Notícia Requentada. Por Meraldo Zisman
Notícia Requentada
Meraldo Zisman
…Conto nos dedos os debates entre economistas, cientistas políticos e peritos em disciplinas afins que analisaram os efeitos da desigualdade do acesso à saúde e à educação sobre a produtividade e a renda, bem como as consequências da desigualdade de oportunidade causada pela discriminação de sexo ou étnica…
É de se estranhar a pequena divulgação da crise econômica pela qual passamos hoje e de sua repercussão na Saúde. O assunto é discutido sem muito destaque nas mídias, sejam elas profissionais ou sociais. Os serviços públicos e privados de saúde no Brasil são péssimos, ruins ou regulares para 93% dos brasileiros.
A sensação também é de insatisfação em relação ao Sistema Único de Saúde (SUS), segundo 87% da população. Essa avaliação negativa integra pesquisa inédita realizada pelo Instituto Datafolha a pedido do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Paulista de Medicina (APM).
Há uma aparente relação entre renda e expectativa de vida. Nos países mais pobres os aumentos da renda média estão fortemente associados ao aumento da expectativa de vida; mas quando a renda per capita sobe, essa vinculação diminui e é bem mais fraca ou mesmo ausente nos países ricos. Apesar de que, na população mais pobre dos países mais ricos, a relação entre renda e expectativa de vida é semelhante àquela encontrada nos países mais pobres.
Em relatório recente, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) analisa e mede os efeitos da desigualdade de acesso à saúde e à educação sobre a produtividade e a renda, bem como as consequências da desigualdade de oportunidades causada pela discriminação, em razão do sexo ou da condição étnico-racial.
Também examina como tais desigualdades se refletem no território, na infraestrutura e na dinâmica urbana, gerando custos não só em termos de produtividade, mas também de ineficiência energética e deterioração do meio ambiente, o que compromete as possibilidades de desenvolvimento das gerações futuras. Conferir: https://ideas.repec.org/b/ecr/col016/43569.html.
… Num país de dimensões continentais como o Brasil, com seus desníveis regionais berrantes, é essencial que se debata a importância dessas desigualdades na infraestrutura, na dinâmica urbana/rural, gerando custos não só em termos de produtividade ou de ineficiência energética.
O problema ainda é agravado pela alta taxa de desemprego que assola a sociedade brasileira. Isso faz com que esses desempregados (13 milhões) e seus dependentes estejam entre os mais vulneráveis.
Os próprios economistas, quando realizam painéis ou reuniões, poucas vezes debatem ou mesmo mencionam esse fato. Conto nos dedos os debates entre economistas, cientistas políticos e peritos em disciplinas afins que analisaram os efeitos da desigualdade do acesso à saúde e à educação sobre a produtividade e a renda, bem como as consequências da desigualdade de oportunidade causada pela discriminação de sexo ou étnica.
Num país de dimensões continentais como o Brasil, com seus desníveis regionais berrantes, é essencial que se debata a importância dessas desigualdades na infraestrutura, na dinâmica urbana/rural, gerando custos não só em termos de produtividade ou de ineficiência energética.
O relato de Robert Fogel (1926-2013), prêmio Nobel de Economia (1993) sobre os aspectos econômicos e a história da saúde no final do século XVIII na Inglaterra e França, conclui que sendo a produção de alimentos baixa, e considerando sua provável distribuição entre as pessoas, talvez um quinto da população fosse incapaz de trabalhar mais do que algumas horas por dia. Essas pessoas eram cronicamente desnutridas, de estatura baixa, e morriam bastante jovens. A partir do século XX, a ampliação da produtividade na agricultura marcou o começo da melhoria da saúde e da vida mais longa.
A questão é que a mídia – como a conhecemos – não foi feita para divulgar e sim para encobrir as notícias. O tema da fome ancestral, embora já seja notícia requentada, é da maior importância neste instante de crise que estamos atravessando.
O fato é que a mídia não omite tais noticias por acaso; elas são esquecidas ou camufladas deliberadamente.
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE).
MAIS UMA VEZ, DR. MERALDO, A TUA CRÔNICA FOI DIGNA DE ENCHER A TELA DO LEITOR!
ESSE É O “RASCUNHO DO INFERNO” QUE VIVE A NANÇAO BRASILEIRA. CORAJOSO DOTOR.PARABÉNS.