The End. Coluna Mário Marinho. Especial Copa do Mundo
COPA DO MUNDO – ESPECIAL
The End
COLUNA MÁRIO MARINHO
Como se fosse um filme, esperei até o momento final que um pezinho abençoado chutasse a bola para dentro do gol de Cortois que parecia o gigante Ciclope que infernizou a vida de Krik Douglas no filme “Ulysses” mas que foi batido no final.
Esperei que aparecesse por ali a Sétima Cavalaria que tantas vezes salvou John Wayne quando ele se encontrava cercado de índios nos faroestes que tanto curti.
Mas, nada disso aconteceu.
Ninguém salvou a mocinha sequestrada pelos bandidos.
Brasil x Bélgica era, e foi, o encontro de suas ótimas seleções, com ótimas campanhas nesta Copa.
O Brasil jogou bem. Mas, bem não foi o bastante.
Num duelo como esse, é preciso jogar muito. Jogar bem apenas, perde-se por 2 a 1.
Jogando mais, jogando muito, poderia chegar-se ao empate que leva à prorrogação ou até mesmo à vitória.
E não estou aqui dizendo que os jogadores brasileiros não se empenharam, não lutaram, que Tite não tentou acertar o time.
Tudo isso aconteceu.
Só que do outro lado estava um time de gigantes, de Cíclopes. E ao contrário do olho único do Cíclope, a Bélgica parece um monstro de muitos olhos.
Seus jogadores se enxergavam em campo e se encontravam, principalmente nos passes longos, de bolas de um lado para o outro, deixando atônita nossa defesa.
Incrível a velocidade de Lukaku com quase dois metros de altura e quase cem quilos de peso. Em sua arrancada, deixou para trás, muitas vezes, o leve Miranda.
Acho muito ridícula a frase “caiu de pé”.
Mas é o caso.
O Brasil buscou o gol adversário.
Encontrou pela frente sempre uma de arvores vermelhas, assustadoramente móveis e ágeis.
E quando essa barreira foi batida, poucas vezes, apareceu o outro gigante, Curtois.
A defesa que ele fez na última bola chutada por Neymar, foi de cinema. O chute preciso, batido com o lado de dentro do pé, a bola descrevendo uma curva que, em situações normais, faz com que ela vá saindo do alcance do goleiro.
Em situações normais. Não era o caso, pois lá estava o gigante de borracha se espichando.
Enfim, o triste “The End” – o fim – para nós brasileiros.
A
Inesquecível
Capa
Como acontece quase todo mês de julho, o excelente amigo e espetacular fotógrafo Reginaldo Manente me telefona.
Não nos cansamos nunca do assunto: a capa do Jornal da Tarde de 6 de julho de 1982.
A foto que você vê acima, do menino segurando heroicamente o choro, queixinho constrito, olhar triste, peito estufado ostentando orgulhosamente a camisa do Brasil foi feita pelo Manente, lá em Barcelona, no estádio Sarriá, onde o Brasil foi batido pela Itália, 3 a 2, e eliminado da Copa.
Foi a grande Seleção dirigida por Telê Santana que encantou o mundo com seu futebol quase mágico.
Eu era o Chefe de Esportes do Jornal da Tarde.
Assisti ao jogo em casa, que foi disputado na hora do almoço, no horário brasileiro.
Terminado o jogo, fui para a redação do JT pensando que título daria.
Falar que o Brasil havia sido derrotado ou simplesmente que estava fora da Copa era chover no molhado.
O JT era um jornal que não aceitava esse tipo de obviedade.
Pouco depois de chegar à redação, recebi do Departamento Fotográfico as telefotos que vieram da Espanha.
Fui olhando foto por foto, quando a expressão chorosa do menino me chamou a atenção.
Ele estava ao lado da mãe dele e de outro torcedor.
Chamei o chefe da fotografia, José Bento Lenzi, e pedi uma cópia daquela foto cortando as pessoas que estavam ao lado.
Trabalhando comigo no fechamento do caderno de Esportes estavam dois outros jornalistas: Sandro Vaia e Anélio Barreto.
Disse para eles, mostrando a foto antes mesmo de ser ampliada:
– Eis aqui a nossa Capa.
– Qual a sua ideia? – o Sandro me perguntou.
– A página inteira para o menino.
Era uma época que não havia computadores, não dava para fazer uma simulação de página ou recorrer ao photoshop. Era fazer e fazer.
Aquela Capa deu ao Jornal da Tarde seu recorde, jamais batido, de venda: 200 mil exemplares.
Ontem o Manente me ligou e batemos um longo papo.
Mas, não esperava nem queria publicar novamente essa Capa.
Porém, aí está, como homenagem a essa Seleção.
Foi um time que jogou bem. Mas, repito, o bem nem sempre é o suficiente.
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– Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
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