempre choque de oferta.”
Há aqueles que criticam vc por trabalhar em um banco, considerando-o incapaz de opinar de maneira isenta sobre vários temas. Há por acaso lobby dos bancos? Gosto do blog, mas utilizar este tipo de argumento não é semelhante ao que eles fazem?
Alex,
Primeiro foram os tech stocks, depois foi o real estate… Meu palpite eh que a proxima bolha a estourar vai ser a “great moderation”…
O debate macroeconomico nos EUA parece assumir que recessoes nao devem acontecer nunca mais, e se acontecerem vao ser rasas, e qualquer desvio inflacionario pode ser lidado com minimo custo em produto, gracas ao conhecimento superior da economia dos banqueiros centrais do presente.
Nao sei nao. O business cycle nao foi abolido. Pensar o contrario eh puro “hubris”.
Alex,
As expectativas, devidamente ancoradas com base na reputação, comprometimento, etc., dos BC´s, servem para reduzir o custo social de um processo de desinflação, ou mesmo para manter a inflação na meta (ou dentro de seu intervalo). A inflação, em si, é um fenômeno de oferta e procura (os keynesianos de quermesse só aceitam inflação de custos…), portanto o peso recai sobre o comportamento dos preços. Fica difícil monitorar a inflação pelo estado das expectativas, daí meu entendimento de que a política monetária (seja uma redução ou um aumento da taxa de juros) serve para ajustar a inflação, e não o produto. O que poderia deteriorar as expectativas é o fato de o FED reduzir as taxas desesperadamente.
Abç.
M.
Crescimento ancorado em uma cavalar dose de crédito.Povo compra Uno em 60×650,00 sem entrada,ótimo negócio!!.Já está começando faltar dinheiro “vivo” para o básico.Anote ai,o povo só está comprando o que não precisa de dinheiro.Tem gente querendo pagar dois litros de leite com cartão na padaria.Acho que mais a frente teremos surpresas……
Caro “O” Anônimo:
Impropérios podem acontecer. O Greenspan, so seu livro, nos dá algumas descrições muito explícitas de como o Nicholas Brady (que era – e deixou de ser – seu amigo pessoal) fazia pressão sobre o Fed. Ainda assim, o Fed fez o que fez. Não acho que isto vá sensibilizar o Bernanke e, de novo, mesmo que sensibilizasse, já é tarde demais.
“Outro” Anônimo (pô, pelo menos deixem iniciais, senão fica difícil):
Não acho que o ciclo tenha sido abolido. A meu favor posso dizer que sempre disse isto.
Mas a “grande moderação” não equivale à eliminação do ciclo econômico, nem ao fim da inflação. Ela implica somente que a magnitude do ciclo deve ser atenuada com relação ao que observávamos há 20 ou 30 anos.
Mesmo que os EUA passe por um processo semelhante ao de 1990/91, não há comparação com o que foram os ciclos dos anos 70 ou 80. Da mesma forma, discutimos se a inflação cheia pode chegar a 5%, talvez 6%. Só para lembrar, mesmo na entrada da recessão de 1990, quando a inflação era muito menos um problema do que havia sido no final dos anos 70 e início dos 80, ela já estava em 6%.
Abs
Alex