Vista sua camisa amarela. Coluna Mário Marinho. Especial Copa do Mundo

COPA DO MUNDO – ESPECIAL

 

Vista sua camisa amarela

COLUNA MÁRIO MARINHO

A Seleção Brasileira é, sem dúvida alguma, uma das muitas paixões nacionais. Acredito que é a principal, aquela que aglutina 99,9% do povo brasileiro.

Mas, como estamos numa época de pouca paciência e de muita intolerância vejo que essa situação chega ao futebol e, principalmente, à Seleção.

Aliás, da mesma forma que o futebol já foi usado e é usado como escada para muitos arrivistas subirem na vida, a Copa do Mundo é prato cheio para manifestações políticas de todas as matizes.

A frase “o futebol é o ópio do povo” é tão antiga e surrada como repetir que o futebol é uma caixinha de surpresas.

Antigamente – talvez nem tão antigamente assim – os políticos percorriam bairros e distribuíam camisas para times de futebol locais em troca de votos. Mais tarde, saíram as camisas e entraram as dentaduras, os sacos de cimentos e outras moedas para compras de votos ou tentativas de.

Dias desses, li respeitado jornalista no Facebook explicitando sua torcida contra o Brasil porque, segundo pensamento dele, a vitória na Copa representaria a vitória da corrupção.

Ledo engano, penso eu.

Se perder Copa resolvesse o problema da corrupção, o Brasil seria um país de causar inveja aos suíços. Afinal, estamos disputando nossa 21ª Copa do Mundo e ganhamos míseras cinco.

Muito mais perdemos do que ganhamos.

E o que mudou com isso? Nada, absolutamente nada. Zero.

Ah!, diz aquele outro, enquanto você fica aí ligado em Copa do Mundo, o País está tomado pela corrupção, a saúde pública é um lixo, não temos segurança… e segue o desfilar de problemas com os quais vivemos há séculos, antes mesmo da criação do futebol. E mais ainda da Copa do Mundo.

E quem garante que se deixarmos de disputar a Copa do Mundo esses problemas serão resolvidos?

Estamos diante daquela frase clássica: “Uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa”.

Você fica aí sofrendo com o futebol, enquanto os jogadores só pensam em dinheiro, carro e mulheres (não necessariamente nessa ordem).

E quem é que não pensa?

Quem não quer um belo carro, um monte de dinheiro e o amor certo no lugar certo ou, até mesmo, certos amores em certos lugares?

Por que não?

Os jogadores são milionários, nem ligam para a camisa, para o Brasil.

Bobagem, ligam sim.

Ninguém quer perder uma competição. Até porque, vencer significa mais dinheiro em forma de patrocínios, de possibilidades de investimentos etc.

Quem é rico, milionário ou miliardário quem mais tem, sempre quer mais. Às vezes, até percorrendo caminhos não muito corretos ou explicitamente errados. Maluf que o diga. Símbolo melhor não há.

Fui de camisa amarela à avenida Paulista em uma das manifestações favoráveis ao impeachment da Dilma.

Logo foi marcado por patrulheiros de plantão no Facebook. Como você tem coragem de usar essa camisa amarela da CBF, entidade corrupta!

Respondi simplesmente: a camisa amarela é minha e não da CBF; ela representa o futebol pelo qual sou apaixonado e não qualquer dirigente da CBF.

E olha que muitos desses patrulheiros usam camisa vermelha com aquela estrela, daquele partido que tem muitos de seus gurus na cadeia. E por qual crime? Corrupção.

Por falar em cadeia, lembro-me do depoimento do jornalista Fernando Gabeira, em seu livro “O que é isso, companheiro”, onde ele descreve o drama dos prisioneiros políticos em 1970, naqueles anos de chumbo. Nas masmorras, onde ele e outros companheiros eram torturados, viviam um drama: torcer para o Brasil ganhar a Copa do México ou não?

Vencer significava apoiar a ditadura ou não?

O título de tricampeão do mundo daria mais força ao militarismo ou não?

O drama foi resolvido assim que conseguiram um radinho de pilha para acompanhar jogos e vibrar com as vitórias brasileiras.

Então, meu amigo, vista sua camisa amarela.

Vá curtir seu futebol.

Vibre com os gols de Neymar; com os chutes indefensáveis do abençoado pé direito do Philippe Coutinho; com as aparições de surpresa do Paulinho; torça para que o William esteja num bom dia, pois futebol não lhe falta; que o Fagner defenda com a raça que o caracteriza; que o Alisson saia do gol no momento certo; que o Miranda não seja empurrado no exato momento de subir para cabecear; que o Thiago Silva acerte a cabeçada na bola cruzada pelo Neymar; que o Marcelo esteja recuperado ou que seu substituto, Felipe Luís, jogue tão bem como o fez no jogo contra a Sérvia; que o Casemiro continue desarmando e começando jogadas com a competência e seriedade que mostrou até agora; que o Gabriel Jesus, com aquela cara de bebê chorão, finalmente desencante e faça os gols para que possa comemorar telefonando para a mamãe.

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FOTO SOFIA MARINHO
MARIO MARINHO, Copa do Mundo Especial CHUMBOGORDO
Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo, foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, além de participação em inúmeros livros e revistas do setor esportivo.
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS
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