É chegado o mês dos agouros e das maldições. Por Aylê-Salassié F. Quintão*
É chegado o mês dos agouros e das maldições
Aylê-Salassié F. Quintão*
… Em agosto, os brasileiros vão estar, portanto, diante do julgamento de um Presidente, por corrupção, ou da maldição que o cargo de vice -presidente carrega, no Brasil, desde a Proclamação da República.
Agosto está chegando: semana que vem. É conhecido como o mês dos agouros e dos azares. As igrejas e os terreiros de umbanda ficam cheios de políticos pedindo proteção. Distraídos, este ano, entretanto, os partidos e os potenciais candidatos parecem muito mais preocupados com as coligações e a apropriação do tempo de televisão. Contudo, 100 parlamentares, pelo menos, com rastros na Lava Jato, vão ser julgados pelas urnas.
O governo. Esse nada como um cisne em águas turvas, aproveitando os recessos do Legislativo e do Judiciário, cujos membros retornam as atividades logo no início do mês. Agosto, ora! Isso é uma crendice. Vale lembrar que Getúlio suicidou-se em agosto, Dilma caiu em agosto, o embaixador Sérgio Vieira de Melo foi vítima do terrorismo em agosto, a segunda guerra começou em agosto, as bombas atômicas que explodiram no Japão aconteceram em agosto e outros milhares de eventos dramáticos ocorrem nesse malfadado mês.
Há semanas, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, manifestou-se a favor de um pedido da Polícia Federal para prorrogar por 60 dias a remessa ao Supremo dos resultados do inquérito que apura a assinatura, pelo Presidente Temer, de um decreto que beneficia a Rodrimar, empresa de transporte marítimo administrada com o apoio de amigos seus. Em troca, o Presidente teria sido contemplado com a reforma, gratuita, da casa de sua filha em São Paulo. O processo pode entrar em pauta no Supremo já em meados de agosto. A denúncia está praticamente pronta.
Desde que tomou posse como Presidente, o vice Temer está na berlinda. No ano passado os analistas políticos profetizaram o seu impedimento, após a análise, no Judiciário, de denúncia do Ministério Público, contra o Presidente.
Por meio de ardis sucessivos, o Congresso negou, duas vezes, dar autorização ao STF para julgá-lo. Temer era acusado de receber propinas de empresários, em encontros reservados dentro do Palácio do Jaburu, residência oficial. Em seguida por irregularidades cometidas pela chapa Dilma-Temer. A responsabilidade do exame das acusações vindas da Procuradoria está agora entre os ministros Edson Fachin e Alexandre de Morais . A entrega do processo ao Supremo estava marcada para 2 de agosto. Por mandingas mais da política, Temer se safou. Ficou para uma data entre 15 e 20 de agosto.
… O 13 de agosto é lembrado como o dia de todos os Exus no candomblé brasileiro, que o cristianismo descreve como o dia dos maus agouros. O 24 de agosto, em particular, é adotado em quase todo o mundo como o “Dia do Azar”.
Embora o Presidente e os demais envolvidos aleguem inocência, a questão agora é saber se Temer terá condições de conquistar uma maioria parlamentar para barrar o julgamento pelo STF, provavelmente em agosto. Os congressistas estão preocupados apenas com as eleições e com os mandatos. Cerca de 180 deles estão arrolados nos processo de corrupção da Lava Jato. Pelo menos 100 pleiteiam a reeleição.
Será, portanto, complicado para o vice Temer reunir votos para repetir a façanha anterior, que desautorizou o Supremo a julgá-lo. Com a baixa popularidade de Temer, a maioria dos parlamentares não quer ser vista sequer como próxima ao governo. Para se safar , Temer terá de recorrer ao tapetão, como fez no Superior Tribunal Eleitoral .
Esse imbróglio deve ocorrer no mês de agosto, marcado sistematicamente por centenas de acontecimentos aterrorizantes em muitos países. O 13 de agosto é lembrado como o dia de todos os Exus no candomblé brasileiro, que o cristianismo descreve como o dia dos maus agouros. O 24 de agosto, em particular, é adotado em quase todo o mundo como o “Dia do Azar”.
Em agosto, os brasileiros vão estar, portanto, diante do julgamento de um Presidente, por corrupção, ou da maldição que o cargo de vice -presidente carrega, no Brasil, desde a Proclamação da República.
Em 50 dos 129 anos republicanos, o país foi governado por vices.
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Aylê-Salassié F. Quintão* – Jornalista, professor, doutor em História Cultural. Vive em Brasília.
Caráio, rapaz. Teu pai era mesmo admirador de figuras esquisitas como indica o teu nome daquele baixinho que veio das Áfricas, com o devido respeito. Carregar esse nome já te dá um by pass direto pro céu. S. Pedro vai te dizer o mesmo que disse pra Teresa no poema do Manuel Bandeira “… entre Teresa, vc não precisa pedir licença”.