O eleitor é apenas um detalhe. Coluna Carlos Brickmann

O ELEITOR É APENAS UM DETALHE

COLUNA CARLOS BRICKMANN
EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA,
 4 DE JULHO DE 2018

Temos, hoje, 28 pré-candidatos à Presidência da República. Quem tem 28 candidatos não tem nenhum – a menos que ache que os três maiores partidos do país vão disputar o jogo de buraco (o que é melhor do que disputar o rouba-monte, mas também não resolve nada). Um partido quer porque quer registrar um presidiário, que não atende às especificações da Lei da Ficha Limpa; outro insiste num candidato que tem dinheiro para a campanha, mas é pobre de votos; o terceiro gira em torno do cacique que venceu várias eleições em São Paulo, mas não consegue cruzar fronteiras – tanto que o partido que preside só não o substitui por falta de substituto.

Há nomes que despontam bem: Bolsonaro, Ciro Gomes, Marina. Marina sempre desponta bem e despenca melhor. Bolsonaro não tem tempo de TV nem para dizer “meu nome é Bolsonaro”. E Ciro, que negocia com vários partidos, da esquerda à direita, sempre vai bem até falar o que não deve.

O fato é que os partidos ainda não marcaram a data das convenções. E o site Diário do Poder (www.diariodopoder.com.br), que analisou as pesquisas, concluiu que 64,5% dos eleitores não optaram por qualquer dos candidatos. Quase 40% dos eleitores aguardam novos nomes; os restantes parecem decididos a votar nulo. E os eleitores já definidos são apenas 35%.

Qualquer previsão, nesse terreno instável, tende a falhar. Os candidatos tentam articular-se politicamente – mas quem irá cuidar dos eleitores?

Ele é o bom

O ex-governador Alckmin, que tem intenções de voto expressas em um só algarismo, se diz otimista com o quadro eleitoral: garante que já se aliou a quatro outros partidos que, somados ao seu PSDB, lhe dão 20% do tempo da TV. Quais são esses partidos? Ele não diz. Mas conta vantagem: “Nenhum pré-candidato tem o apoio de dois partidos. Nenhum – exceto eu, que tenho cinco”. Diz também que nenhum desses partidos é o DEM – sorte dele, já que o DEM, velho aliado do PSDB, tende a dar apoio a Ciro.

Esquerda geral

O movimento pró-Ciro é tão forte que um intelectual brizolista, o professor Roberto Mangabeira Unger, já deu entrevista dizendo que o DEM é mais esquerdista que o PSDB – isso, o DEM de Antônio Carlos Magalhães. Mangabeira acha que Ciro, que foi integrante do PDS, dirigido à época por Maluf, é também esquerdista. Ciro tem boas possibilidades de conquistar ainda o apoio do PSB, antes prometido a Alckmin. Mas Alckmin tinha prometido apoiar a candidatura de seu vice, Márcio França, ao Governo paulista; agora age como se nada tivesse a ver com a promessa.

E não é que tem razão?

O chefe da Casa Civil do presidente Temer, Eliseu Padilha, cacique dos fortes do PMDB, disse que se a convenção nacional do partido se realizasse agora, a candidatura de Henrique Meirelles seria confirmada sem nenhuma dúvida. “Hoje não tem disputa”, disse Padilha.

O problema é que, com os raquíticos índices que Meirelles apresenta, não haverá disputa também nas eleições. A propósito, Padilha deve ser lido com atenção: se a convenção do PMDB se realizasse agora, Meirelles seria o candidato. Só que o PMDB não marcou ainda a convenção. Até marcá-la, quem sabe a fila anda?

A força do candidato

Meirelles tem uma proposta que agrada o PMDB: pagar a sua campanha com seu dinheiro. Com isso, os recursos do financiamento público ficam para candidatos a outros cargos, que não precisarão financiar o presidente.

Os bens da família Lula

O patrimônio da família do ex-presidente Lula, revelado por seus advogados no processo de inventário da falecida esposa Marisa Letícia, e divulgado por esta coluna no domingo, dia 1º (em http://www.chumbogordo.com.br/19556-rol-dos-bens-da-familia-lula-da-silva/), soma perto de R$ 13 milhões.

Muito ou pouco? Não dá para dizer: se multiplicarmos o salário do presidente por 104 (oito anos, mais os 13ºs), considerando-se que ele não tenha tido qualquer despesa nesse período, chegaremos a pouco mais de R$ 3 milhões, sem considerar o rendimento das aplicações. Há também possíveis ingressos provenientes de palestras, que Lula informa ter proferido. Em resumo, apenas com os dados disponíveis, não é possível dizer se os rendimentos foram ou não superiores ao habitual. É preciso ainda considerar que o valor venal das propriedades não costuma coincidir com o valor de mercado, normalmente mais elevado.

Salvando vidas

A partir de agora, o telefone 188 está destinado, em todo o território nacional, a apoiar pessoas que pensam em suicidar-se. Nos moldes do CVV, Centro de Valorização da Vida, há voluntários bem treinados para conversar com possíveis suicidas e estimulá-los a continuar vivendo. É uma experiência muito bem sucedida que se estende ao país inteiro.

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1 thought on “O eleitor é apenas um detalhe. Coluna Carlos Brickmann

  1. O jornalista Carlos Brickmann presta um relevante serviço a toda a sociedade ao divulgar a recentemente firmada parceria entre o Ministério da Saúde e o CVV. É digna de nota, e sob todos os aspectos elogiável, a universalização do serviço oferecido por esta instituição. Na clínica psiquiátrica são recorrentes as histórias de pessoas em estado de grande sofrimento afetivo ou emocional que precisam saber-se objeto da atenção de alguém e, não a encontrando, antecipam o próprio fim. Como se sabe, encontrar do outro lado da linha um anônimo que está disposto a não discordar ou disputar opiniões, a apenas ouvir para oferecer compreensão, é fato que traz, por si só, alívio a quem quer saber que seu sofrimento não se passa em completa solidão. Isso é o mais importante no momento da crise emocional mais profunda, quando um ser humano apenas necessita de outro, e nem sempre o encontra no círculo de suas amizades ou em seu meio familiar (quando deles ainda dispõe, o que raramente ocorre: na maioria, suicidas são pessoas solitárias, abandonadas, normalmente afetiva e intelectualmente desprezadas). É, porém, para evitar mal-entendidos e esperanças infundadas, importantíssimo que se esclareça o seguinte: as causas de um suicídio, tão variadas quanto de difícil identificação, devem ser tratadas por profissionais competentes para tal. A oferta do apoio e da companhia em voz encontrados numa linha telefônica tem lugar absolutamente essencial na tarefa da Saúde Pública para evitar o maior número possível de consumação de casos, mas o que definitivamente oferece estabilidade emocional e racional necessárias à restauração do equilíbrio do paciente em seu meio é o correto diagnóstico e a indicação da mais adequada terapêutica para cada caso, coisa que envolve o prosseguimento de psicoterapia e a administração de medicação eficaz, de preferência não muito depois do atendimento telefônico. O atendente do CVV, normalmente bem preparado, cuidadoso e meticuloso em seu diálogo com o suicida potencial, não pode ser o único agente dessa atenção especial a quem dela precisa. A rede pública de saúde precisa equipar-se mais e melhor para que esse prosseguimento terapêutico inter e multidisciplinar possa se apresentar ao paciente o mais rapidamente possível. A recente parceria entre o Ministério da Saúde e o CVV é fato alvissareiro, aponta para os inícios de uma política mais atenta às necessidades desses pacientes tão especiais, mas é preciso ir além, habilitando todos os postos de saúde do país, por meio da contratação e alocação de profissionais capacitados a oferecer tal prosseguimento, fato hoje ainda infelizmente muito longe de se realizar. Torçamos, pois, para que os próximos passos venham rapidamente.

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