Grau de investimento: e daí?
A elevação da avaliação de risco do Brasil a “grau de investimento” pela agência S&P não surpreende. Era, creio, um dos eventos mais esperados do ano e, em particular, já em maio de 2007 meu colega Cristiano Souza publicou um trabalho no qual afirmava ser muito alta a probabilidade que pelo menos uma das agências promoveria o país a esta categoria ainda na primeira metade de 2008.
Há pelo menos duas conseqüências importantes que deverão resultar deste fato, mas, antes de me aprofundar nelas, permitam-me uma breve reflexão sobre o caminho que nos trouxe ao tão-desejado “grau de investimento”. Da forma como o vejo, é o resultado da persistência, ao longo de 10 anos, de uma política econômica coerente, baseada no tripé responsabilidade fiscal, câmbio flutuante e metas de inflação.
Não que a execução deste regime tenha sido exemplar. A responsabilidade fiscal tem sido guiada pelo objetivo parcial de redução da dívida pública (que foi essencial à recente promoção), mas presta pouca atenção à questão do gasto público, em especial o gasto corrente, cujo principal efeito é limitar a capacidade de crescimento de longo prazo do país.
No entanto, o foco das agências de risco não é o crescimento, ou o bem-estar da população, ou mesmo uma análise completa de todos os aspectos da economia de um país. Trata-se tão-somente de uma avaliação acerca da probabilidade que o país pague aquilo que deve, e, neste aspecto, a melhora da economia brasileira é visível e dois fatores merecem especial atenção.
Em primeiro lugar, a política econômica atual é vista como sustentável, ou seja, capaz de ser mantida, porque implica não apenas estabilidade, mas porque se mostrou também consistente com a retomada de um ritmo de crescimento mais forte, desmentindo os críticos que viam na busca da estabilidade o abandono do crescimento. Em segundo lugar, a promoção foi obtida em meio a uma séria crise internacional, mostrando que os esforços pela melhora da capacidade de resistência da economia a choques (como a acumulação de reservas internacionais) valeram a pena.
Isto dito, a primeira grande conseqüência da promoção do país deve ser uma redução adicional do custo de capital para os setores público e privado. Grandes investidores internacionais que, por motivos regulatórios, enfrentavam limites à ampliação de seus investimentos no Brasil agora poderão fazê-lo, trazendo ao país recursos antes inacessíveis. A principal implicação deste fenômeno deverá ser uma aceleração suplementar do investimento e, portanto, do crescimento, ampliando os dividendos da estabilidade.
A outra grande conseqüência é o reforço à continuidade desta política. Uma vez obtido o grau de investimento será muito custoso perdê-lo, o que gera incentivos poderosos à manutenção (e, com um pouco de sorte, aprofundamento) do atual regime de política. Aventuras populistas e idéias exóticas deverão ter menor respaldo, empurrando nossos keynesianos de quermesse cada vez mais para as margens da formulação de política.
Claro que haverá protesto. Em linha com a valorização dos ativos brasileiros, a moeda deverá se apreciar, gerando choradeira por parte dos suspeitos de sempre, que ainda se recusam a ver a ligação entre a melhora do país e a apreciação da moeda, bem como o efeito do gasto público sobre a taxa de câmbio. Talvez agora reclamem das agências de risco…
(Publicado 2/Mai/2008)
Olá Alex e ao pessoal adepto do “anti-keynesianismo de quermese” rs!!
Sou aluno de graduação de Adminstração, apesar disso tenho um curso pouquíssimo engajado na área econômica. Por isso, gostaria de saber quais as bases que eu devo adquirir para melhorar meu conhecimento.
Já estudei o Mankiw e não fiquei muito satisfeito. Comprei recentemente o Blanchard (ouvi falar bem, mas não sei se é bom mesmo). Queria que vocês me ajudassem, citando os “livros-base” das diciplinas-base (micro, macro, cálculo, estatística e etc), para que eu entenda um pouco mais sobre economia.
Abs!
Como assim Alex, apreciação cambial só vai gerar coisa boa?
Importação sobe 49% e superávit fica em US$ 1,7 bi
http://br.invertia.com/noticias/noticia.aspx?idNoticia=200805021435_RED_76909835
ass: Alisson 🙂
obs1: concordo que o investment grade trará estes benefícios citados pelo Senhor. Acrescento mais um – q ja está ocorrendo – que é a valorização da bolsa (meus trocados em ações da petro e vale agradecem);
obs2: pq ninguém fala na tv pra essas empresas exportadoras fazerem hedge de receita vendendo dólar futuro? Pq ninguém fala para as companhias aéreas ‘hedgearem’ uma parte destes custos delas, comprando contrato de petróleo? Querem um capitalismo com risco zero? Acham pecado ganhar dinheiro com uma atividade que não seja a operacional? Ou os custos para praticar tais políticas são muito altos? Explica aí pra nós que somos ‘ignorantes’ em mercados futuros.
obs3: lasse,não me chamo alex,mas te recomendo ler os livros de história, geografia, etc…e fazer vestibular novamente (DESTA VEZ PARA ECONOMIA)…pq se queres estudar micro,macro,cálculo,estatística E ETC…o vc está fazendo em administração?
Saudações…
Alex,
Aproveitando o “lasse”, que estuda ADM, entendo que no Brasil exploramos pouco a linha de “Business Economics”. Acho que os economistas ganhariam mais espaço no mercado se focássemos neste segmento. Lasse, aconselho fortemente o estudo de Micro, comece pelo Varian (Baby é claro) e depois estude organização industrial (Milgron é uma boa sugestão).
Abç.
M.
Alisson:
Não. A apreciação cambial RESULTA de coisas boas.
Já importar mais não é ruim, muito pelo contrário, por vários motivos. Sem esgotar a lista:
1) Trata-se de oferta adicional para atender a crescente demanda doméstica (cada 1% a.a. de diferença entre demanda doméstica e PIB requer quase 8% a.a. de crescimento das importações em volume);
2) Permite a compra de bens de capital e bens intermediários mais modernos, melhorando a produtividade da economia e acelerando o crescimento;
3) Expõe a economia à concorrência, com consequências positivas para o aumento da produtividade;
4) Comércio internacional (como todo comércio) permite uma alocação mais eficiente dos recursos.
Quanto a hedge, muita gente faz, se não todos. De qualquer forma, eu acho que – de maneira geral – empresas entendem dos próprios negócios mais do que economistas.
Abs
Alex
Alex,
Não sei se você viu no blog do Nassif uma crítica a este texto. Pelo que entendi ele não acredita que melhorar a capacidade de pagamento da dívida é uma melhoria para o país.
O Nassif eh um retardado.
Alguém sabe por que o México teve um mal desempenho no seu mercado acionário após receber o investment grade? Esta informação está certa?
Alex,
Do jeito que você coloca os seus argumentos, parece que não devemos nos preocupar com o câmbio. Mas será que não? A estrutura produtiva brasileira (e consequentemente, milhares de empregos) pode ser completamente alterada por uma significativa apreciação cambial.
O câmbio é a última das suas preocupações? Um radicalismo na liberdade de flutuação não pode ser prejudicial?
Anônimo:
Câmbio real a gente não escolhe, ou melhor, escolhe, mas cuidando das políticas que realmente afetem esta variável.
Alguém quer um câmbio real sistematicamente mais depreciado? Não tem problema: reduza o gasto público. Para a mesma meta de inflação (funciona também se você não tiver meta de inflação) e, portanto, mesma taxa de inflação esperada, a política monetária será menos apertada e o câmbio real será mais fraco.
Quanto à estrutura da economia, é só olhar o que está acontecendo. A historinha da “desindustrialização” é só conversa mole para boi dormir, ou, se preferir, para arrancar recursos baratos do BNDES e impor tarifas protecionistas.
Abs
Alex
Ou se realmente for mais dificil cortar gasto publico do que tirar pensamento coerente e honesto do Nassif, entao sempre tem a opcao de reduzir-se as tarifas de importacao.
Uma das evidencias mais fortes que um dos problemas do Brasil eh baixo capital humano estah na atuacao de nossos exportadores. Nao conheco nenhum deles que faca lobby para reduzir gastos publicos ou tarifas de importacao 🙂
“O”
“O”:
Se cortar o gasto público for mais difícil que tirar um pensamento honesto OU coerente (veja que estou dando duas chances) do Nassif, aí já saiu da categoria de “difícil” para “impossível”.
Isto dito, sim, o que você falou é correto. Baixar tarifas de importação deveria desvalorizar a taxa real de câmbio (não me está claro o sinal, porém, sobre o saldo em conta corrente, ao contrário da redução do gasto público, mas pode ser porque eu não lembro mais de todas as implicações do Teorema de Lerner).
Abs e bom domingo,
Alex
Alex,
Que reducoes de tarifas de importacao beneficia a competitividade dos exportadores – nao ha duvida alguma!
Mas eh bizarro que o naxif e os uefe-erre-jotas preguem que o aumento das importacoes desorganizam as linhas de producao (ou algo que o valha) nacional. Sao retardados que nao entenderam nada dos ultimos 40 anos, nao entenderam intra-industry trade, nao entenderam outsourcing etc
Mas o pior de todos foi o Sr. Estacao de Metro que escreveu outro dia que a moeda da China estava sobreapreciada com relacao ao yen porque a China tem um deficit comercial com o Japao (o Leonardo da Vinci da 9 de julho nao sabe que a China monta os componentes feitos no Japao e outros asiaticos, e exporta o produto final para o resto do mundo).
Anônimo:
É um mundo bem simples: você tem déficit com um país, sua moeda está apreciada com relação à moeda deste país; caso tenha um superávit, está desvalorizada.
Veja, porém, o mais interessante: o Brasil têm superávit nas trocas com a Argentina (US$ 1,1 bilhão nos quatro primeiros meses do ano – era de US$ 920 milhões no mesmo período do ano passado – e US$ 4.2 bilhões nos últimos 12 meses). Pelo critério do Bresser, o Brasil tem um câmbio desvalorizado contra a Argentina, certo?
Agora, segundo o mesmo Brresser, a Argentina segue uma boa política econômica porque mantém o câmbio desvalorizado com relação aos EUA.
Pela transitividade, o real deveria estar ainda mais depreciado que o peso argentino com relação ao dólar, mas o Bresser reclama do câmbio apreciado.
Lógica não é o forte dele.
Olá Alex,
Qual o lado negativo do grau de investimento?
Agradeço desde já.
Abs,
E o que é que o Bresser escreveu na última década que não tenha sido idéia do Nakano?